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Diário 3 - Profissões
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Esta semana fizemos as primeiras transmissões para escolas brasileiras. Alunos do ensino médio do Colégio Rogelma A. F. M. Mello, de Carmo - RJ, do Colégio Vila Olímpia, de Florianópolis - SC e do Colégio Seice, de Duque de Caxias - RJ conheceram um pouco do navio e puderam conversar com um dos nossos cientistas brasileiros a bordo, Rodrigo do Monte Guerra, micro-paleontólogo especialista em nanofósseis pela Unisinos. Os estudantes puderam fazer várias perguntas não só sobre as pesquisas no navio, mas também sobre a carreira dos cientistas.
Passeamos pelos laboratórios cheios de microscópios e medidores de ondas sísmicas, também apresentei a grande perfuradora. Foi uma experiência incrível poder mostrar aonde nossas carreiras podem nos levar, abrir horizontes em uma fase da vida que, eu me lembro bem, é cheio de dúvidas e inseguranças sobre que caminho escolher. Eu mesma folheava aqueles manuais de profissões e todas pareciam limitadas, difíceis e monótonas. O que aprendi depois é que podemos adaptar qualquer profissão que escolhermos a nossos maiores interesses e ao estilo de vida que queremos ter mas, para isso, temos que nos manter sempre atentos, dedicados, pacientes e dispostos.
Os estudantes fizeram perguntas sobre a composição das amostras, formadas por rochas sedimentares e uma lama escura que algumas vezes vieram acompanhadas de pirita (ou o chamado ouro de tolo), muitos nanofósseis, foraminiferas e conchas. Também quiseram saber sobre o processo de perfuração e se o navio causa algum impacto ecológico por onde passa. Segundo nosso capitão, Terry Skinner, a resposta é não, todos os produtos usados são biodegradáveis (e os que não são devem ter seu uso justificados e controlados), o lixo reciclável é limpo e separado para a reciclagem, o não reciclável é queimado e a água é tratada para reutilização.
A Expedição 369 é formada principalmente por geólogos, físicos, geoquímicos e micropaleontólogos. São desde acadêmicos experientes com várias publicações até estudantes de graduação ajustando seus focos. É uma interação engrandecedora para todos e uma experiência bem diferente para muitos, que na “vida real” conduzem suas pesquisas sozinhos e com pouco compartilhamento. Por aqui tudo é compartilhado, quartos, banheiros, laboratórios, ferramentas e relatórios. Além da equipe de pesquisadores, existem também os técnicos, que são cientistas com conhecimentos dos equipamentos usados nas pesquisas. Temos também engenheiros, mecânicos, chefs, fotógrafos e nós, as agentes de divulgação.
O Micropaleontólogo Rodrigo Guerra já participou de uma expedição antes da 369. Sua especialidade é importante para pesquisas no subsolo marítimo, rico em nanofósseis, que ajudam a datar as camadas geológicas recuperadas. Formado em geologia, Rodrigo especializou-se em paleontologia e hoje também faz uma nova graduação em biologia. A geoquímica americana Tracy Quan estudou química para depois especializar-se em geoquímica. O outro brasileiro a bordo, Gabriel Tagliaro é também geólogo e veio pela Universidade do Texas estudar as ondas sísmicas das camadas geológicas desta região. Temos especialistas em gases, em temperaturas, em magnetismo e em líquidos por aqui, e os recursos tecnológicos oferecidos pelo navio nas análises não deixam a desejar.
A escolha de um curso de graduação é só o início de um caminho que pode fazer muitas curvas e desvios e, muitas vezes, a graduação não reflete exatamente o que vamos fazer como profissionais, mas são bases para nossas trajetórias. O que vejo aqui é que os pesquisadores, dos mais novos aos mais experientes, são realmente apaixonados por ciências e enfrentam quaisquer desafios para comprovar suas hipóteses. Ah, e falam inglês, algo que vejo que é essencial para qualquer carreira, pois mesmo quem não quer se aventurar por oceanos precisará ler e compreender publicações e conceitos importantes, que em sua grande maioria são na língua inglesa.
Cristiane Delfina
Mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp e master of arts em documentary practice pela Brunel University London, em projeto financiado pelo programa de bolsas britânico Chevening. Realizou documentários no Brasil, Inglaterra e Islândia, participando de festivais nacionais e internacionais, entre os quais a mostra VerCiência e Cannes Short Film Corner, para o qual levou o seu documentário A Mulher Original, sobre a arqueóloga Niède Guidon. Este filme integrou também parte do seu projeto de mestrado no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Foi selecionada, em julho de 2017, pelo edital Capes-IODP, para ser a primeira agente de divulgação brasileira a participar de uma expedição marítima do programa Expedição 369-Australia Cretaceous Climate and Tectonics, tema desta coluna nas próximas oito semanas.
Portfolio cristianedelfina.com
Acompanhe o Diário de Bordo da expedição IODP 369.