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Ciência brasileira perde Luiz Hildebrando
Com reconhecimento internacional sobre malária e fundador de diversos órgãos de pesquisa no Brasil, o cientista Luiz Hildebrando Pereira da Silva (86) faleceu na noite desta quarta-feira, 24, por volta de 19h, de pneumonia, no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. Nascido em Santos (SP), o pesquisador que completou 86 anos em 16 de setembro estava internado no Incor desde o dia 8 deste mês.
Conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no período de 1969 a 1973 e sócio desde 1956, Hildebrando foi fundador do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia (Ipepatro), onde exercia o cargo de diretor presidente, e vice-diretor científico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Rondônia. O pesquisador compôs o Conselho Superior da Capes como representante da Comunidade Acadêmica de 2008 a 2011.
Hildebrando foi atraído para Rondônia em razão das pesquisas sobre malária. Ao longo de sua trajetória de vida produziu mais de 150 estudos sobre malária e doenças infecciosas.
Sua atuação também foi marcada por seus posicionamentos políticos. Em 1964, em pleno regime militar, Luiz Hildebrando Pereira da Silva foi preso, demitido do cargo de professor da Universidade de São Paulo (USP) e expulso do País. Encontrou as portas abertas no Instituto Pasteur, em Paris, onde viveu quase 30 anos e tornou-se uma das maiores autoridades internacionais em malária. Mas nem o exílio político forçado nem a boa acolhida parisiense fizeram o médico, parasitologista, tirar os olhos do Brasil.
Dedicação
A busca incessante por uma vacina fez com que Hildebrando travasse uma verdadeira guerra contra a doença nas últimas décadas. No período em que dirigiu o Departamento de Biologia Molecular do Instituto Pasteur, o professor se dedicou a uma incansável pesquisa sobre o mosquito transmissor Anopheles e o parasita Plasmodium, causadores da malária. Como o parasita tem grande capacidade de sobrevivência e resiste aos remédios disponíveis, até hoje não se descobriu a cura da doença. Assim que se aposentou do Instituto Pasteur, em 1997, fez as malas e voltou para o Brasil, onde desde 1998 assumiu a direção do Ipepatro.
O humanista e militante comunista sempre teve preocupação com as condições de vida das populações ribeirinhas. Enquanto pesquisou a malária, também organizou cooperativas agrícolas, que permitiam a autossustentabilidade das comunidades da região. A mobilização social era um dos traços do ex-militante do Partido Comunista (PCB), que teve a juventude pontuada por ações políticas. Durante a ditadura, foi articulador do processo de abertura política e testemunha da repressão aos círculos intelectuais nas universidades.
Dono de um currículo brilhante, Hildebrando estudou medicina na Universidade de São Paulo (USP), onde se tornou professor na década de 50. Participou de pesquisas de campo no Nordeste brasileiro e na África, onde acabou por contrair malária no Senegal. Em Paris, trabalhou com o geneticista François Jacob, Nobel de Medicina em 1965. Poderia ter ficado em Paris, colhendo os louros de uma carreira de prestígio internacional. Mas isso seria "chato", gostava de dizer aos amigos.
Este ano, o cientista foi agraciado pela Fundação Conrado Wessel (FCW) na categoria Ciência no Prêmio FCW 2013 por sua contribuição à sociedade.
(Com informações da SBPC)