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Bolsistas brasileiros criam processo inovador em indústria canadense
Os bolsistas brasileiros do Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) no Canadá Douglas Chesini, Jean Mario Moreira de Lima e Marco Aurélio Lage Duarte são responsáveis pela criação de um processo de engarrafamento único para uma adega canadense que pode revolucionar a forma como vinho espumante é fabricado. O trabalho fez parte das aulas do curso de Automação Industrial do North Island College (NIC). O projeto foi apresentado na instituição ao fim do primeiro semestre de aulas de 2015.
"Entramos em contato com o professor do curso de Automação Industrial Brad Harsell e relatamos a necessidade de um estágio para melhor aproveitamento do curso", conta Marco Aurélio. O professor então começou a olhar as possibilidades quando foi procurado pelo proprietário da Hornby Island Estate Winery and Farm (empresa de vinhos e espulmantes), John Grayson, que apresentou um problema em sua produção.
Desafio
Cabia aos alunos bolsistas um desafio único: encontrar uma solução absolutamente imóvel para as super-finas bolhas de vinho espumante. A vinícola precisava de um processo de engarrafamento automatizado em que poderia encher garrafas sem agitá-las. "John estava desenvolvendo um tipo de vinho espumante o qual ele chamava de Magic Bubbles. O problema era que qualquer ar, vibração ou distúrbio durante o processo de engarrafamento mudava o gosto do produto e, com isso, ele estava engarrafando manualmente, sem poder usar os mesmos maquinários para os vinhos comuns", explica o estudante brasileiro.
A adega canadense possui um método inovador para produção de espumantes. "Esse método, em inglês 'Fine Bubble Technology', consiste na adição de milhões de minúsculas bolhas no processo de produção do espumante. Essa nova tecnologia utilizada pela adega melhora significativamente o gosto e a qualidade dos espumantes, porém, necessita obrigatoriamente zero turbulência no processo de engarrafamento, pois qualquer mínima agitação traria a adição de dióxido de carbono no espumante, fato totalmente indesejável para o bom funcionamento dessa nova tecnologia", explica o bolsista Douglas Chesini.
O proprietário da empresa de vinhos e espumantes, John Grayson, afirmou que a produção dele é única, portanto não poderia ir para a indústria solicitar auxílio. "Assim, os estudantes do NIC ajudaram a desenvolver a minha ideia e passamos a curva de aprendizado em conjunto".
Desenvolvimento
Depois de tentar diferentes bicos, mangueiras e os métodos de enchimento, eles desenvolveram um processo para lidar com vinhos e bebidas que resulta em pequenas bolhas tão estáveis que não se dissipam mesmo se deixada ao ar livre durante cinco dias. "O projeto foi desenvolvido em três semanas e meia, nas quais planejamos, desenvolvemos e fabricamos uma máquina única que se adaptou no tanque já utilizado na produção. A máquina engarrafa em 53 segundos podendo ser acompanhada a distância por meio de câmeras e um sistema supervisório que fornece todas as informações sobre a produção", conta Marco Aurélio.
"A nossa criação consistiu na construção de um protótipo (robô industrial) para o engarrafamento automático dos espumantes para satisfazer o requerimento de 'zero turbulência'. Além disso, o projeto em questão teve que provir um meio de obter exatamente o mesmo nível de líquido em cada garrafa automaticamente preenchida com espumante. Para essa criação, nos utilizamos de todo o conhecimento adquirido no diploma em Automação Industrial no NIC", afirma Douglas.
O processo também elimina o chamado "bottle shock", um subproduto dos métodos tradicionais de engarrafamento que provoca odores indesejáveis e requer um tempo precioso para o vinho para se recuperar. "O que faz o nosso projeto único e diferente das centenas de plantas industriais de engarrafamento disponíveis no mercado é justamente o fato da nossa criação provir um método automático com exatamente zero turbulência ou bolhas no processo de engarrafamento. Esse projeto é inovador e, justamente com a 'Fine Bubble Technology', tem o potencial de revolucionar a produção de espumantes no mundo", conclui Douglas.
Atualmente o protótipo está em processo de patente em nome do College que, em seguida, será negociada expansão para oito garrafas ao mesmo tempo e para outros tamanhos de garrafa, para, enfim, fabricação e venda.
Experiência no exterior
Sobre a experiência no exterior, Marco Aurélio, enumera uma série de ganhos que a graduação-sanduíche permitiu em sua trajetória acadêmica e de vida. "Melhorei meu inglês que antes só sabia o básico, estudei e me graduei como técnico na mesma área em que vou formar engenheiro o que une teoria e prática, conheci novos lugares e culturas, voltei muito mais confiante e com vontade de produzir e aprender mais, aprendi a conviver e respeitar diferentes culturas e pessoas", conta.
Douglas destaca o papel do Ciência sem Fronteiras nesse processo."O crescimento, tanto profissional, educacional e pessoal, bem como a nova visão de mundo adquiridos com o intercâmbio, fazem do programa Ciência sem Fronteiras uma oportunidade maravilhosa para qualquer estudante brasileiro. O enriquecimento trazido por todos os fatores encontrados e pelo tempo vivido em um país superdesenvolvido foram e sempre serão fundamentais para que nós estudantes possamos perceber o quanto nosso conhecimento é valioso, e que a 'arte' de aprender jamais terá limites", define.
Ciência sem Fronteiras
Lançado em dezembro de 2011, o
Ciência sem Fronteiras
busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) por meio de suas respectivas instituições de fomento – Capes e CNPq.
Além disso, busca atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores brasileiros nas áreas prioritárias definidas no programa, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam treinamento especializado no exterior. Dados do programa podem ser consultados no Painel de Controle do CsF .
(Pedro Arcanjo)