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POLÍTICAS AFIRMATIVAS
Consciência negra: bolsistas da CAPES contam suas histórias
A biomédica Adriane Torquati, 23 anos, é uma mulher preta, filha de uma ex-empregada doméstica e cursa mestrado em Ciências Farmacêuticas na Universidade de Brasília (UnB) com bolsa da CAPES. O biólogo Alex da Silva Barbosa, 34, também é negro, veio de família de baixa renda e pagou parte dos estudos com o emprego que mantinha no contraturno. Só parou quando conseguiu uma bolsa do Programa Universidade Para Todos (ProUni). Hoje, é mestrando em Fitopatologia na UnB com auxílio da Fundação. As histórias de ambos são destaques neste 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
Apesar de não vir de família abastada, Adriane frequentou uma escola particular com o dinheiro que a mãe — “mãe solo”, como a própria Adriane faz questão de ressaltar — conseguia com seus empregos. A pesquisadora relata ter sofrido constantemente com o racismo no colégio, formado majoritariamente por pessoas brancas, o que, segundo ela, se refletia até na hora dos trabalhos em grupo. “Sempre ficava sozinha”, recorda.
A solidão de Adriane, no entanto, ganhou ares de pioneirismo, agora, na pós-graduação. “Eu sou a primeira pessoa da minha família a atingir um grau de formação tão alto. Então, é um peso que eu carrego, uma responsabilidade. E um orgulho, ao mesmo tempo, de pensar que, se eu cheguei lá, pessoas como eu também podem chegar”, conta. E a mãe conseguiu retomar os estudos, capacitou-se e hoje é técnica de enfermagem.
A representatividade é algo que Alex carrega na vida. Ele compõe a própria imagem com um cabelo black power, símbolo da resistência do povo negro, e se vê como um possível espelho para parentes mais novos. “Eu tenho sobrinhos negros, eu tenho irmãs negras. A partir do momento que eles me veem dentro de uma universidade pública, através de cotas, por exemplo, isso dá um certo gás para irem atrás”, conta o rapaz.
A entrada na universidade pública se deu somente na pós-graduação. Alex cursou toda a educação básica em escolas públicas, mas, como costuma ocorrer no País, fez universidade particular (cerca de 70% dos estudantes de graduação do Brasil estão em instituições privadas). Estudava de dia e trabalhava à noite para pagar as contas de casa e do curso, até que não conseguiu mais e trancou até ir bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e conseguir uma bolsa integral do Programa Universidade Para Todos (ProUni). “Se não fosse o ProUni, eu não teria conseguido me formar”, diz.
Os relatos de Adriane e Alex ocorrem em um momento no qual o Brasil tem retomado políticas de ações afirmativas. Em junho, a CAPES relançou o Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento, com um investimento de R$600 milhões voltado para a alta formação de grupos sub-representados, como o das pessoas pretas e pardas. Na última semana, o governo federal estendeu a vigência da Lei de Cotas até 2033 e incluiu a pós-graduação no texto da legislação.
Sobre o Dia da Consciência Negra
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra faz parte do calendário oficial de datas comemorativas do Brasil desde 2011. A data é celebrada a cada 20 de novembro e sua idealização se deu nos anos 1970, por sugestão do Grupo Palmares, que queria destacar o protagonismo das pessoas negras no dia da morte de Zumbi dos Palmares, último grande líder quilombola do período colonial. Em 2003, os calendários escolares adotaram a data, oficializada de forma definitiva pela Lei nº 12.519.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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