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Capes reúne especialistas para discutir os rumos da Oceanografia no Brasil
O Brasil possui 7.491 km de fronteira marítima. Multiplicando pelas 200 milhas da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), que separa às águas nacionais das internacionais, o resultado é uma área econômica brasileira de 4.451.766 km2. Mais da metade do território continental Brasileiro e maior do que a própria Amazônia, daí a origem do nome "Amazônia Azul". As possibilidades de estudos, riquezas e conhecimento que esse mundo azul oferece à sociedade brasileira são incomensuráveis. Trata-se, contudo, de um oceano ainda não desbravado. A carência de incentivo nessa área reflete no número de cursos de pós-graduação em Oceanografia e demais ciências do mar, apenas 12 em todo o País.
Foi frente a essa realidade que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) convocou alguns dos maiores especialistas em oceano do país para a 3ª reunião visando articular o futuro dessa carreira. Vinte coordenadores e representantes de Instituições de Ensino Superior (IES), do Ministério de Ciência e Tecnologia e da Marinha se reuniram com o presidente da Capes, Jorge Guimarães, e com o diretor de Programas de Bolsas no País, Emídio Cantídio, para a discussão de um novo edital que pretende expandir substancialmente os estudos do oceano no Brasil.
Amazônia Azul
O entendimento da Capes de que é necessário um programa especial para a formação de doutores em ciências do mar não vem de hoje. Há algum tempo há uma demanda pelo aperfeiçoamento de recursos humanos nessa área, que vem principalmente da Marinha, e que a estrutura de cursos de pós-graduação em Oceanografia não consegue atender. Em 2006, a Capes criou o Programa Amazônia Azul para estimular o crescimento do número de pesquisadores nessa área. A iniciativa não funcionou como esperado e apenas quatro bolsas foram concedidas.
Diagnósticos e dificuldades
Todos os pesquisadores revelaram surpresa quando o presidente da Capes anunciou que aquela reunião era para a montagem e lançamento de um novo edital para pesquisa e formação de recursos humanos em Oceanografia. A iniciativa faz parte de uma das novas tarefas de fomento da pesquisa científica através da concessão de bolsas no país, os programas de Indução. Esses programas atendem a demandas de setores da sociedade e do Estado, que solicitam à Capes a formação de pessoal qualificado em determinadas áreas. No caso das ciências do mar, trata-se de uma demanda da Marinha.
Embora a área de Oceanografia tenha crescido nos últimos anos - foram criados três novos cursos de mestrado e seis têm doutorado -, o presidente da Capes acredita ser necessário reforço nas iniciativas para acelerar a formação de quadros, especialmente no doutorado.
O diagnóstico realizado pela Capes, juntamente com a Marinha, mostra que as ciências do mar são uma área que requer atenção especial, face ao seu caráter estratégico para o País, por isso é importante orientar de forma precisa os termos do edital. O problema a ser enfrentado para atender às necessidades do país não é de ordem qualitativa, mas quantitativa. Em todo o ano de 2007, apenas 27 doutores foram formados.
Planos e projetos
Diante dessa realidade, os planos do novo edital para a Oceanografia não poderiam ser modestos. O valor ainda não está definido, mas algumas medidas já foram requisitadas pelos pesquisadores presentes à reunião. Uma das idéias é mandar 100 estudantes para o exterior com bolsas de doutorado pleno para estudar em alguns dos melhores centros de ciências marítimas do mundo. Outros editais não dispõem mais desse incentivo ao doutorado-pleno. A sugestão é de afinar o trabalho com a Diretoria de Relações Internacionais e conseguir parcerias bilaterais com países não centrais, como Canadá ou Noruega, que podem passar experiências interessantes aos pesquisadores brasileiros.
O professor Jorge Guimarães também expôs a iniciativa da realização de intercâmbios internacionais. Uma das modalidades é a graduação-sanduíche, com duração de até 14 meses e titulação dupla, se as universidades concordarem. Uma requisição dos pesquisadores foi que os estudantes tenham acesso a embarcações em alto-mar, o que explicita a necessidades da realização de parcerias na elaboração do edital. Por exemplo, a Capes forma os recursos humanos e a Marinha disponibiliza barcos. "É importante pensar em acordos não apenas entre Instituições Federais ou de ensino, mas também com empresas e o setor privado", salientou o professor Luiz Drude de Lacerda, coordenador do curso de Ciências Marinhas Tropicais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Outro pedido foi a criação de políticas de seqüenciamento que possibilitem a continuidade do trabalho depois que o pesquisador volta de um doutoramento para o Brasil.
Um dos consensos para o novo edital é o avanço da área com formação de redes. É importante integrar as áreas que compõem as ciências do mar e pensar em um projeto que as contemple como um todo. Da biologia marinha à geofísica de oceanos. Foi estabelecido prazo de 15 dias para que os coordenadores e especialistas analisem e ajustem o edital. Os pesquisadores foram também incentivados a repassar as informações aos demais acadêmicos e tornar pública a construção do edital. O programa está aberto para contribuições, considerações e sugestão de áreas temáticas. Para o presidente da Capes, esse é mais um plano para a construção de uma nova realidade brasileira. "Estamos longe de ter a massa crítica de recursos humanos necessária para a construção desse País. Precisamos ainda muito mais", afirmou o professor Jorge Guimarães.