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Dissertação mostra alternativa para artesanato tradicional
Samuel da Silva Miranda é ex-bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Em seu mestrado em Design pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) estudou o processo de confecção de cerâmicas usado por um grupo tradicional de artesãs, com cinzas de taquipé em argila vermelha.
Fale sobre seu projeto e as descobertas feitas durante a pesquisa.
A minha pesquisa “A TRADIÇÃO DO PUNHADO: avaliação da incorporação da cinza de taquipé em argila vermelha na produção artesanal” abordou a utilização de materiais em processos de produção artesanal, por meio da avaliação de um compósito cerâmico, caracterizado pela incorporação da cinza de taquipé (
Triplaris sp.
) em argila vermelha.
Essas louças cerâmicas são produzidas tradicionalmente por um grupo de artesãs quilombolas, chamadas de Anas das Louças, onde a adição das cinzas à argila é uma das etapas da cadeia produtiva. Essa prática é pertencente ao povoado de Porto dos Nascimentos, região da baixada maranhense. O taquipé, uma árvore que pode atingir até 30 metros de altura, é encontrado na Amazônia maranhense e as cinzas de suas cascas utilizadas na produção das peças.
O estudo identificou, por meio da literatura e de falas das próprias artesãs, que ao longo do tempo é cada vez mais difícil encontrar exemplares passíveis de extração na floresta da região onde essa espécie é encontrada. Além da questão da possível escassez de exemplares de taquipé para extração de suas cascas, outro ponto de reflexão configura-se na continuidade da produção das louças.
Como foi realizada a pesquisa?
A incorporação das cinzas à argila é feita pelas artesãs de forma empírica, por punhados, possibilitando a aproximação entre o conhecimento científico e tácito. Por isso, houve observação em campo, além da caracterização do material em laboratório, para demonstrar possibilidades de redução do uso do recurso natural, sem alteração das práticas tradicionais estabelecidas e prolongando sua utilização. O estudo mostrou alternativa para a redução do emprego desse recurso natural sem alterar os resultados referentes às práticas produtivas das artesãs. Estudamos o material empregado na produção das Anas, com respeito às tradições.
Quais os obstáculos encontrados?
A distância territorial do povoado de Porto dos Nascimentos foi um desafio. E a pandemia causada pelo novo coronavírus também alterou o planejamento.
Como o seu trabalho pode contribuir para a melhoria da vida das pessoas?
Contribui na perspectiva da valorização e comunicação da existência e resistência dos grupos tradicionais e seus processos geracionais, para a comunidade em geral. Com trabalho colaborativo entre os diferentes saberes, estabelecemos parcerias significativas e demonstramos que a ciência pode dialogar com os conhecimentos tácitos e, juntos, gerarem resultados positivos para a continuidade de práticas importantes para os povos de diferentes territórios.
Quais são os próximos passos?
A pesquisa gerou possibilidades de desdobramentos importantes para a continuidade das análises nas outras etapas da cadeia produtiva das louças, ampliação das análises técnicas sobre o compósito tradicionalmente desenvolvido pelas artesãs, além de estudos sobre a sua relação com a cultura material e imaterial do seu território. Em estudos futuros, poderemos analisar outros recursos ou materiais presentes nos compósitos, possíveis de serem utilizados em técnicas semelhantes. Espero publicar os resultados da pesquisa, promovendo a difusão desse conhecimento.
Qual a importância da bolsa da CAPES para o desenvolvimento do seu projeto?
Recebi bolsa pelo
Programa Demanda Social
. O auxílio da CAPES foi de extrema importância para o desenvolvimento da pesquisa, pois possibilitou as idas ao campo de estudo, bem como a aquisição de equipamentos. A bolsa contribuiu para a realização correta dos ensaios técnicos em laboratório, com a utilização de materiais e maquinários importantes para a conclusão dos estudos. Possibilitou a difusão da pesquisa em eventos científicos nacionais e internacionais e a efetivação dos estudos no curso de mestrado em
Design.
Legenda das imagens:
Imagem 1:
O material é produzido por um tradicional grupo de artesãs quilombolas, chamadas de Anas das Louças
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
Samuel Miranda é mestre em Design pela UFMA
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3:
Cadeia produtiva: Louças das Anas
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 4:
A queima das peças é uma parte importante no processo produtivo das louças de cerâmica (Foto: Arquivo pessoal)
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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