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Consultores experientes e novatos falam sobre a avaliação dos cursos de pós-graduação
Há mais de 20 anos participando da avaliação e acompanhamento dos cursos de pós-graduação stricto sensu, uma das consultoras da área de odontologia na Avaliação Trienal 2013 , Ana Maria Bolognese, falou sobre a evolução dos processos. Docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bolognese disse que a avaliação suscitou, há duas décadas, em um salto qualitativo bem definido e que, com isso, o sistema induziu o aperfeiçoamento de toda a parte de publicações, de geração de patentes e todas as outras formas de produção que estão envolvidas no conhecimento científico.
"O que eu posso notar, em termos de visualização gráfica das respostas, é que houve uma curva ascendente, positiva, trazendo uma expressiva melhora para toda comunidade científica. O que se vê atualmente, e que nós esperamos, é que as propostas de internacionalização e de atuação junto ao ensino básico estão sendo trabalhadas para serem efetivadas, o que sempre foi o objetivo de Anísio Teixeira", disse.
A professora, dentre mais de mais 1.200 consultores vindos de todas as regiões do Brasil, trabalharão durante quatro semanas no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) avaliando 5.700 cursos de mestrado profissional, mestrados e doutorados acadêmicos autorizados a funcionar no país. Os dados analisados têm como base as atividades dos anos de 2010, 2011 e 2012. A primeira semana da Avaliação Trienal foi aberta nesta segunda-feira, 30 de setembro.
O consultor Siang Wun Sang, da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a evolução dentro da sua área, a computação. Segundo ele, há cerca de 15 anos, quando era coordenador de área da Capes, havia aproximadamente 30 programas e hoje já somam quase 80. "Temos uma área em crescimento e muitos cursos são mais novos. Temos que analisar cuidadosamente quais são os cursos que precisam de alguma promoção de nível, os que precisam de um 'puxão de orelha', pois quando se tem um crescimento muito grande é diferente de uma área que é mais estabelecida, que não muda muito", explicou.
Para Sang, houve evolução na equipe de consultores para realização da avaliação. "Lembro, na última avaliação que participei, há uns seis anos, que a equipe era pequena. Dava um trabalho muito grande. Dessa vez, além da comissão permanente, chamaram consultores externos. Acho que essa equipe ficou proporcional ao tamanho da área e isso foi excelente", afirma. O professor também reconheceu a importância da realização dos
Seminários de Preparação
, realizados no mês de agosto e disse que o sistema, em um geral, melhorou bastante.
Evolução
Para Moisés Goldbaum, consultor da área de saúde coletiva e vinculado à USP, a avaliação é um processo de sucesso que o Brasil apresenta para o resto do mundo. "É o melhor sistema de avaliação que temos, embora nenhum seja perfeito, e tem funcionado como um sistema indutor para a produção de recursos humanos e de conhecimento. Realmente tem funcionado muito bem nesse papel", afirmou.
Goldbaum disse que, apesar do êxito de todo o processo, isso não significa que não seja preciso fazer revisões para aprimorá-lo. "À medida que a indução vai chegando num certo ponto, também temos que rever como é feita a avaliação, assim como já aconteceu quando a classificação era por letras – o poder de discriminação passou a ficar muito pequeno e foi preciso mudar", contou.
Sobre a área de saúde coletiva, Goldbaum disse que a comunidade recebe bem o processo de avaliação e que este deve ser olhado como um processo indutor dos avanços que o setor necessita. "Acho que a área responde bem a isso, tanto que os programas têm tido um deslocamento para a direita no ponto de vista acadêmico, já que estão subindo de conceito, entendendo que essa é uma forma de responder social e academicamente às nossas demandas na pós-graduação", concluiu professor.
Iniciantes
Henrique Bursztyn, consultor da área de matemática e vinculado ao Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Emília Celma Lima, da área de química e vinculada à Universidade Federal de Goiás (UFG), e Wagner Prado, da área de educação física e professor na Universidade de Pernambuco (UPE), participam pela primeira vez de uma Avaliação Trienal e ainda não tiveram experiência como consultores nas respectivas áreas. Desta forma a visão dos três como consultores iniciantes é de certo estranhamento e surpresa.
"Estou vindo pela primeira vez e não tinha uma ideia muito clara do volume de trabalho envolvido. É enorme, o que me surpreendeu um pouco", disse Henrique Bursztyn. Na área de matemática, segundo ele, são 15 consultores e mais de 50 programas. Uma média de três a quatro por pessoa. "Tive alguma dificuldade na análise dos dados, na forma como são apresentados. São vários arquivos separados, que têm que juntar. Existem maneiras que facilitariam a análise dos dados, se fossem consolidados todos os anos juntos", analisou.
Já para Emília Lima, a infraestrutura disponibilizada pela Capes é adequada, apesar de haver alguns problemas nos aplicativos e sistema informatizado, que já tem previsão de serem resolvidos com uma nova plataforma que já está sendo trabalhada. "É muito legal você ver a preocupação que todos estão tendo de avaliar da melhor maneira possível, de ficar horas revisando os dados. É legal ver que é tudo muito profissional e feito com boa vontade. A experiência é muito boa. Outra percepção, vindo aqui pela primeira vez, é que eu posso fazer mais pelo meu programa."
Já Wagner Prado revelou. "É muito mais trabalho do que eu imaginava estando de fora". Segundo o professor, quando foi coordenador no seu programa de pós-graduação, a impressão que tinha sobre a avalição trienal era como algo muito mais subjetivo, mais tranquilo, o que na verdade não é. "Minha perspectiva agora é de muito trabalho. A avaliação é muito concreta, muito objetiva, sem muitos vieses, diferente do que a gente acha quando está fora", afirmou.
Natália Morato e Fabiana Santos