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Bolsistas da Capes organizam congresso internacional em Portugal
Os bolsistas de Doutorado Pleno no Exterior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Gisele Cristina da Conceição, Fabiano Bracht, Monique Palma e Wellington Bernardelli Silva Filho, foram responsáveis por organizar na última semana em Portugal a conferência internacional de história das ciências “ Connecting Worlds: Production and circulation of knowledge in the First Global Age ”.
O evento aconteceu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) nos dias 18 a 20 de maio e contou com um grande número de especialistas na área, vindos do Brasil, Estados Unidos, Espanha, França e Portugal. “A conferência teve como principal objetivo, reunir alguns especialistas que discutem a produção e circulação de conhecimento ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, entre a Europa e os territórios coloniais”, explica Gisele.
A bolsista destaca a formulação das bases teóricas do congresso como um dos pontos importantes da preparação realizada. “Trabalhamos com teorias recentes em História e Filosofia das Ciências, como a do professor Kapil Raj (Centre Alexandre-Koyré – EHESS), onde a questão da circulação e reconfiguração do conhecimento científico são pontos centrais para compreendermos os processos de formação e transformação da ciência. Depois de termos as bases teóricas formuladas, convidamos para participar do Connecting Worlds alguns dos mais renomados professores de Portugal, França, Espanha, Estados Unidos e do Brasil”, ressalta.
Além dos professores convidados, o encontro teve chamada de artigos para a comunidade acadêmica. Assim, foram aprovados trabalhos de estudantes de vários países, alguns deles do Brasil, inclusive bolsistas da Capes. Confira a lista de palestrantes convidados pelo evento.
De acordo com Gisele, um dos pontos fortes do evento foi a amplitude de temas em História das Ciências. “Para nós bolsistas da Capes, os resultados ultrapassaram as expectativas. Como somos pesquisadores ainda em formação, ter contato com especialistas dos principais centros da Europa, Estados Unidos e Brasil, foi fundamental para a nossa formação. Ter a oportunidade de organizar um encontro científico de elevado nível, aumenta ainda mais a gama de conhecimentos adquiridos ao longo do doutorado na Europa. Muitas foram as relações estabelecidas, e nossas redes de contato tornaram-se ainda mais amplas.”
Teses em Portugal
A tese de doutorado de Gisele é sobre a produção de conhecimentos científicos sobre Filosofia Natural do Brasil no século XVIII, e a relação deste conhecimento com o pensamento iluminista. “Posso situar meu trabalho, em simultâneo, no domínio da História da Expansão Portuguesa no período Moderno, dos Estudos Coloniais, do estudo do Brasil colônia, ao mesmo tempo em que o enfoque seguido o situa no âmbito da História das Ciências. Meu objetivo é centrar a análise na produção de conhecimento, fundado em experiências de observação em território colonial brasileiro, que me permitam indagar acerca das bases de construção de um novo paradigma científico, tentando focar na circulação de conhecimentos sobre Filosofia Natural entre Portugal e o Brasil”, explica.
O estudo do Brasil colonial justifica a realização do trabalho em terras portuguesas. ”A importância de se realizar um estudo como este no exterior, no meu caso, em Portugal, reside no fato de os arquivos portugueses estarem recheados de fontes documentais sobre este período com relação específica a este tema. Por exemplo, um ponto marcante nas minhas pesquisas nos arquivos portugueses, foi encontrar na Biblioteca Nacional de Portugal, um documento inédito do médico e intelectual português António Nunes Ribeiro Sanches, onde ele disserta sobre a importância de Portugal conhecer e reconhecer as potencialidades naturais do Brasil”.
