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Cientista estuda domesticação da mandioca na Amazônia
Alessandro Alves-Pereira é bacharel em Genética e Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mestre em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva, pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq/USP). O foco de seus estudos no doutorado e pós-doutorado, feito na Universidade de Campinas (Unicamp), financiados, em parte, pela CAPES, foi entender como o processo de transformação da mandioca na Amazônia, nos últimos nove mil anos, influenciou os níveis de diversidade genética. Parte de seus estudos foi publicado nas Revistas Evolutionary Applications e Scientific Reports e podem ser encontrados em https://doi.org/10.1111/eva.12873 e https://doi.org/10.1038/s41598-022-05160-8 .
De onde surgiu seu interesse em estudar a origem e o processo de diversificação da mandioca na Amazônia?
A Amazônia é amplamente conhecida por sua imensa diversidade biológica e cultural, mas também é um dos mais importantes centros mundiais de domesticação de plantas. Atualmente, a mandioca (
Manihot esculenta
ssp
. esculenta
Crantz) é o cultivo alimentício de origem amazônica com maior importância para o mundo, sendo a principal fonte de energia para mais de 800 milhões de pessoas. Como sou amazonense, queria estudar espécies nativas da região na pós-graduação, e queria seguir uma linha de pesquisas sobre domesticação. Então surgiu uma oportunidade de trabalhar com genética de mandiocas durante o mestrado, e essa vem sendo minha principal linha de pesquisa.
A mandioca é uma planta originária da Amazônia?
Existem fortes evidências genéticas e botânicas que sugerem que a mandioca foi domesticada no sudoeste da bacia amazônica, provavelmente na região onde hoje é o estado de Rondônia e áreas próximas no Mato Grosso, Acre e norte da Bolívia. Nós sabemos muito pouco sobre a história de dispersão e diversificação da mandioca após a sua domesticação inicial. É para tentar gerar pistas sobre esses processos que nós estudamos a diversidade genética contemporânea das mandiocas cultivadas ao longo dos principais rios da Amazônia.
Como você desenvolveu sua pesquisa?
Tanto no doutorado, na USP, como no pós-doutorado, na Unicamp, nós utilizamos técnicas modernas de sequenciamento de DNA para avaliar a diversidade genética de variedades de mandioca. No doutorado, avaliamos 140 mandiocas cultivadas em comunidades de agricultores familiares ao longo dos principais rios da Amazônia e as comparamos com 19 amostras de mandiocas silvestres provenientes de Rondônia. Com os dados de variação genética, tentamos inferir como se deu o processo de dispersão do cultivo na região Amazônica. Já no pós-doutorado, avaliamos 78 variedades de mandioca do banco de germoplasma da Esalq, e comparamos com algumas mandiocas silvestres. Essas mandiocas também foram coletadas em comunidades de agricultores tradicionais, mas em diferentes regiões do Brasil. Nós caracterizamos os níveis de variação genética desse material que pode ser de interesse para o melhoramento da cultura.
Quais os resultados encontrados?
Apesar dos trabalhos terem enfoques diferentes, em ambos os casos observamos um grande nível de diversidade genética nas variedades de mandioca. Esse resultado pode ser explicado pela forma como os agricultores tradicionais cultivam as mandiocas e pela biologia da espécie. A diversidade genética dos materiais avaliados nestas pesquisas é o material bruto que pode ser utilizado para o melhoramento do cultivo e sobre o qual os agricultores podem adaptar a mandioca para necessidades específicas. Portanto, os conhecimentos gerados durantes as pesquisas são valiosos para a melhor utilização e conservação dos recursos genéticos da mandioca.
Qual a importância da sua pesquisa para a sociedade?
Nossos estudos genéticos demonstram o papel fundamental que as populações de agricultores familiares possuem para a manutenção de uma impressionante diversidade nos cultivos amazônicos. Dessa forma, precisamos valorizar cada vez mais a agricultura familiar. Muitos outros cultivos importantes foram domesticados na Amazônia, e assim como para a mandioca nós pouco sabemos sobre suas histórias de domesticação e diversificação. Pode ser que outras plantas domesticadas próximas à área de origem da mandioca, como o urucum (
Bixa orellana
) e o amendoim (
Arachis hypogaea
), tenham sido espalhadas junto com a mandioca. Estes estudos nos ajudam a formular hipóteses sobre a pré-história amazônica. Compreender como a diversidade genética da mandioca está organizada no Brasil também tem importância prática, pois pode ser útil para a identificação de variedades tradicionais de mandioca para a conservação dos recursos genéticos da cultura. Num contexto de mudanças climáticas e de preocupação com a segurança alimentar, a manutenção da diversidade genética em espécies cultivadas é importante para que as culturas consigam se adaptar às mudanças ambientais e garantam a disponibilidade de alimentos.
Qual a importância da CAPES para sua pesquisa?
Em todos os níveis da pós-graduação tive bolsas de estudo da CAPES em pelo menos parte do tempo, o que me permitiu permanecer no meio acadêmico. Além disso, financiamentos da CAPES ajudaram a realização das pesquisas que desenvolvemos, como um projeto com tema de Biologia Computacional.
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1: E
vidências genéticas e botânicas sugerem que a mandioca foi domesticada no sudoeste da bacia amazônica
(Foto:
André Braga Junqueira
)
Imagem 2:
Alessandro Alves-Pereira fez pós-doutorado no Departamento de Biologia Vegetal, na Universidade de Campinas
(Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3:
Pesquisa estudou mandiocas cultivadas ao longo dos principais rios da Amazônia, em Rondônia e em banco de Germoplasma
(Foto:
André Braga Junqueira
)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CCS/CAPES)
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