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Descoberta superbactéria que atinge tilápias no Brasil
Graduada em Engenheira de Pesca pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e mestre em Aquicultura pelo Centro de Aquicultura da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Daiane Vaneci da Silva identificou a presença da bactéria Klebsiella pneumoniae ( K. pneumoniae ) em tilápias-do-Nilo.
Qual foi a proposta da sua pesquisa?
A proposta era identificar os patógenos que estavam causando uma doença na tilápia-do-Nilo em sistemas de produção intensiva. Inicialmente, suspeitamos que o patógeno poderia ser a bactéria do gênero Francisella sp., que é muito comum e extremamente virulenta para diversas espécies de peixes. Porém, com as análises iniciais, descobrimos que a bactéria que estava causando a doença nos peixes era a Klebsiella pneumoniae ( K. pneumoniae ). Essa descoberta foi surpreendente e preocupante, pois essa espécie bacteriana é muito associada a infecções em humanos, principalmente aqueles internados em hospitais. Esta doença causa vários tipos de infecções, desde infecções urinárias, infecções hospitalares, septicemia e pneumonias. A K. pneumoniae é especialmente difícil de tratar porque possui diversos fatores de virulência, formam biofilmes facilmente, tem alta capacidade de disseminação e desenvolvem resistência aos antibióticos com facilidade.
Com a bactéria identificada, a proposta da pesquisa foi ampliada, procurando determinar as possíveis problemáticas que a bactéria causou e poderia causar em peixes de produção, bem como avaliar tratamentos possíveis para evitar a disseminação para outros peixes.
Por que a escolha deste tema?
O Laboratório de Microbiologia e Parasitologia de Organismos Aquáticos do Centro de Aquicultura da Unesp – Caunesp, coordenado pela professora Fabiana Pilarski, recebe amostras de peixes de todo o País para a realização de análises diversas, incluindo monitoramento de possíveis patógenos associados à piscicultura. O material recebido é uma rica fonte de pesquisa científica que constantemente é realizada pelo grupo da professora Pilarski, assim como pelo professor André Pitondo da Silva, do Laboratório de Bacteriologia e Biologia da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). As pesquisas nessa área são de extrema relevância, visto que, no Brasil, a aquicultura gerou, em 2021, uma receita de R$ 4,7 bilhões, sendo a tilápia-do-Nilo responsável por mais de 60% da produção nacional de peixes. Portanto, qualquer desequilíbrio no processo de produção, incluindo infecções bacterianas nos peixes causa grande preocupação tanto por questões econômicas quanto de saúde pública.
Em que momento foi identificada a superbactéria?
No momento que analisamos os animais recebidos, notamos que, apesar dos sinais clínicos serem parecidos com os ocasionados por outros patógenos comumente encontrados em peixes, a severidade dos danos nos animais era bem maior. Quando obtivemos o resultado do sequenciamento das bactérias de maneira isolada e nos deparamos com a identificação da K. pneumoniae , foi uma surpresa para nós. Ela não é uma bactéria comum em peixes e a gravidade que a espécie pode ocasionar, tanto para os animais quanto para humanos, é muito preocupante.
Qual a possível causa da presença desta bactéria nos peixes?
Este estudo foi pioneiro em descrever a bactéria K. pneumonie causando infecções em peixes no Brasil e evidenciou que em diversos países este patógeno vem acometendo organismos aquáticos.
A possível causa da infecção de peixes pela bactéria está relacionada ao fato desta ser encontrada em diferentes ambientes e fazer parte da microbiota do solo e de corpúsculos na água. No Brasil, como a maior parte da produção de tilápia é realizada em tanques-rede de pequeno, médio e grande volume, localizados em represas, rios e braços de rios, o despejo ilegal de efluentes – tanto doméstico como industrial – nesses ambientes é comum, o que possivelmente está causando a contaminação dos peixes de produção, por estes estarem mais estressados e imunossuprimidos.
O que aquicultores e piscicultores podem fazer agora?
Quando uma doença aparece, alguns produtores de peixes com um menor nível de informação, ofertam antimicrobianos sem ao mesmo identificar qual o patógeno está comprometendo a saúde dos animais. Essa estratégia é arriscada porque os antimicrobianos podem não ser efetivos para as bactérias, especialmente quando não são comumente encontradas na piscicultura. Isto é mais preocupante ainda porque pode-se estar criando cada vez mais bactérias resistentes aos antimicrobianos, agravando ainda mais a situação. O ideal é sempre procurar um laboratório de diagnósticos para que seja realizada analises adequadas para uma identificação de patógeno e tratamento adequado.
Qual a importância da CAPES na sua pesquisa?
Fui bolsista CAPES desde o início dos meus estudos com aquicultura, no mestrado, e hoje no doutorado ainda tenho esse suporte financeiro. Durante todo este tempo, venho estudando a resistência da bactéria a diferentes antimicrobianos utilizados na medicina humana e animal. Também realizamos análises genéticas e de epidemiologia molecular como multilocus sequence typing (MLST) e enterobacterial repetitive intergenic consensus-polymerase chain reaction (ERIC-PCR) e pesquisas acerca de tratamento alternativos com fitoterápicos, uma vez que estes estudos evidenciaram resistência a inúmeros antimicrobianos testados, com uma atenção maior ao florfenicol e à oxitetraciclina, que são os únicos antimicrobianos licenciados.
Legenda das imagens:
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Imagem ilustrativa
(Foto: iStock)
Imagem 1:
Daiane Vaneci faz doutorado no Laboratório de Microbiologia e Parasitologia de Organismos Aquáticos do Centro de Aquicultura da Unesp
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2:
A tilápia-do-Nilo é responsável por mais de 60% da produção nacional de peixes.
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3:
Primeira vez que a bactéria é registrada na América (Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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