Notícias
BOLSISTA EM DESTAQUE
Doutorando da Unicamp ajuda a baratear teste de saliva
Doutorando em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o biólogo Ítalo Esposti Poly da Silva, bolsista CAPES, participou no desenvolvimento e produção das enzimas-chave usadas em análise de saliva para detectar a COVID-19 no corpo humano. A técnica, denominada de RT-LAMP, é mais barata e mais rápida que o método mais comum usado atualmente. O trabalho contribuirá, de forma significativa, para que o Brasil deixe de ser importador de insumos e se torne produtor deste tipo de testes.
Este trabalho com as enzimas pode tornar o Brasil autônomo e autossuficiente na produção desses testes?
Os insumos podem contribuir com grande porcentagem da autonomia no setor. Com a vastidão do Brasil, ainda é necessário que vários locais diferentes possam produzir insumos. Neste momento, a parceria entre universidades e empresas é essencial: as primeiras desenvolvem a tecnologia e as segundas auxiliam na escalabilidade. Para chegarmos à autonomia de 100% o Brasil ainda depende de outros reagentes, equipamentos e insumos, como plásticos, que são importados. As duas enzimas que estamos produzindo aqui no CQMED eram uns dos principais gargalos para essa testagem em massa, já que o mundo inteiro está atrás dessas enzimas. O desenvolvimento das enzimas está inserido na plataforma de experimentos montada no projeto INCT na UNICAMP. O experimento completo de RT-LAMP para o diagnóstico foi montado pela empresa parceira Mendelics Análise Genômica, juntamente com o Hospital Sírio Libanês, a qual estabeleceu a parceria com o CQMED para complementar com esses reagentes nacionais.
Você pode explicar como foi o processo de desenvolvimento desta nova técnica?
Nós usamos bactérias não patogênicas, que não causam doenças, como minifábricas para a produção do insumo. Essas enzimas passam por um processo de purificação e, depois, por vários processos de controle de qualidade, para assegurar tanto a sua pureza quando a sua atividade. Cada etapa exige um protocolo próprio e ajustes finos para que as enzimas cheguem ao final funcionando como esperado. Eu participei em todas as etapas do projeto, seja nos planejamentos iniciais até a execução das técnicas.
Qual a diferença da técnica RT-LAMP, em relação aos testes mais comuns, como a PCR?
O RT-LAMP é uma técnica já conhecida em biologia molecular. Ela é mais rápida e a coleta de material (saliva) é bem mais fácil do que a PCR, que usa o incômodo e invasivo
swab
nasal. É também mais seguro para quem manipula as amostras para fazer os exames, pois possui menos etapas, diminuindo assim a exposição, além de um menor consumo de reagentes e insumos, o que diminui o preço final.
Esta nova sistemática já foi testada? Ela já está sendo produzida em larga escala?
O teste por RT-LAMP já é utilizado em exames em larga escala em vários centros de testagem e laboratórios, e nós já conseguimos produzir as enzimas essenciais para este ensaio em larga escala. Até o momento desenvolvemos e já produzimos enzimas para aproximadamente um milhão de testes com esse novo protocolo de produção. As enzimas estão sendo enviadas para a empresa parceira do projeto, a Mendelics, que faz uma média de três mil testes por dia.
Qual custo de produção deste novo teste?
O custo final para o teste depende de vários outros pontos que não apenas os reagentes que produzimos como insumos, pessoal, logística etc. Porém as enzimas que produzimos tem um custo equivalente à metade do valor daquelas que são importadas, sem contar que a distribuição de uma produção nacional é mais rápida e mais barata do que as advindas de um processo de importação. A estimativa geral é que um teste de saliva custe, aproximadamente, 40% do valor do teste PCR.
Quais os benefícios diretos, do ponto de vista social, econômico e científico, que este novo teste traz para o Brasil?
Já faz parte do entendimento das comunidades cientifica e médica que a forma mais eficiente de parar essa pandemia é com vacinação e testagem em massa. Mesmo com a vacinação em andamento, a testagem ainda continua sendo de extrema importância, pois é imprescindível o isolamento e tratamento correto de pacientes positivos para COVID-19, bem como o monitoramento dos profissionais de saúde e auxiliares que trabalham na linha de frente do combate à doença. O benefício direto é que podemos compartilhar de forma aberta esse modo de produzir os reagentes (as enzimas), assim como a empresa parceira compartilhou os passos do teste. Atualmente, estamos terminando uma série de vídeos para disseminar o processo que desenvolvemos. Os vídeos estarão no canal do Youtube do CQMED.
Qual a contribuição da CAPES para sua pesquisa de doutorado?
A CAPES é o órgão que concedeu minha atual bolsa de doutorado por meio do projeto INCT de nossos orientadores. Os fundos de bolsa de estudos garantem que possamos estar na carreira científica com a dedicação integral necessária para se fazer novas descobertas e, consequentemente, desenvolver este e outros projetos de pesquisa dos quais faço parte.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura CCS/CAPES.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)