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PRÊMIO CAPES DE TESE
Diego Nogueira estudou o acervo de um dos maiores arquitetos do Brasil
O arquiteto e urbanista, Diego Nogueira, venceu o Prêmio CAPES de Tese 2024 na área de Arquitetura, Urbanismo e Design pelo trabalho ‘O estilo sob suspeita: Tradição e modernidade em Archimedes Memória e Lúcio Costa’. Em sua pesquisa, ele investigou o acervo de um dos maiores representantes da arquitetura eclética brasileira: Archimedes Memória, com documentos que estavam guardados por 60 anos e agora estão disponíveis para pesquisadores e para a comunidade em geral.
Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
Estudei Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de São João del-Rei, em Minas Gerais (2012-2016), e convivendo em uma cidade histórica, tombada a nível federal, logo aprofundei os estudos na área do patrimônio e da preservação. Participei de três projetos de Iniciação Científica, sendo dois deles relacionados diretamente à atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em cidades históricas, iniciando minha trajetória de pesquisa em acervos de arquitetura, que seguiria no mestrado e no doutorado. Ainda na graduação participei de diversos congressos nacionais e internacionais, publiquei 19 artigos completos nestes eventos, ao longo de cinco anos.
Entre 2017 e 2019 cursei o Mestrado em Arquitetura no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PROARQ-UFRJ), orientado pela professora Cêça Guimaraens, com foco na pesquisa em acervos, no Arquivo Central do IPHAN. Fui bolsista Nota 10 da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Participei ativamente das disciplinas do PROARQ e das reuniões do Grupo de Pesquisa de Arquitetura de Museus, além de colaborar com o coorientador Leonardo Castriota, em um projeto de pesquisa na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse período publiquei oito artigos em eventos nacionais e internacionais, além de auxiliar na organização de congressos nacionais e internacionais, frutos da parceria do grupo Arquitetura de Museus com a Universidade de Aveiro. Também publiquei um artigo em capítulo de livro e dois em periódicos com Qualis A3/A4. Ao final, tive minha dissertação premiada com menção honrosa no Prêmio ANPARQ 2020.
Já durante o doutorado, cursado também no PROARQ-UFRJ, entre 2019 e 2023, comecei a atuar como voluntário no Núcleo de Pesquisa e Documentação (NPD) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-UFRJ), onde presenciei a doação do acervo do arquiteto Archimedes Memória, um dos grandes representantes da arquitetura eclética brasileira, autor de edifícios simbólicos, a exemplo da antiga Câmara dos Deputados, atual Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro. Participei da organização inicial das mais de 4 mil pranchas inéditas do acervo do arquiteto, guardadas por sua família por 60 anos. O potencial deste material para a pesquisa acadêmica levou-me a adaptar o tema da tese em prol de explorá-lo. Paralelamente, continuei minha atuação no grupo de pesquisa Arquitetura de Museus, organizando dois eventos internacionais, o Seminário do Grupo, cujos frutos, um CD de anais e um livro de artigos, fui um dos organizadores, junto com a professora Cêça Guimaraens. Também organizamos o livro “Patrimônio Arquitetônico Brasil-Portugal‟, publicado pela Editora PROARQ e pela Universidade de Aveiro. Em 2021, recebemos, enquanto Grupo Arquitetura de Museus, um prêmio do IAB pelas publicações sobre preservação do patrimônio e arquitetura brasileira. Minha pesquisa de doutorado resultou em nove artigos em congressos, quatro em capítulos de livros e três em periódicos com Qualis A1/A2/A4. Agora a tese foi agraciada com o Prêmio CAPES de Teses 2024 na área de Arquitetura, Urbanismo e Design, destacando a relevância da investigação em acervos para a historiografia da arquitetura brasileira.
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique de forma mais detalhada o conteúdo da sua tese.
