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Coordenadores de três áreas com grande quantidade de cursos discutem novos arranjos disciplinares
Para avaliar os 5.700 cursos de mestrado e doutorado do país, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) organiza os programas de pós-graduação em 48 áreas, que se distribuem em nove grandes áreas: Ciências Agrárias; Ciências Biológicas; Ciências da Saúde; Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas; Ciências Sociais Aplicadas; Engenharias; Linguística, Letras e Artes; e Multidisciplinar. Reunidos para a Avaliação Trienal 2013 em Brasília, coordenadores de três áreas com grande quantidade de cursos: Engenharias, Ciências Biológicas e Medicinas, explicam a importância da divisão interna das áreas e sugerem novos arranjos disciplinares para o futuro da atividade de avaliação da pós-graduação.
Engenharias
Para o coordenador da área de Engenharias II, Carlos Sampaio, a divisão dentro da área de engenharia foi necessária pelo crescimento do sistema. "Os programas de engenharia cresceram bastante. Na década de 90 eram cerca de 30 programas e hoje nós temos mais de 300", explica. A área de Engenharias II é responsável por avaliar cursos como engenharia de minas, metalúrgica, de materiais, química e nuclear.
"Há coisas muito diferentes em nossa área, engenharia de minas e nuclear possuem diferenças muito grandes", conta Sampaio. Por isso mesmo, o coordenador sugere que no futuro sejam feitas mais divisões por especialidade na área. "Em termos de produção científica, as áreas são muito parecidas, os critérios de todas as engenharias são muito parecidos. Mas acho que fundir as áreas deixaria muito grande, 350 programas numa mesma área seria muito difícil para fazer a avaliação. A questão deveria ser até o contrário, subdividir Engenharias II. Não agora, mas quando ela crescesse mais, passasse dos 100 programas, aí poderíamos dividir engenharia química, principal grupo da nossa área, do restante", conclui.
A opinião de repensar a distribuição de cursos na engenharia é compartilhada pelo coordenador da área de Engenharias III, Nei Soma. "O recorte original foi feito quando a pós-graduação brasileira era muito menor. Hoje em dia seria necessário repensar devido à quantidade de programas que nós temos no momento. É bem-vinda a ideia de tentar repensar a distribuição das áreas de engenharia", afirma. A área de Engenharias III é responsável por avaliar cursos como engenharia mecânica e de produção.
A tendência de multidisciplinariedade crescente também deve influir na divisão futura das áreas de engenharia, explica o coordenador da área de engenharias I, Estevam Barbosa de Las Casas. "A divisão em áreas é sempre controversa, porque as engenharias estão cada vez mais rompendo com as caixinhas disciplinares. O importante é não ficar restrito a uma visão que não ultrapasse as barreiras que no fim das contas nós mesmos criamos entre as áreas. Desde que exista essa consciência de que você precisa de uma perspectiva mais multidisciplinar dentro de cada área e que a divisão não é tão importante, eventualmente o critério pode ser o tamanho e o número de programas dentro de cada área", ressalta. A área de Engenharias I é responsável por avaliar cursos como engenharia civil, meio ambiente, hidráulica e sanitária.
O coordenador da área de Engenharias IV, Antônio Marcos, também acredita que o caráter interdisciplinar de algumas especialidades da engenharia deve promover a reflexão sobre uma nova divisão na área. "Pegue o exemplo da robótica, é uma tema que tradicionalmente é trabalhado pelo pessoal da elétrica, mas a interface com a engenharia mecânica também é evidente". O coordenador conta que a área tem discutido a aceitação de temáticas multidisciplinares além do recorte tradicional da avaliação. "Então acho que é um bom exercício identificar uma nova composição que respeite a história das diversas áreas, mas que caminhe ao que o momento da ciência e tecnologia demanda, muito mais multidisciplinar", conclui. A área de Engenharias I é responsável por avaliar cursos como engenharia elétrica e biomédica.
Medicinas
As Medicinas foram historicamente dividida em três áreas, explica o coordenador da área de Medicina II, João Pereira Leite. "Essa divisão histórica colocou em Medicina I os grandes programas clínicos, enquanto a Medicina II compreende também programas com perfil bastante clínico, mas com nichos temáticos. É a área que eu coordeno e envolve, por exemplo, os programas de psiquiatria, de neurologia, o conjunto dos programas de pediatria e saúde da criança e do adolescente, os programas de patologia e o grande grupo de doenças infecciosas e moléstias tropicais. Já a medicina III reúne programas com alguma vertente cirúrgica", conta.