A tese do bolsista Fabiano Bracht, trata da produção e circulação de conhecimentos médicos na Índia portuguesa do século XVIII, uma fonte documental que ele analisa tem cerca de 1.600 páginas, e o autor do manuscrito relata uma série de plantas indianas, brasileiras e europeias, e seus usos para a Medicina do período. O mesmo acontece com Monique Palma, que estuda transferências de conhecimentos médico-cirúrgicos entre Portugal e o Brasil no século XVIII. E com Wellington Silva Filho, cuja tese trata de estudos das obras do Frei Joao de Jesus Maria e suas relações com a flora brasílica.
Rede
A rede de contatos possibilitada pela experiência da pós-graduação no exterior é um dos principais pontos ressaltados por Gisele com relação à formação fora do país. “Quando iniciei o processo seletivo para a bolsa do Doutorado Pleno Exterior, eu sabia que ganharia experiências importantíssimas para a minha carreira e para a vida. Só que, quando tudo começa a se concretizar, quando o trabalho começa, e as dificuldades surgem, você percebe que os ganhos serão muito maiores e muito mais vastos do que se poderia imaginar. Poder estar inserida em uma instituição com tanta tradição e sofisticação científica, é imensurável”.
A importância de se desenvolver a tese no exterior está fundamentalmente na troca de experiências, define Gisele. “O nosso contato com pesquisadores de várias partes da Europa, e outros países, é constante. Existe uma grande circulação de professores entre as instituições europeias, o que acaba facilitando a troca de ideias e conhecimento. E esta troca, esta possiblidade de contato com a diversidade de pesquisadores e pesquisas, é fundamental para a construção da ciência, e está sendo muito importante para a construção de nossas teses. A rede de contatos que estamos formando, enquanto em Portugal, será levada adiante, e muitos serão os frutos que podemos colher ao longo de nossas carreiras”.
Retorno
A ideia da bolsista é poder retornar esse conhecimento ao Brasil. “Os desafios são constantes, e o aprendizado é diário. O leque de conhecimentos que venho adquirindo desde 2013, ultrapassa as barreiras da minha Tese. Voltarei para o Brasil com uma carga de conhecimentos e cultura que nunca imaginei que pudesse absorver. Espero poder retribuir estes ganhos em sala de aula, quando estiver ministrando minhas próprias disciplinas, ou orientando alunos”, enfatiza Gisele.
O seminário “ Connecting Worlds ” também teve essa preocupação, de não apenas tentar estabelecer resultados para os projetos de tese, mas também, para o cenário científico brasileiro. “Quando pensamos no tema da Conferência, pré-estabelecemos que seria primordial a participação de pesquisadores brasileiros. Primeiro, porque temos excelentes professores/pesquisadores, no país, e um grande volume de publicações em História das Ciências, e depois, porque faria todo sentido, uma vez que somos estudantes brasileiros, envolver professores de alguns dos grandes centros de pesquisa do país. Segundo, porque a troca de conhecimentos envolvendo pesquisadores de vários países tornaria a conferência muito mais dinâmica, produtiva e rica, do ponto de vista científico.”
A estudante brasileira acredita que a formação qualificada dos profissionais no exterior pode gerar impactos positivos ao país. “Quando a Capes financia um estudante brasileiro para desenvolver seus estudos em outro país, ela não está financiando apenas um produto final de qualidade, ou seja, uma tese. Mas, também está financiando o desenvolvimento daquele indivíduo como um profissional altamente qualificado, capaz de construir redes de contato com pesquisadores de diversos países e instituições”.
Neste sentido, Gisele acredita que os bolsistas já começaram a retribuir de alguma forma o investimento do país. “Quando ultrapassamos as barreiras dos trabalhos que, individualmente, realizamos, e produzimos trabalhos paralelos, estamos contribuindo para o dinamismo da ciência brasileira, e estamos divulgando os trabalhos que são desenvolvidos por brasileiros, seja em território nacional ou no exterior”, conclui.
Saiba mais sobre o Programa de Doutorado Pleno no Exterior .
Consulte nesta página matérias sobre a atuação de outros bolsistas da Capes.
( Pedro Arcanjo )
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