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Encefalopatia é tema de finalista do Prêmio EURO
Nutricionista pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Doutora em Fisiopatologia pela mesma instituição, Laís Augusti é uma das 100 finalistas do Prêmio EURO Inovação na Saúde, concorrendo com o projeto "Qual dos aminoácidos de cadeia ramificada aumenta o fluxo cerebral na encefalopatia hepática? Ensaio clínico randomizado e duplo-cego".
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
Nosso projeto foi um ensaio clínico desenvolvido na Unidade de Pesquisas Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (UPECLIN). Foram recrutados pacientes com cirrose e encefalopatia hepática (EH), uma complicação neurológica da doença, dos ambulatórios de Hepatologia do Hospital das Clínicas de Botucatu. Durante 52 semanas os pacientes receberam, de forma aleatória, sachês de suplementação dos aminoácidos de cadeia ramificada (AACR), leucina ou isoleucina. Foram submetidos a exames de imagem neurológicos e avaliações periódicas (clínicas, laboratoriais, nutricionais, questionário de qualidade de vida) a fim de acompanhar os impactos da suplementação.
O que são os aminoácidos de cadeia ramificada (AACR)?
Os aminoácidos de cadeia ramificada são considerados aminoácidos essenciais por não serem produzidos no organismo. Dessa forma, suas necessidades devem ser supridas pela alimentação. No entanto, para atuar de forma significativa no tratamento da EH, são necessárias altas doses desses aminoácidos – em torno de 30g. Essa quantidade só pode ser suprida por meio de suplementos alimentares.
Por que o uso desses aminoácidos?
Na EH, por causa da disfunção do fígado, há uma grande concentração de amônia nos neurônios. Isso causa o agravamento da situação clínica desses pacientes. Nesse sentido, os aminoácidos de cadeia ramificada são usados como terapia adjuvante para aumentar a conversão de amônia em ureia. Apesar da eficácia bem estabelecida na literatura, os mecanismos ainda não foram totalmente explicados.
Como se deu o interesse em trabalhar com o assunto?
Durante a faculdade sempre me interessei pela terapia nutricional, como forma de atuar no tratamento de diversas doenças, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes. No mestrado me aprofundei nas avaliações de pacientes cirróticos com encefalopatia hepática por se tratar de uma população em que a avaliação nutricional e o tratamento com dietas são fundamentais, e que possuíam poucos dados publicados na área de Nutrição. No doutorado, desenvolvemos esse projeto para tentar atuar de forma significativa na melhora clínica desses pacientes por meio da suplementação nutricional.
Qual o objetivo da pesquisa?
O objetivo do nosso projeto foi avaliar os efeitos na perfusão cerebral dos aminoácidos de cadeia ramificada leucina e isoleucina no tratamento da EH em pacientes cirróticos, bem como comparar seus efeitos na melhora clínica, na composição corporal e na qualidade de vida dos pacientes.
Qual a importância do seu trabalho para a realidade brasileira?
A cirrose hepática é uma doença grave com alta prevalência no Brasil e no mundo. Estudos mostram que mais de 30% dos pacientes com cirrose desenvolvem encefalopatia hepática. Para esses pacientes a sobrevida média é em torno de 42% em 1 ano e de 16% a 22% após 5 anos. Considerando as poucas opções terapêuticas disponíveis para o tratamento da doença, descobrir qual o aminoácido mais eficiente e por qual mecanismo ele atua na melhora clínica da doença é muito importante.
E no âmbito internacional?
Com certeza. A encefalopatia hepática é estudada por todo o mundo e há uma busca constante por alternativas que possam melhorar o prognóstico desses pacientes. O nosso estudo foi capaz de sugerir um dos mecanismos pelo qual há a melhora da perfusão cerebral com os aminoácidos de cadeia ramificada, além de recomendar uma possível mudança de conduta na proporção utilizada dos aminoácidos.
O que ele traz de diferente daquilo que já é visto na literatura?
Os resultados do nosso ensaio clínico demonstraram que, apesar do tratamento com leucina e isoleucina terem exercido os mesmos efeitos para a composição corporal e a qualidade de vida, o tratamento com isoleucina apresentou melhores resultados quanto ao aumento da perfusão cerebral e a melhora do grau da EH do que os obtidos pelo tratamento com leucina.
A melhora clínica observada foi bastante significativa. Alguns pacientes voltaram a andar, se comunicar melhor com a família e praticar atividades das quais estavam afastados. Nesse sentido, sugerimos que pacientes com cirrose e EH devam receber suplementos enriquecidos com um nível mais elevado de isoleucina do que leucina. Os resultados inéditos foram publicados na NeuroImage Clinical, um dos periódicos de maior impacto na área.
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Qual a importância do apoio da CAPES?
O apoio da CAPES foi fundamental para a realização do meu doutorado e do projeto. Por ser um trabalho longo e bastante intenso, ter recebido a bolsa durante a sua execução foi o que me possibilitou estar fora da minha cidade natal e me dedicar exclusivamente à todas as suas etapas necessárias.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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