Minha pesquisa de doutorado se baseou na investigação do acervo de um dos maiores representantes da arquitetura eclética brasileira: Archimedes Memória. A partir da cessão de todo acervo pessoal do escritório do arquiteto, por seu neto, Pericles Memória Filho, em 2019, ao NPD, junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, vi ali a possibilidade de analisar um acervo com fontes primárias inéditas, com desenhos e fotografias de projetos que nunca antes haviam sido estudados ou publicados. E para que a tese não fosse apenas uma análise biográfica de Archimedes Memória, tomei um ex-aluno seu, o renomado arquiteto Lucio Costa, autor do plano piloto de Brasília, como contraponto: Costa estudou na antiga Escola Nacional de Belas Antes, onde foi aluno de Memória, e formou-se sob os auspícios da arquitetura neocolonial. Projetou diversas edificações neste estilo, e em arquitetura eclética, a exemplo do conhecido Castelo de Itaipava. Entretanto, no início da década de 1930 tornou-se adepto da arquitetura do Movimento Moderno, e passou a renegar toda sua produção anterior, advogando a favor dessa “nova arquitetura”. A narrativa da tese é pautada nos “pontos de contato” entre Memória e Costa, seja no âmbito da Escola Nacional de Belas Artes, seja nos concursos de arquitetura em que ambos participaram, seja na visão de nacionalidade que ambos tinham, muitas vezes, diversa. Ao final, busquei explicitar como Memória, por mais que tivesse se mantido ligado à tradição da Beaux-Arts francesa, colaborou para a transformação do fazer arquitetônico nacional da primeira metade do século XX, consolidando exemplares ecléticos que passaram a ser valorizados como patrimônio histórico muitos anos depois da preservação e tombamento dos exemplares da própria arquitetura modernista.
O que você destacaria de mais relevante na sua pesquisa e de que forma ela pode contribuir para a sociedade?
Acredito que a resposta a estas duas perguntas vêm em conjunto: o acervo base desta pesquisa de doutorado ficou 60 anos guardado, sem acesso para os pesquisadores e a comunidade, e agora com a cessão deste acervo por sua família ao NPD-FAU/UFRJ, e a catalogação iniciada por mim na pesquisa de doutorado, passa a estar disponível a todos pesquisadores. Após o trabalho, este acervo já se tornou base para outras pesquisas, sendo utilizado em livros e em trabalhos de conclusão de curso na própria Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, assim como sua utilização em diversas exposições tem sido recorrente, tendo em vista a relevância dos desenhos, muitos deles com aproximadamente 100 anos. Além de a pesquisa de doutorado facilitar a rápida disponibilização do acervo aos pesquisadores (após a catalogação), ela agora tem permitido a continuação da geração de conhecimento, através da publicação do conteúdo catalogado em livros e em trabalhos finais de graduação, que só engrandecem a pesquisa em historiografia da arquitetura brasileira. Valorizar a pesquisa em acervos brasileiros neste momento é mais que essencial, pois a família de diversos arquitetos de renome tem enviado os acervos destes profissionais para instituições da Europa, então é vital que ações em prol da salvaguarda e manutenção destes itens vitais para a construção da identidade da arquitetura brasileira sejam postos em prática, e que mais pesquisas nacionais sejam produzidas com estes acervos.
O reconhecimento da minha pesquisa na área de Arquitetura e Urbanismo e Design muito me orgulha, pois exprime o esforço realizado por mim ao longo de quatro longos anos, com uma pandemia no meio, que nos deixou trancados sem acesso aos laboratórios de pesquisa por muito tempo. Por ter conseguido produzir uma pesquisa de relevância para minha área, mesmo com percalços, e ainda poder ressaltar a importância da pesquisa em acervos de arquitetura brasileira, é motivo de muita felicidade. A área de historiografia da arquitetura tem muito potencial, e inúmeros acervos com fontes primárias ainda não investigadas, prontas para novas abordagens, que podem transformar a historiografia da arquitetura.
Foi bolsista da CAPES? Se sim, de que forma a bolsa contribui para sua formação?
Tanto no mestrado quanto no doutorado fui bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e o fato de eu ser bolsista contribuiu decisivamente para que minha pesquisa tivesse alcançado resultados positivos: sou de Minas Gerias, me mudei para o Rio de Janeiro para realizar as pesquisas, e sem a bolsa não acredito que teria conseguido concluir os estudos. Este auxílio é vital para manter ativos os pesquisadores que se esforçam e lutam para que o Brasil continue tendo pesquisas de destaque nas mais diversas áreas de conhecimento, valorizando assim também as universidades, e os programas de pesquisa de pós-graduação do país.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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