Com o desenvolvimento dos critérios de avaliação, tem acontecido uma aproximação das áreas, afirma o coordenador. "Em Medicina I e II, utilizamos basicamente os mesmos critérios. Porque o comportamento dos programas, o nicho das revistas que são veículos que os programas publicam, são muito parecidos". O problema, segundo Leite seria o tamanho da área. "Do ponto de vista da filosofia da avaliação, as três áreas estão muito próximas. Acredito que uma junção poderia trazer ainda maior uniformidade a área, mas uma área com quase 200 programas poderia ter problemas de gerenciamento", pondera.
O coordenador da área de Medicina I, José Antonio da Rocha Gontijo, também concorda que o tamanho pode ser um problema para a avaliação única das medicinas. "Houve uma aproximação entre os critérios de avaliação e as características da avaliação de cada uma dessas áreas. No entanto a diversidade e quantidade de programas ainda são muito grandes", explica.
Por outro lado, Gontijo sugere formas em que essa fusão seria bem sucedida. "Poderíamos pensar em ter um comitê maior e como na interdisciplinar, um comitê único, defendendo critérios únicos, pois ainda existem peculiaridades entre essas áreas que deveriam ser afinadas, ser levada em consideração. Qualquer junção deve levar em conta que há especificidades, há produções que são muito características do ponto de vista de avaliação nas diferentes áreas de concentração", ressalta.
O exemplo da área interdisciplinar, que congrega diferentes cursos sob uma mesma área, também é evocado pela coordenadora da área de Medicina III, Lydia Masako Ferreira. "Eu penso que é bastante interessante pensar a junção no seguinte aspecto: nós uniformizaríamos outros sub-quesitos, outros itens, que podem estar um pouco diferentes, mas que de verdade, já não é mais diferente. Uma medicina única, talvez da mesma forma que a interdisciplinar, com blocos separados, porque o número de programas é muito grande. Seriam cerca de 200 programas, o que ficaria complicado para apenas um coordenador, dominar e conhecer a fundo a avaliação de todos", afirma.
Mesmo com o desafio da grandeza da área, para Ferreira, esse é o momento apropriado para se repensar o arranjo das medicinas. "Hoje, em 2013, é a primeira vez que Medicina I, II e III tem o mesmo fator de impacto nos extratos A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5. Elas são idênticas. Então agora nós podemos pensar numa avaliação única das medicinas porque ela está uniformizada", conclui.
Ciências Biológicas
A grande área de Ciências Biológicas experimenta na Avaliação Trienal 2013 um novo arranjo de disciplinas. As áreas de zoologia, botânica e oceanologia se fundiram com ecologia para formar a nova área de Biodiversidade. Para o coordenador da área, Paulo Jorge Santos, o conjunto de informações e de dados obtidos com essa reestruturação foi bastante positivo. "A nova área de biodiversidade incorpora um conjunto de programas que atuam na descrição, uso e conservação de recursos biológicos, fauna e flora, e tem uma homogeneidade grande apesar de suas atuações em diferentes aspectos da biodiversidade", explica. O coordenador explica que a área possui desafios por ser um pouco heterogênea. "Por isso, acabamos por criar instrumentos que não deixassem nenhum tema da área em descoberto. Assim, não vejo nesse momento a necessidade de fazer outras subdivisões ou reorganizações que envolvam a área de biodiversidade. Acredito que os programas ficaram bem acomodados dentro da reorganização e das métricas que construirmos para fazer a avaliação", afirma.
O coordenador da área de Ciências Biológicas III, João Santana da Silva, responsável por cursos especializados em parasitologia, microbiologia, imunologia, também elogia a nova organização. "Estamos bem no momento. Os critérios de avaliação entre todas as áreas das ciências biológicas são muito semelhantes, mas as áreas são diferentes. Embora elas tenham uma ligação, com os conceitos e métodos parecidos, também são áreas muito grandes. Pela quantidade enorme de programas, uma fusão complicaria. Agora com a área biodiversidade separada, temos um excelente arranjo", enfatiza.
O desenvolvimento de ferramentas de avaliação também deve promover uma nova divisão de áreas no processo, afirma o coordenador da área de Ciências Biológicas I, Augusto Schrank, responsável pela avaliação de cursos como biologia celular e genética. "Essa Avaliação de 2013 é um divisor de águas. Tivemos um avanço no desenvolvimento do sistema de avaliação e na equipe técnica da Capes que nos permite avaliar grupos de programas de maneira online, o que deve mudar a avaliação da pós-graduação no futuro. Acredito que isso deve provocar uma redução no número de áreas, mesmo com o crescimento do Sistema Nacional de Pós-Graduação, porque com o acesso a informação online é possível aumentar o número de programas avaliados em conjunto e a enorme quantidade de produção desses programas. Em nossa área nós temos 1.200 orientadores e a produção nesse triênio foi de 11.760 artigos científicos, uma produção dessa magnitude tem que ser avaliada com muito critério, e os sistemas de informatização tem possibilitado isso", afirma.
Pedro Matos