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Ecologia urbana para cidades mais sustentáveis
Gabriela Rosa é graduada em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Arquitetura e Planejamento Paisagístico e doutora em Ecologia, Evolução e Biodiversidade pela mesma instituição. Em sua pesquisa de doutorado, a bolsista desenvolveu um projeto de ecologia urbana para cidades mais sustentáveis, integrando soluções baseadas na natureza, na percepção humana e no conhecimento sobre como a paisagem urbana influencia nas comunidades de aves. Ela formou a Equipe Araucária, que venceu o Campus Challenge 2030, uma competição internacional organizada pela Unesco, AUF e Agorize.
Fale sobre sua trajetória acadêmica.
Desde criança, sempre fui apaixonada pela natureza. Eu costumava viver em um lugar próximo à Mata Atlântica de São Paulo, onde há uma biodiversidade incrível. Minha primeira experiência com Ecologia no âmbito científico foi durante o meu primeiro ano no ensino médio, quando participei de um projeto de extensão chamado Ecologia de Campo. O grupo costumava se reunir todas as sextas-feiras à tarde para discutir e buscar soluções para problemas ambientais. Devido a essa experiência, decidi fazer o curso de Bacharelado em Ecologia na Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho). Durante a graduação, surgiu meu interesse pela área no tema de Ecologia Urbana e planejamento urbano, durante a disciplina de Ecossistema Urbanos. O meu segundo contato com o tema foi a subárea da Ecologia Urbana durante o meu intercâmbio na Itália, na Universidade de Bolonha, pelo programa Ciência sem Fronteiras. Durante o ano letivo, fiz duas disciplinas que mesclavam Arquitetura, Ecologia e planejamento de paisagem: Progettazione e Pianificazione Paesaggistica (Projeto e Planejamento Paisagístico) e Spazi Verdi, Parchi e Giardini (Espaços Verdes, Parques e Jardins). Nelas aprendi conceitos que envolviam a composição da paisagem e como tais elementos paisagísticos influenciam a qualidade de vida de determinado local. Como trabalho de conclusão da disciplina, desenvolvemos um projeto de revitalização de uma área abandonada da cidade de Faenza, Itália, conciliando o social, a mobilidade urbana e a recuperação de um rio que estava degradado.
Os conhecimentos obtidos no intercâmbio sedimentaram minha motivação em me dedicar a esse tema, o que se tornou o foco do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que, concomitante, tornou-se também um projeto de iniciação científica, financiado pela Fapesp. Meu objeto de estudo passou a ser os corredores ecológicos como ferramenta para o planejamento de florestas urbanas, com apresentação de um modelo de planejamento de parques e áreas verdes urbanas, considerando a criação de corredores ecológicos multifuncionais que conciliam os aspectos sociais, econômicos e ambientais. Isso me motivou a continuar os estudos na área de Arquitetura e Urbanismo, na FAAC, Unesp/Bauru.
Durante o doutorado, realizei um estágio de pesquisa no Instituto de Ecologia A.C., em Xalapa, México. Fui responsável por formalizar a equipe Araucária, que venceu o Campus Challenge 2030, uma competição internacional realizada pela Unesco, AUF e Agorize, cujo objetivo era estimular os campus universitários a criarem projetos que atinjam ao menos 3 dos 17 objetivos da ONU até 2030. Parte do prêmio foi um treinamento de quatro meses ministrado pela Pulse, que é uma organização sem fins lucrativos, que atua com a missão de criar caminhos para o empreendedorismo como uma alavanca para o desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Do que trata a sua pesquisa?
Minha pesquisa tem como principal área de estudo a Ecologia Urbana e é intitulada NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE ECOLOGIA URBANA PARA CIDADES MAIS SUSTENTÁVEIS: integrando soluções baseadas na natureza, a percepção humana e o conhecimento sobre como a paisagem urbana influencia as comunidades de aves.
Quando se pensa em sustentabilidade, é fundamental considerar os ambientes urbanos, uma vez que a maioria dos seres humanos vivem nas cidades. Assim, minha tese foi dividida em cinco capítulos que abordam diferentes temas relacionados à Ecologia Urbana. No primeiro, analisamos como os diferentes elementos da paisagem urbana influenciam os aspectos taxonômicos (riqueza de espécies) e funcionais das comunidades de aves que habitam parques e ruas de cidades neotropicais.
No capítulo 2, testamos se a urbanização leva a homogeneização da coloração das aves em duas cidades neotropicais, uma do Hemisfério Sul (Bauru, Brasil) e outra no norte global (Xalapa, México). Para isso, desenvolvemos o método para calcular a porcentagem de cores das aves. No capítulo 3, sugerimos uma pesquisa futura sobre as influências da urbanização na diversidade de cores das aves, considerando as características espectrais de UV, uma vez que as aves vêm mais que os humanos e podem discriminar uma ampla gama de cores, permitindo a percepção do comprimento de onda UV.
No capítulo 4, investigamos como a comunidade acadêmica percebe as aves em duas cidades neotropicais (Bauru e Belo Horizonte, Brasil). Por fim, no capítulo 5, relatamos a experiência de participação no Challenge Campus 2030 e discutimos como a ciência pode ser utilizada para propor soluções práticas para superar desafios e problemas ambientais.
O planejamento e manejo adequados das florestas urbanas são indispensáveis para reduzir os impactos da urbanização e atender às demandas sociais e ambientais; também podem ajudar a aumentar a resiliência das cidades face às mudanças climáticas. Nosso estudo mostrou que conectar fragmentos de vegetação urbana por meio de ruas arborizadas contribui positivamente para a taxonomia e riqueza funcional e pode reduzir os efeitos negativos do ruído nas cidades. Também constatamos que a maioria das pessoas consegue reconhecer as espécies mais frequentes, têm consciência da importância ecológica das aves para a manutenção dos ecossistemas e têm sentimentos diferentes conforme a espécie: enquanto a maioria das espécies de aves foram associadas a sensações positivas, espécies como o pombo doméstico gerava sensações negativas.
Assim, com os resultados desta tese, produzimos informações científicas importantes não apenas sobre como a urbanização influencia a biodiversidade tropical, mas também sobre como as pessoas percebem os organismos que vivem ao seu redor nas cidades. Além disso, a partir da minha experiência com o projeto Araucária, estamos colocando em prática Soluções Baseadas na Natureza para assim ver como isso pode ser replicado em outros centros urbanos. As Soluções Baseadas na Natureza (NBS) são uma alternativa eficiente para superar os desafios urbanos. Se bem planejadas, as cidades podem ter um papel importante na conservação da biodiversidade.
Assim, engajar a comunidade acadêmica na busca pela melhoria da qualidade de vida e conservação dos recursos naturais é de extrema importância para um futuro urbano mais sustentável.
De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?
A bolsa CAPES foi essencial para a continuidade desse trabalho. Sem ela, eu não teria feito doutorado. Eu não tinha como ter ajuda dos pais e de nenhum familiar, portanto, jamais teria percorrido toda essa trajetória acadêmica sem as bolsas, primeiramente da Fapesp e, em seguida, da CAPES. Desde o último ano da graduação já me sustento por conta própria e seria impossível a continuidade de tais pesquisas sem a bolsa CAPES.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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