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SETEMBRO AMARELO
Convívio social é termômetro da saúde mental, diz psicólogo
O convívio social funciona como um termômetro da saúde mental. A percepção que temos de nós mesmos é influenciada pela do outro, principalmente do nosso círculo social. A explicação é de Gerson Yukio Tomanari, coordenador da área de Psicologia junto à CAPES e professor titular da Universidade de São Paulo (USP), que ressalta a importância de se falar sobre o tema, não tratá-lo como um tabu, para que a sociedade possa entender. No já tradicional Setembro Amarelo, mês destinado a ações de prevenção ao suicídio, a Fundação traz uma entrevista com um especialista com uma análise sobre a pós-graduação nesse contexto.
O que é saúde mental, em sua visão? Como se relaciona com a pós-graduação?
A saúde mental é um conceito que a gente usa que, grosso modo, representa uma disposição de vida que coloque a pessoa numa posição confortável para exercer suas atividades de trabalho, de estudo, de convívio com familiares e amigos. É um estado de bem-estar que não é pleno, mas nos permite fazer todas essas atividades que nos geram prazer. E quando essas atividades do dia a dia vão deixando de dar prazer, é aí que baixa nossa satisfação, nosso vigor, nosso prazer pela vida e pelas atividades. Esse decréscimo de satisfação e motivação pode chegar a pontos mais extremos, classificados como estados depressivos, e atingir graus que imobilizam a pessoa. Não existe um ponto de corte entre saúde mental e insalubridade mental. Um conjunto de fatores leva a estados de maior ou menor saúde mental.
A pós-graduação é uma das camadas da vida da pessoa. Não é o todo, mas costuma ser central. Todo pós-graduando sabe o quanto a dedicação à pós-graduação toma de tempo na vida. Nesse ponto, o convívio na vida acadêmica é uma fonte muito importante de satisfação: é o momento em que se dá a aprendizagem, o contato com outros pós-graduandos, com professores, com pesquisadores, é o produzir conhecimento, levantar questões que podem ser respondidas cientificamente. É um momento muito instigante para quem tem essa vocação.
Não existe, porém, felicidade plena. A pós-graduação passa por frustrações, dificuldades (uma disciplina mais difícil, a pesquisa sair da rota planejada). No caso dos nossos pós-graduandos, temos visto uma frustração de não haver dedicação total à pós-graduação. Ao longo dos anos, a desvalorização das bolsas levou os estudantes a terem que se dedicar a outros pontos, gerando uma sobrecarga de atividades. A CAPES reconheceu essa situação e deu aos estudantes a possibilidade de poder aliar as bolsas a outras atividades remuneradas.
Como o senhor analisa os impactos da pandemia para a saúde mental dos pós-graduandos?
Na Avaliação Quadrienal, a CAPES inseriu um campo para que os programas de pós-graduação relatassem os impactos da pandemia. Isso foi em 2021, com os impactos ainda iniciais. Muitos estudantes perto de se formar precisaram de prorrogação de prazo. Muitos estudantes tiveram dificuldade para continuar suas pesquisas, por diversas razões. Nossa expectativa é de que o maior impacto da pandemia sobre os dados objetivos da pós-graduação tenhamos na próxima Quadrienal, com os dados até 2024.
O que já temos visto, de uma forma não muito sistemática e objetiva: os programas relatam medo grande de prorrogação de prazo. Muitos prazos foram vencidos. Alguns programas relatam que os estudantes não conseguiam fazer coletas de dados presenciais na pandemia. Houve impedimentos e dificuldades, até restrição de acesso. Houve questões operacionais, práticas, objetivas, mas também ouço de programas que houve evasão de estudantes que acabaram se distanciando muito do processo, da rotina da pós-graduação, com o distanciamento social. O impacto que vejo, de momento, são desistências, algumas evasões, muitas prorrogações de prazo. O isolamento social trouxe o distanciamento da vida acadêmica, do convívio social acadêmico, tão importante para a saúde mental dos nossos estudantes.
Quais dicas daria para se manter a saúde mental em dia?
Creio que o simples fato de estarmos falando sobre saúde mental em si já é muito positivo. O tema não precisa ser um tabu. Pode e deve ser falado. Quando pessoas que têm destaque na mídia afirmam que não estão bem, isso traz visibilidade ao tema. Isso vai difundindo a ideia de que estados mentais podem ser importantes.
Na semana que passou, tivemos o caso do Richarlison (jogador de futebol da Seleção Brasileira que disse viver problemas fora do campo com pessoas próximas e que vai procurar psicólogo). Também pensei na Simone Biles (ginasta norte-americana que desistiu das principais provas dos Jogos Olímpicos de 2020 e colocou o debate sobre saúde mental em pauta). Esse tabu que eles quebram é o tabu da plenitude da saúde mental. O mito da felicidade plena.
Dito isso, algo que é muito importante, em se tratando de saúde mental, é a preservação da convivência social. A percepção que temos de nós mesmos muitas vezes vem da percepção que o outro tem. Esse compartilhar de experiências é muito importante para a saúde mental. E a pandemia interrompeu isso. Aumentou o isolamento. E, aos poucos, nossa sociedade está retomando a convivência. A convivência acadêmica, o retorno das atividades coletivas, é muito importante. O convívio social funciona como um termômetro da saúde mental, pois nos mostra em que ponto estamos de sofrimento, do quanto estamos nos impedindo de realizar atividades que nos dão prazer.
É importante buscar acompanhamento profissional?
Pode chegar a um ponto em que a ajuda profissional é fundamental. É o caso quando a situação mental impede que a pessoa faça atividades prazerosas. Esse seria um critério, um radar, um termômetro: perceber que o estado atual impede, atrapalha a pessoa de fazer coisas importantes para a própria vida. Existem muitas universidades que oferecem atendimento, alguma forma de acolhimento. Havendo essa oportunidade no serviço público ou na própria universidade, eu aconselharia essa busca.
O cuidado com a saúde mental envolve uma série de fatores, portanto.
O pós-doutorando sabe que há momentos em que se vira a noite, não tem jeito. Seus amigos vão viajar no feriado, e você não pode ir. Faz parte. E é importante encontrar válvulas de escape. Algumas pessoas gostam de caminhar, outras de correr, nadar, fazem ioga. A pausa não significa parar completamente, ficar deitado no sofá. A ideia é interromper momentos de sobrecarga com momentos que tragam satisfação. Tem gente que preza o convívio social, outras vão pelo esporte, pelas artes, pela leitura de um livro. É importante diversificar suas atividades, buscando sempre dar espaço para as atividades prazerosas.
Legenda das imagem:
Imagem dentro da matéria
: Gerson Yukio Tomanari é coordenador da área de Psicologia junto à CAPES
(Foto: William Santos - CGCOM/CAPES)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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