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Bolsista desenvolve plataforma de baixo custo para detecção de doença canina
A bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP), Julia Pereira Postigo, desenvolveu uma plataforma de baixo custo para detecção de cinomose em cães. Os dispositivos de papel funcionam independente do estágio de agravamento da doença, por meio da interação entre os anticorpos presentes no sangue do animal e as proteínas depositadas no dispositivo que permitem a identificação por meio da presença ou ausência de linhas vermelhas bem definidas e detectáveis a olho nu.
A pesquisa foi desenvolvida durante a dissertação de mestrado da aluna sob orientação do professor Emanuel Carrilho do grupo Bioanalítica, Microfabricação e Separações (BioMicS). “A cinomose é a segunda doença que mais mata cães em todo o mundo, perdendo apenas para a raiva. Seus sintomas iniciais são comuns a outras doenças do sistema nervoso, o que dificulta muito o diagnóstico clínico. Quando seus sintomas característicos aparecem, a chance de cura diminui consideravelmente, visto que o animal já está muito debilitado para responder ao tratamento”, explica Julia. Assim, o dispositivo desenvolvido tem grande importância para auxiliar no diagnóstico precoce e cura de animais de pequeno porte.
Para o seu desenvolvimento, o papel foi quimicamente ativado para promover uma modificação na sua estrutura inerte e assim tornar possível a imobilização de antígenos e anticorpos que compõem as linhas teste e controle, respectivamente. Quando o anticorpo produzido pelo animal, para combater o vírus, entrar em contato com a linha teste resultará na formação de um sinal vermelho, indicando que o animal está doente, podendo ser iniciado o tratamento, mesmo sem apresentar seus sintomas característicos. Além de promover o diagnóstico precoce, o dispositivo tem custo menor que os importados e fornece o resultado em poucos minutos. Sendo assim, ele pode ser utilizado sempre que o animal passar por consulta preventiva, aumentando a sua expectativa de vida.
Parceria com empresa
O estudo foi feito em parceria com a empresa ParteCurae, especializada no desenvolvimento de testes imunocromatográficos para a detecção de doenças de animais de pequeno e grande porte, assim como testes diagnósticos para infecções virais em plantas. “A ParteCurae viu uma necessidade de mercado, visto que no país não existe diagnóstico rápido e barato para a cinomose canina. A empresa se propôs a produzir uma plataforma imunocromatográfica 100% nacional. Como a empresa é parceira do grupo BioMicS desde sua fundação, me foi oferecida a oportunidade de desenvolvimento do projeto, que resultou na dissertação. O grupo já é famoso pelo uso de papéis na fabricação de dispositivos de baixo custo, então a plataforma foi desenvolvida em papel de filtro, bem como nos moldes das plataformas convencionais”, ressalta.
A empresa ParteCurae foi fundada por ex-alunos do professor Emanuel Carrilho, membros egressos do grupo BioMicS, dessa forma, desde o seu surgimento, foi estabelecida parceria entre ambos, para realização de pesquisas aplicadas. Para a bolsista, esse tipo de cooperação rende frutos positivos a todos os envolvidos. “A parceria entre empresas e a pós-graduação é muito bem-vinda, visto que direciona muito bem a pesquisa, pela união de conhecimentos vindos da universidade com os conhecimentos da iniciativa privada, onde sempre se visa maximizar os resultados com a diminuição dos custos. Além disso, a parceria beneficia a empresa, visto que as universidades têm um parque de equipamentos vasto, que pode ser utilizado para melhorar as pesquisas, sem deixar de beneficiar a universidade, pois aumenta a produção acadêmica e muitas vezes essas empresas parceiras acabam gerando empregos para mão de obra qualificada”, define Julia. Nesse tipo de parceria a propriedade intelectual é compartilhada entre as instituições envolvidas, considerando a extensão do envolvimento de cada participante em questão.
Financiamento e fomento
Julia foi financiada como bolsista da CAPES e a ParteCurae recebeu financiamento da FAPESP, por meio de um projeto PIPE (2014/50545-6). “Observando o cenário nacional e todos os cortes sofridos pela pesquisa, esse trabalho mostra o quão importante é o financiamento do governo à pesquisa, em todos os aspectos. No Brasil, a pesquisa de ponta, dentro das universidades é feita pelos alunos de mestrado, doutorado e pesquisadores pós-doutorandos que, por meio das bolsas, conseguem se sustentar e se dedicar com exclusividade ao trabalho, objetivando o crescimento e desenvolvimento do país. Sem o financiamento pela CAPES, a pesquisa seria inviável por falta de mão de obra para a sua realização”.
O grupo BioMicS/USP e a empresa ParteCurae continuam trabalhando na plataforma para realizar os ensaios de acurácia e finalmente levar o produto à comercialização. “O projeto atual continua em desenvolvimento pela empresa, nas etapas de validação da plataforma com amostras reais e, para posteriormente, realizar o desenvolvimento comercial (marketing, escala de produção e venda). Como pesquisadora, vou focar na publicação desse trabalho e encontrar novas oportunidades de projetos que estabeleçam parcerias similares a fim de ampliar o meu conhecimento.” A defesa pública da dissertação de mestrado de Julia Postigo aconteceu no último dia 24, no Instituto de Química de São Carlos-USP.
(Pedro Arcanjo, com informações do IQSC)