Notícias
Pesquisa com insetos garante prêmio à bolsista nos EUA
Após competir com os estudantes de pós-graduação de diversos cursos da University of Florida (UF), a bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo programa Ciência sem Fronteiras (CsF) de doutorado pleno no exterior, Vanessa Dias, foi premiada com o Emerging STEM Scholar Award . Trata-se do prêmio de maior prestígio para jovens cientistas na área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemáticas – na sigla em inglês) da instituição.
A premiação aconteceu no dia 1º de março, como parte das comemorações do Mês da História das mulheres na instituição. A Association for Academic Women (AAW) organiza todos os detalhes do prêmio que avalia não apenas as conquistas e o potencial de transformação e impacto da candidata na sua área de estudo, mas o papel de liderança desempenhado pela concorrente. “Acredito que a minha produção científica, os prêmios que recebi nos últimos anos e o meu papel de liderança na comunidade científica brasileira no exterior contaram muito para o recebimento do Emerging STEM Scholar Award ”, afirma Vanessa.
A estudante brasileira se diz honrada com a premiação. “Fiquei muito feliz em poder representar uma minoria e divulgar o potencial brasileiro na University of Florida , uma das melhores universidades públicas dos Estados Unidos. O programa Ciência sem Fronteiras conta com a participação de muitos bolsistas de doutorado na UF e receber um prêmio como este significa muito não apenas para mim, mas para todo o programa do CsF na universidade. Além disso, poder ser reconhecida como uma mulher de sucesso na área de STEM é extremamente gratificante. Sabemos do grande viés masculino dentro da área e ser escolhida como uma representante a nível de universidade é uma grande responsabilidade”, ressalta .
Técnica do Inseto Estéril
A pesquisa de Vanessa visa ao melhoramento de uma técnica de controle de insetos pragas chamada Técnica do Inseto Estéril (TIE), uma estratégia de controle ambientalmente segura. “A técnica consiste na liberação de machos estéreis nos pomares para que a população do inseto alvo seja reduzida por meio do acasalamento entre o macho estéril e a fêmea selvagem. A esterilização dos machos usados na TIE se dá pelo uso de radiação ionizante (raio X e raios gama, por exemplo), procedimento que resulta em efeitos colaterais nos insetos tratados de forma análoga a pacientes de câncer que sofrem com os efeitos negativos de uma radioterapia. Nas moscas usadas no meu estudo, a radiação ionizante afeta, por exemplo, a produção de feromônio sexual e a frequência do som emitido durante o comportamento de corte desses insetos.
Ambos aspectos, feromônio e som, são extremamente importantes para o sucesso de acasalamento dos machos estéreis. “Visando melhorar a qualidade dos machos estéreis e tornar a TIE mais efetiva, meu projeto usa moscas transgênicas com a capacidade de produzir grandes quantidades de enzimas antioxidantes para minimizar um dos principais efeitos colaterais da radiação, o estresse oxidativo. Vários fatores de estresse, como calor e radiação, geram estresse oxidativo como resultado do aumento significativo de moléculas e átomos instáveis, chamados de radicais livres, capazes de fazer ligações químicas com importantes biomoléculas (lipídios, proteínas e ácidos nucleicos). Quando os radicais livres reagem com biomoléculas, eles são capazes de alterar a conformação das mesmas, afetando o funcionamento de importantes aspectos do organismo. Usando técnicas de engenharia genética, fisiologia e comportamento numa abordagem multidisciplinar, meu projeto de doutorado contribuirá para a redução dos efeitos negativos do estresse oxidativo nos machos estereis usados na TIE”, explica. Para a bolsista, o trabalho permitirá o avanço da técnica não apenas no Brasil, mas em todo mundo.
De acordo com a estudante, o desenvolvimento do estudo fora do Brasil é fundamental devido ao caráter de inovação da pesquisa. “Na University of Florida, consigo ter acesso a várias técnicas e especialistas que ainda não temos no nosso país. Por exemplo, em apenas uma instituição parceira, o United States Department of Agriculture (USDA), nossa equipe pode desenvolver trabalhos de análise química (feromônio), acústica (som) e genética (produção de insetos transgênicos). Um cenário como este é dificilmente encontrado no Brasil. Além disso, estou trabalhando com os melhores pesquisadores da minha área de estudo.”
Atualmente Vanessa está desenvolvendo os últimos experimentos do doutorado no Insect Pest Control Laboratory da International Atomic Energy Agency (IAEA) na Áustria, local que possui um dos melhores laboratórios de pesquisa em mosca-das-frutas. “Todo o treinamento recebido no exterior permitirá a produção de artigos científicos em revistas de grande impacto e a promoção da ciência brasileira pelo mundo. Hoje me sinto preparada para ser uma cientista de destaque, seja na universidade, em institutos de pesquisa ou na indústria. Estou muito otimista quanto ao meu futuro profissional devido à educação recebida na University of Florida. Isso tudo só está sendo possível por conta do apoio da CAPES”, enfatiza.
Comunidade brasileira
Outra parte importante que contou muito para o recebimento do prêmio foi o envolvimento de Vanessa com a comunidade de pós-graduandos brasileiros no exterior, principalmente nos Estados Unidos. “Em 2014, co-fundei a
Brazilian Graduate Student Conference
(BRASCON) com outras duas estudantes do CsF, a Gisele Passalacqua (Columbia) e a Carleara Rosa (SUNY). Hoje a BRASCON é a maior conferência de pós-graduandos brasileiros no exterior. A primeira edição da BRASCON aconteceu em Harvard (2016) e a segunda edição aconteceu na
University of Southern California
(2017). Em 2015, fundei a BRASA Grad na
Brazilian Student Association
(BRASA) para dar apoio aos brasileiros que querem estudar, estão estudando e já estudaram no exterior. Em 2016, atuei como presidente da associação de brasileiros na minha universidade, liderando projetos acadêmicos e sociais que impactaram mais de 100 pessoas”, conta.
Para a bolsista, é importante divulgar a capacidade técnica e científica dos estudantes brasileiros no exterior. “O mundo precisa saber que os bolsistas do nosso país que estão no exterior hoje são muito bem selecionados e têm um alto perfil acadêmico e intelectual. O Brasil investe muito na formação e capacitação profissional dos estudantes brasileiros, algo que é difícil de se encontrar em muitos países desenvolvidos. Sou extremamente grata ao governo federal e à CAPES por todo incentivo financeiro concedido a minha formação. Espero poder continuar dando destaque para o nosso país por meio das minhas conquistas profissionais”.
Dessa forma, Vanessa acredita que o conhecimento adquirido fora do Brasil pode reverberar positivamente em nossa realidade. “Apesar do grande potencial agrícola brasileiro, o que faz do Brasil o terceiro maior produtor de frutas do mundo, exportamos menos de 3% da nossa produção. Um dos grandes entraves para o aumento de competitividade no mercado de frutas brasileiros deve-se ao alto número de pragas que atacam os nossos pomares. Além disso, o Brasil está entre os países que mais consomem pesticidas em todo o mundo. Precisamos ampliar as possibilidades de controle de pragas nos pomares brasileiros, existem alternativas efetivas ao controle químico, a exemplo da Técnica do Inseto Estéril. Meu projeto visa ao melhoramento de uma técnica de controle de praga, que em combinação com outras técnicas de controle, poderá melhorar a eficiência da nossa defesa vegetal. O resultado disso pode ser o aumento do mercado de frutas brasileiros, gerando emprego, renda e desenvolvimento para o Brasil”, conclui.
Consulte nesta página outras matérias sobre a atuação de bolsistas da CAPES.
(Pedro Arcanjo)