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Descoberta nova espécie de serpente na Caatinga
Pesquisadores acabam de encontrar no bioma Caatinga uma nova espécie de serpente: a Leptophis dibernardoi . Descoberta por grupo de cientistas, o réptil faz parte do grupo das cobras conhecidas popularmente como cobra-papagaio ou cobra-cipó. Ela é semiarborícola, ou seja, vive em árvores e no chão, não é venenosa e pode ser encontrada tanto no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, quanto em Minas Gerais. A descoberta resultou em um artigo publicado na revista científica South American Journal Of Herpetology (SAJH), em abril. Nelson Rufino de Albuquerque, professor e pesquisador, ex-bolsista da CAPES, um dos descobridores, explica que o nome dado à nova espécie é uma homenagem ao professor Marcos Di Bernardo, já falecido, seu orientador no doutorado.
Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória acadêmica e científica
Inicialmente eu cursei ciências biológicas na Universidade Federal do Pará, no
campus
de Belém, entre os anos 1993 e 1998. Durante este período, realizei estágios voluntário e de iniciação científica no
campus
de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi. Este estágio foi muito importante para mim porque foi onde eu tive a oportunidade de conhecer a coleção herpetológica (de anfíbios e répteis) do Museu, onde tive a oportunidade de interagir com pesquisadores e onde eu pude, pela primeira vez, ter acesso à literatura científica. Então, este estágio foi o que fomentou minha carreira científica. Tudo começou ali durante o estágio no Museu Goeldi. Depois de me formar, fiz mestrado e doutorado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Ambos foram na área de zoologia e extremamente importantes para minha capacitação científica.
O senhor se considera um especialista no estudo de serpentes no Brasil?
Eu sou apenas mais um dos vários especialistas em estudo de serpentes no Brasil. Nosso país é privilegiado porque nós temos grandes pesquisadores aqui. Desde o século XIX até os dias atuais, há muitos cientistas de excelência em herpetologia fazendo pesquisa no Brasil e eu sou mais um que tento dar minha contribuição.
De onde surgiu seu interesse pelos estudos das serpentes?
Meu interesse pelo estudo de cobras e serpentes, assim como biologia de um modo geral, aconteceu durante minha infância, quando eu morava em Belém do Pará. De vez em quando, meus pais me levavam para passear no parque zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde, mais tarde, acabei fazendo estágio. Lá eu observava os animais em exposição, muitos da fauna amazônica. Eu ficava assim, impressionado, observando aqueles animais, principalmente os répteis, a tartaruga da Amazônia, o tracajá, além de outros quelônios. O Aquário do Museu também me chamava muito a atenção. Eu gostava de observar o peixe-boi... enfim, eu gostava muitos dos animais de modo geral e a partir daí resolvi realmente que queria ser um biólogo. Minha carreira de professor e pesquisador só veio muito mais adiante. Só quando eu estava fazendo o mestrado é que eu decidi que queria ser um professor universitário. Mas posso afirmar que a vontade de conhecer os animais surgiu na infância.
E como acabou se dedicando ao universo particular das serpentes?
Minha vontade de estudar as serpentes foi quando eu conheci a coleção herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, durante meu estágio na graduação. Quando eu descobri a coleção de serpentes do museu, eu fiquei muito impressionado com aquilo. Eu digo que foi amor à primeira vista. E naquela época eu disse para mim: é isto que eu quero estudar na minha vida.
Como foi descobrir uma nova espécie de cobra na Caatinga?
É um motivo de muita satisfação. Quando nós descrevemos uma nova espécie de réptil isso é sempre muito importante para qualquer bioma, qualquer ecossistema. Acabamos contribuindo para o conhecimento da biodiversidade de uma dada região. A descoberta desta espécie me deixou muito feliz.
Qual o significado e a importância desta descoberta?
Quando você descreve uma nova espécie, você deixa, em primeiro lugar, um legado científico. E quando a descoberta é feita em um bioma que já teve cerca de 50% de sua paisagem deteriorada, esse tipo de informação pode auxiliar na tomada de decisões políticas que visem a valorização da região. Embora a Caatinga não tenha sido tão modificada ainda como o Cerrado ou a Mata Atlântica, ela é uma região extremamente frágil, e que abriga diversas espécies endêmicas, tanto de animais como de plantas.
Como foi comprovado que esta cobra é efetivamente uma nova espécie?
Eu comprovei esta descoberta durante meu doutorado, analisando vários exemplares desta espécie. Eu a contrastei com exemplares de outras espécies já conhecidas do gênero
Leptophis
. Desse modo, pude perceber que os exemplares que examinei possuíam um conjunto de estados de caracteres que os diferenciavam das demais espécies deste gênero. Que eram exemplares que não se enquadravam em nenhuma das espécies conhecidas.
Ela traz perigo para a população?
Não. Jamais. Ela não é uma espécie de interesse médico, não é uma espécie que tenha glândulas produtoras de veneno e, por isso, ela não traz nenhum tipo de perigo para a população.
Quem batizou a nova espécie e porque ela recebeu este nome?
Embora eu não seja o único autor do artigo da descoberta da serpente, eu sugeri o nome
Leptophis dibernardoi
e os outros três coautores concordaram. Esse nome é uma homenagem ao professor Marcos Di Bernardo, que foi meu orientador de doutorado na PUC/RS e que faleceu ainda muito jovem, na metade do meu curso, e que deu uma enorme contribuição para a herpetologia no Brasil, especialmente para a herpetologia da região sul do País.
Qual a importância da CAPES para a sua trajetória científica?
Durante meu doutorado, eu fui agraciado com bolsas da CAPES tanto na PUC/RS como no
American Museum of Natural History
, em Nova York, EUA, em função do doutorado-sanduíche que realizei nesta última instituição em 2006. Se eu não tivesse recebido estas bolsas, não teria como me manter durante a fase da pesquisa no Brasil e depois nos EUA. As bolsas foram muito importantes, de fato.
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1:
Este exemplar da serpente foi encontrado no município de Exu, em Pernambuco
(Foto:
Herivelto Faustino de Oliveira
)
Imagem 2:
Nelson Rufino de Albuquerque é professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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