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Danos no DNA vira estudo para entender o envelhecimento
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Satoru é doutor em Biotecnologia pela mesma instituição e bolsista da CAPES pelo Programa Nacional de Pós Doutorado (PNPD) na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde estuda os efeitos de danos no DNA sobre o envelhecimento humano.
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
Minha pesquisa é sobre os efeitos de danos no DNA em células com defeito, tratando de uma via específica de reparo de DNA, conhecida como via de reparo por excisão de nucleotídeos, responsável por reparar lesões volumosas que distorcem a hélice de DNA, chamada de via “NER” – do inglês, “
nucleotide excision repair
”. Mutações em genes dessa via molecular, como nos genes CSA e CSB, são capazes de causar a Síndrome de
Cockayne
(CS).
Quais são os efeitos da Síndrome de
Cockayne
?
Pacientes com essa doença genética possuem características similares a um envelhecimento precoce, incluindo uma neurodegeneração progressiva e intensa. Devido às complicações, parecidas com as existentes em pessoas idosas com doenças associadas ao envelhecimento, pacientes com CS tipo 1 vivem cerca de 20 anos, apenas.
Quais são os fatores que causam danos à molécula DNA?
Existem diversas fontes que podem danificar o DNA, que vão desde fatores externos como a luz ultravioleta, presente no sol e um dos fatores de fotoenvelhecimento da pele, a fatores internos, cuja principal fonte é o nosso próprio metabolismo. A respiração celular, que depende de oxigênio, muitas vezes acaba gerando moléculas conhecidas como "espécies reativas de oxigênio" que são capazes de reagir com o nosso DNA e gerar danos. No geral, são só pequenas modificações, mas, eventualmente, podem também causar quebras na molécula de DNA, o que tem grandes efeitos sobre a célula.
Como se deu seu interesse em trabalhar com o assunto?
Sempre tive interesse no processo de envelhecimento biológico e neurodegeneração. São processos com alta relevância para a saúde humana. O estudo de como esses processos funcionam pode nos auxiliar a buscar intervenções capazes de nos fazer envelhecer melhor, com menos enfermidades, e assim ter uma maior qualidade de vida, mesmo em idades mais avançadas.
Qual o objetivo da pesquisa?
O objetivo é entender melhor como lesões no DNA em células CS geram determinados efeitos celulares. Por exemplo, mudanças no ciclo celular, ativação de morte celular, e alteração na atividade de genes associados a esses e outros processos, como mudanças metabólicas e inflamação, processos também associados ao envelhecimento biológico.
Qual a importância do seu trabalho para a sociedade?
A população de grande parte dos países em desenvolvimento está envelhecendo. Entender melhor o processo de envelhecimento biológico será relevante para desenvolver intervenções, sejam elas farmacológicas ou sociocomportamentais, capazes de mitigar alguns efeitos prejudiciais associados ao envelhecimento, como doenças neurodegenerativas, cardiovasculares e câncer. Além disso, apesar de rara (cerca de somente uma a cada 500.000 pessoas), a melhor compreensão da Síndrome de
Cockayne
pode também levar a intervenções para essas pessoas.
O que ele traz de diferente daquilo que já é visto na literatura?
As células utilizadas no projeto, editadas com o sistema CRISPR/Cas9 (ferramenta de edição de DNA), possibilitam uma melhor comparação entre as diferentes linhagens celulares visto que, com exceção dos genes editados (CSA ou CSB), elas são geneticamente iguais. Além disso, estamos estudando também a possibilidade das células CS estarem morrendo por um processo conhecido como “ferroptose”, um tipo novo de morte celular, descoberto recentemente, associado a processos de oxidação que podem gerar danos no DNA.
Qual a importância do apoio da CAPES?
Apesar de ser uma pesquisa com implicações para tratamentos da população em geral, minha pesquisa é considerada como “ciência de base” e não “ciência aplicada”. Sendo assim, os resultados obtidos são de maior interesse acadêmico, pois servem como base para outras pesquisas. No geral, não há muito interesse de grandes empresas no financiamento desse tipo de pesquisa. Por esse motivo, a CAPES é essencial para esse e diversos outros projetos científicos.
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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