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Em Cuba, bolsista mostra vínculo entre extensão e desenvolvimento sustentável
Daniel Keller tem toda sua educação superior vinculada à Universidade Feevale. É graduado em Design de Moda e Tecnologia e mestre em Processos e Manifestações Culturais, mesmo programa de pós-graduação em que faz doutorado. Recebeu bolsa da CAPES no mestrado e é mais uma vez beneficiário da Fundação na etapa atual.
Explique o trabalho divulgado em Cuba.
A pesquisa apresentada trata da consolidação de informações colhidas a partir de documentos formais e informais a respeito de uma homenagem à Zuzu Angel acontecida no Museu Nacional do Calçado em 2021, em formato de exposição de roupas. Foi feita a análise documental sobre a ação extensionista de documentos legais a respeito da curricularização da extensão no ensino superior brasileiro e de como essas exigências governamentais têm afetado o ensino de moda e design.
O projeto da exposição foi pensado para propor uma perspectiva crítica desde a sua concepção, elegendo o centenário de nascimento de uma estilista que foi vítima da ditatura militar no Brasil. A partir disso, acadêmicos do curso de Moda da Feevale puderam ocupar o espaço comunitário do Museu Nacional do Calçado com produções próprias inspiradas no tema da exposição. Por ter sido realizada através do projeto de extensão “Moda e Inclusão”, com orientação da professora Claudia Schemes, foi proposto que os acadêmicos desenvolvessem um projeto de design focado na acessibilidade de pessoas deficientes visuais.
O projeto para construir a exposição fez uso de perspectivas de acessibilidade, incluindo usuários (neste caso, pessoas com alguma deficiência visual) em diversas etapas que o constituíram, reforçando a ideia de “fazer com eles”. A partir desta experiência, entendemos que é tão importante viabilizar o acesso tátil e auditivo ao acervo de exposições em museus, quanto que as universidades estejam conscientes do seu papel na inclusão e, consequentemente, da transformação social. Por isso, é fundamental que compreendam a importância de criar acessibilidades para que os mais diversos públicos ocupem seus espaços, sejam eles científicos, de preservação do patrimônio e de expressões culturais como é o caso do Museu Nacional do Calçado. Diante disso, entendemos que não se tratou de uma adaptação da exposição ao público de pessoas deficientes visuais, mas de um projeto de design que colocou a pessoa com deficiência visual no espaço central de demandas do início ao fim, demandando configurações e dispositivos de modo a propor uma reestruturação do status quo daquela comunidade, fazendo circular as instâncias de centralidade de poder.
O trabalho foi apresentado em Cuba, com apoio complementar da Universidade Feevale, durante o 14º Congresso Internacional de Educação Superior, no Simposio: Extensión universitaria, compromiso y transformación social para un desarrollo sostenible. Acreditamos que divulgar o ensino superior brasileiro dentro e fora do país fortalece a imagem de excelência do trabalho realizado pela nossa ciência.
Qual a importância da extensão para que a sociedade saiba o que é produzido na academia?
A extensão vem se mostrando a face mais sensível da universidade frente à realidade e serve como ponte entre as outras instâncias acadêmicas aos cernes das organizações sociais. Temos visto diversos trabalhos, científicos ou não, comprovando a eficácia de ações de designers e de estilistas na transformação social, mostrando-se como mercados de alta empregabilidade (inclusive para mulheres e outras identidades de gênero) e de baixo investimento para inserção. Diante da oportuna intersecção entre os campos, existe um terreno vasto a ser explorado pela ciência não apenas para divulgar suas produções, mas para estar próxima e atenta à sua comunidade e às demandas inerentes a ela. Assim, penso que a extensão atinge um caráter distinto, de proporcionar fluxos de informações entre o que acontece dentro e fora da academia.
Para que estas atuações acadêmicas se sustentem, entendo que seja importante a valorização de ações extensionistas no que tange a aspectos práticos da academia, como igualdade na pontuação entre projetos de extensão e projetos de pesquisa, na inserção de critérios específicos para validação e avaliação Qualis de revistas científicas que se dedicam exclusivamente a divulgar projetos de extensão, no crescente fomento e valorização (interna e externa) de eventos de extensão frente a outros modelos de apresentação de trabalho. Penso que ações como estas seriam contrapartidas importantes para a crescente dedicação de cientistas em projetos de extensão.
O quanto o pesquisador precisa ter a Agenda 2030 em mente para realizar suas pesquisas?
A Agenda 2030 é uma ferramenta importante para nortear as ações de pesquisa, ensino e extensão, uma vez que ela reúne as demandas que atuam em prol dos objetivos de desenvolvimento sustentável em nível global. Ter projetos de extensão integralizados ao ensino e à pesquisa e alinhados à Agenda 2030 oportuniza uma perspectiva de prazos mais largos e de resultados mais profundos nas comunidades em que as universidades atuam. Cientistas, empresários ou cidadãos comuns têm a condição de produzir saberes, produtos e conhecimentos em prol da preservação e valorização da vida ao trilhar esse caminho.
Qual a importância da CAPES em sua formação?
Quando entrei no mestrado, em 2014, meu objetivo era dar continuidade às pesquisas em Gênero e Identidade que a Feevale já vinha desenvolvendo. Receber a bolsa CAPES abriu muitas portas para mim. Quase sete anos após a conclusão do mestrado, em 2023, decidi voltar ao mesmo programa, agora para fazer doutorado. Depois de passar por um processo seletivo bem rigoroso, novamente um projeto meu conquistou uma bolsa CAPES. Desta vez, tenho a oportunidade de explorar o design social em suas mais diversas áreas: na práxis do designer, no mercado, na educação universitária, na disseminação de saberes e tantos outros espaços em que os artefatos conseguem criar uma outra lógica de realidade.
Estudar com bolsas, especialmente da CAPES, me deu a liberdade e a confiança de seguir adiante, continuar aprendendo e ajudar mais pessoas a terem acesso à educação e às transformações que ela proporciona. Apesar de saber das desigualdades no acesso à educação, continuo empenhado em fazer o possível para promover uma vida digna e garantir que mais pessoas tenham acesso à formação. Acredito que a ciência é uma ferramenta poderosa para reduzir as desigualdades do mundo. E é por isso que entendo, na prática, que a CAPES vai além de uma agência de financiamento, sendo uma facilitadora de transformações e oportunidades de vida.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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