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Dispositivo ajuda a alfabetizar crianças com dislexia
Laura Quevedo Jurgina é formada em Engenharia de Computação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e mestranda em Computação na mesma instituição. Sua pesquisa envolve o processo de alfabetização de crianças, com especial atenção àquelas que apresentam dislexia. O projeto apresenta uma ferramenta tátil de baixo custo que estimula e auxilia a aprendizagem.
Do que trata a sua pesquisa?
Eu construí um guia de
design
para elaborar soluções que atendessem as especificidades das crianças disléxicas. As primeiras etapas foram direcionadas a levantamento de requisitos e embasamento teóricos, depois avançamos para a construção do protótipo não funcional e firmamos uma parceria com o Centro Tecnológico Educacional de Pelotas, onde adaptamos o protótipo para melhor atender o público. Foi neste contato que discutimos que este produto ia atender não só crianças disléxicas, mas também crianças que tiveram alguma lacuna durante o período dos estímulos da alfabetização. Inclusive, já iniciamos o processo de patente. A minha ideia é ceder a licença de utilização para o ensino público.
O que motivou sua pesquisa?
Toda a minha formação, desde o ensino fundamental, foi na educação pública. Eu queria, de alguma maneira, devolver para o País o investimento feito em mim. Então, desenvolver tecnologia para escolas pensando no ensino público foi a maneira que eu encontrei.
Como aplicar a tecnologia no ambiente escolar?
Como desenvolvedora de tecnologia, eu acredito que, primeiro, é necessário entender as necessidades do ambiente, em qual contexto existe demanda de suporte, e como uma solução se encaixaria ali. Nosso foco foi desenvolver algo de baixo custo financeiro e de manutenção. Além disso, pensamos na usabilidade simples, para que professores e alunos consigam usar a ferramenta de maneira efetiva, sem que ela corra o risco de ser deixada de lado por não saberem utilizá-la. Também estamos prevendo um treinamento para que os professores se sintam confortáveis em utilizar.
Como motivar a aprendizagem de um aluno com dislexia?
É importante utilizar recursos com enriquecimento de cores, personagens com estímulos visuais e sonoros, que trabalhem os sons dos fonemas de maneira clara, histórias que incentivem uma organização lógica, pouca informação escrita junta. Isso pode criar um ambiente mais confortável e amigável para o disléxico.
Como o Alfaba foi criado? Foi inspirado em alguma plataforma?
Eu sempre quis trabalhar com
hardware
, então eu pretendia aplicar todos esses estímulos em uma só ferramenta. Nós sabemos que existe uma dificuldade em utilizar
softwares
, e o Alfaba foi justamente construído para atender estímulos específicos da dislexia, pois mesmo o aluno disléxico percorrendo a jornada padrão do processo de alfabetização, ele precisa resgatar estes estímulos para atingir a equidade de aprendizado no processo de alfabetização e letramento
.
Para propor um produto precisamos buscar por soluções semelhantes e encontramos um dispositivo com semelhanças no Canadá. Ele auxilia crianças que falam originalmente mandarim, a aprender inglês. Mas o dispositivo deles não é portátil e exige um computador para o funcionamento. No nosso, utilizamos Arduino para baixar o investimento financeiro e garantir a portabilidade do Alfaba, além de pensar em particularidades para disléxicos, como a permissão e correção de letras espelhadas.
É possível mensurar resultados?
O Alfaba será implementado em breve nas escolas. Estávamos realizando testes com ele, antes. Acreditamos que nos próximos meses cerca de mil crianças o usem na cidade de Pelotas. Os resultados serão acompanhados por testes de consciência fonológica que já estão sendo construídos com o suporte de especialistas em linguística. Além disso, nossa pesquisa foi premiada como melhor trabalho de estudante em um dos principais congressos de informática na educação no mundo, o
IEEE Global Engineering Education Conference
(Educon).
Qual a contribuição da sua pesquisa para a sociedade?
Recentemente foram divulgados os resultados do PIRLS (Estudo Internacional de Progresso em Leitura) e os resultados do Brasil foram preocupantes. Esse exame revelou que 38% das crianças não dominam habilidades básicas de leitura. Ocorre que com o resultado recente do PIRLS e o censo escolar 2021, temos o indicativo de que o processo de alfabetização, de todos os públicos, apresenta um cenário desafiador, o que também foi catalisado pela pandemia e a necessidade do ensino remoto. Assim, eu enxergo o Alfaba como um instrumento de resgate para o processo de alfabetização e letramento de todo o estudante.
Qual a importância da bolsa da CAPES na sua trajetória?
A bolsa incentiva a minha pesquisa me dando o suporte para que eu possa me manter e ter dedicação exclusiva. É muito importante esse fomento da CAPES, não apenas para mim, mas para todos os pesquisadores que estão envolvidos na ciência brasileira. E essa bolsa só me motiva mais a querer devolver para a sociedade, na forma da minha pesquisa, o que ela está investindo em mim.
Legenda das imagens:
Imagem 1: Estrutura
eletrônica do Alfaba
(Foto: Arquivo pessoal)
Banner e imagem 2: B
olsista Laura Quevedo Jurgina segurando o certificado IEEE EDUCON
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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