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Dança sobre florestas tropicais é premiada
Israel Sampaio é graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e mestre em Clima e Energia pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), mesma instituição em que cursa doutorado em Ciências de Florestas Tropicais. Toda a pós-graduação tem sido cumprida com bolsas da CAPES, assim como parte da sua graduação. Ele ganhou a edição de 2023 do prêmio internacional Dance your PhD , da revista científica Science, em que doutorandos devem criar coreografias para explicar seus trabalhos.
Fale um pouco sobre seu trabalho.
As florestas tropicais, em especial a Floresta Amazônica, desempenham um papel central no sistema de clima da Terra contribuindo com os ciclos globais do carbono e da água. Ao mesmo tempo, são sensíveis aos eventos extremos de secas, que causam a mortalidade de árvores. Por outro lado, uma das primeiras respostas fisiológicas das árvores diante do aumento da temperatura e condições de seca, ou seja, condições de estresse, é a produção do fito-hormônio ácido abscísico (ABA), que induz uma série de sinalizações químicas de defesa das árvores contra o estresse.
O ABA possui os mesmos elementos químicos do hormônio responsável por controlar o estresse no ser humano, o cortisol, e atua no fechamento dos estômatos. Os estômatos são estruturas presentes nas folhas das árvores responsáveis pelas trocas gasosas com a atmosfera (vapor d’água, oxigênio e compostos orgânicos voláteis). Assim, o ABA consegue regular a perda de água das árvores quando elas estão sob estresse, principalmente quando a temperatura é muito elevada, causando um alto déficit de vapor d’água na atmosfera.
Associados a outras características das árvores, como, por exemplo, características hidráulicas para regular a perda de água, essas estratégias fisiológicas são muito importantes para a sobrevivência das árvores em um futuro de clima mais seco e quente. Os estudos estão voltados para o entendimento de como se dão essas estratégias e como elas atuam em diferentes grupos de árvores, com objetivo de contribuir no conhecimento sobre a vitalidade das árvores tropicais no futuro.
Qual a importância de se estudar mudanças climáticas?
Muitos estudos têm evidenciado os impactos dos eventos extremos sobre os ecossistemas. Nas últimas décadas, a mudança climática, associada a secas mais frequentes e intensas provocou, em especial na Amazônia, o aumento da mortalidade, por estresse, de árvores tropicais. O estresse hídrico pode eventualmente levar à morte de árvores por falha hidráulica e impactar a dinâmica de carbono da floresta. No entanto, pouco se sabe como as árvores tropicais podem ou não desenvolver mecanismos de defesa contra esses
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abióticos estressores.
Há uma necessidade urgente de entender melhor os mecanismos bioquímicos e fisiológicos subjacentes à resposta das árvores tropicais em condições de seca e as interações de risco de mortalidade, em particular os impactos combinados de altas temperaturas das folhas e baixa disponibilidade de umidade na regulação dos estômatos. Nesse sentido, dadas as previsões de aumento das temperaturas médias da superfície, frequência e duração das secas generalizadas nos trópicos, compreender como o ABA atua na regulação dos estômatos em árvores tropicas é crítico para prever fluxos futuros de carbono e água entre os ecossistemas terrestres e a atmosfera.
Como se sente em ter vencido um prêmio da Science?
Muito feliz e lisonjeado. Para mim, participar de um concurso internacional com a participação de doutorandos do mundo todo já foi uma conquista. Tive que sair da bolha da escrita científica para transbordar o conhecimento, dialogando com a arte a partir da dança, música e audiovisual. Abraçamos o lema do nosso laboratório. Como diz o nosso líder, professor Niro Higuchi: “Os principais aspectos da formação de pessoal — aprendizado, ensino e educação — são responsáveis pelo transbordamento do conhecimento”. E, para isso, é preciso falar fácil, falar de forma simples. A atuação do ABA pode ser compreendida na letra, na música e na coreografia. Ser um exemplo motivador para que outros estudantes pelo menos pensem em fazer isso é o melhor prêmio.
Acredita que a dança é um meio de fazer a produção científica chegar ao conhecimento da sociedade?
A divulgação do conhecimento científico é a chave para o avanço de sociedades democráticas. O conhecimento deve ser transbordado de todas as formas possíveis, pois só assim garantiremos o desenvolvimento. Acredito no poder das mídias na transmissão do conhecimento, mas esta deve estar alinhada à verdade. Aqui temos o grande desafio: tornar a ciência mais divertida, de forma criativa, para chegar aos mais variados públicos que estão fora da bolha acadêmica.
Quais os seus próximos passos depois do doutorado?
Vou me preparar para ingressar numa instituição de ensino, para que possa continuar a contribuir com a ciência. A CAPES me espera!
Falando em CAPES, qual a importância da Fundação na sua trajetória?
Fundamental. São mais de 10 anos como bolsista, com apoio da CAPES. Devo minha formação como cientista a essa possibilidade de apoio.
Assista ao vídeo vencedor da premiação aqui
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1: Imagem ilustrativa
(
Foto: iStock)
Imagem 2:
Israel Sampaio, engenheiro florestal e bolsista da CAPES, venceu o prêmio Dance your PhD 2023, da Science
(
Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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