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Bolsista desenvolve novas tecnologias para representação geológica
A tese de doutorado em Geologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) de Ivaneide Santos desenvolveu novas tecnologias para a representação do inventário de sítios de interesse científico na região do Cânion do São Francisco (Nordeste brasileiro), Fafe e Macedo dos Cavaleiros (Norte de Portugal). A pesquisadora recebeu bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) entre 2015 e 2016 para realizar doutorado-sanduíche na Universidade do Minho.
O trabalho permitiu a integração de uma visita virtual a áreas de interesse geológico, com integração de elementos multimídia. Estes conteúdos podem ser explorados numa plataforma online interativa, onde a reunião de elementos fotográficos, obtidos com veículos aéreos não tripulados (VANTs), imagens panorâmicas a 360º interpretadas, modelos de representação tridimensional, elementos cartográficos e elementos informativos, promovem uma nova forma de representação dos aspectos Geomorfológicos, Geológicos ou do Patrimônio Geológico.
Confira um dos resultados desta investigação, a visita virtual ao Geoparque Terras de Cavaleiros: http://www.dct.uminho.pt/macedo/macedo.html
De acordo com Ivaneide, a representação dos elementos da geodiversidade e do patrimônio geológico têm sido cada vez mais foco de discussões e utilização de novas técnicas. “A última década proporcionou significativos avanços nos mecanismos de coleta de dados georreferenciados, no uso dos sistemas de informações geográficas e das tecnologias da informação e comunicação. Buscando superar estes desafios, a criação de ambientes virtuais surge como uma solução para a democratização do acesso aos conteúdos das geociências e da otimização da apreensão deste conhecimento por parte de diferentes públicos-alvo em diversos níveis”, explica.
A estas tecnologias estão associados vários métodos de obtenção de dados remotos, cujos resultados permitem diversas aplicações científicas e técnicas. “No âmbito científico, a qualidade das imagens é fundamental, pois é esta faculdade que implicará o limite de ampliação do detalhamento das informações ali inseridas. A realidade aumentada quando integrada a conteúdos pode fornecer relevantes funcionalidades de consulta, análise, representação, valorização e divulgação da Ciência, como também de conteúdos didáticos e promocionais”, enumera a bolsista.
A modelagem tridimensional proporciona vários pontos de vista privilegiados, além do detalhamento das feições e da interação proporcionada ao usuário através do computador. “Quando são utilizadas plataformas móveis providas de giroscópios, acelerómetros e GPS (smartphones e tablets), a informação pode ser contextualizada com o local e a navegação automatizada com o movimento do dispositivo, providenciando uma experiência única de interpretação da paisagem através de realidade aumentada. É possível, por exemplo promover a acessibilidade para indivíduos com necessidade especiais ou com escassez de recursos financeiros para visitar presencialmente o local desejado. E ainda, permite àquele que tem a possibilidade de ir ao local, aceder a informações mais detalhadas dos aspectos naturais locais, antes e após a visita”, enfatiza.
Experiência no exterior
A estudante de doutorado define o período na Universidade do Minho, em Portugal, como um divisor de águas na pesquisa. “Quando o Professor Gorki Mariano me desafiou a descobrir novas metodologias de representação e divulgação do patrimônio geológico, de fato proporcionou a busca por novas fronteiras e senti o tamanho do desafio. Na época, ele sugeriu as visitas virtuais e até indicou que eu procurasse o departamento de artes visuais e webdesign”, conta.
Um dos desafios do Grupo de Pesquisas em Geoconservação da UFPE é levar à sociedade o conhecimento voltado às geociências através de uma linguagem acessível, simples e de qualidade. “Mas na verdade, ao me dirigir a estes locais, não encontrei a integração de que necessitava para superar este desafio. Foi mesmo no exterior, depois de ler alguns trabalhos neste âmbito, é que finalmente encontrei na Universidade do Minho o que procurava.”
A bolsista conta que sem o apoio da CAPES teria sido complicado desenvolver esta pesquisa no exterior. “No Brasil, pesquisas neste âmbito ainda são muito incipientes e os recursos escassos. O ano do sanduiche foi fundamental para o desenvolvimento de protótipos e intercâmbio com outros pesquisadores. E mesmo sem recursos, no ano seguinte, retornei ao exterior ao abrigo da co-tutela, entretanto estabelecida entre a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade do Minho, para desenvolver melhor estas novas tecnologias e isto foi decisivo para o aprimoramento das técnicas e produtos”.
Em 2016 foram também desenvolvidos produtos inovadores, baseados no trabalho desenvolvido na tese dos quais, como a construção de uma mesa de projeção 3D interativa e cartografia, com a colaboração com a Spin-Off Geosite .
Impactos e inspirações
Na tese, todas as soluções voltadas para a realidade aumentada foram adequadas à realidade portuguesa. Na impossibilidade de aplicação das soluções produzidas nas áreas de interesse científico no Brasil, foram delineadas como perspectivas algumas ações futuras visando a aplicação soluções multimídia no nosso país. “Estas soluções, inspiraram outros Projetos, tanto no âmbito científico, quanto empresarial, dentre os quais um projeto científico que será desenvolvido pela Universidade de São Paulo, aprovado com os recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a desenvolver entre os anos de 2017 e 2019, intitulado: O Patrimônio Geológico da região costeira do estado de São Paulo: inventário e valorização com suporte de tecnologias geoespaciais, tendo como pesquisador responsável: Maria da Glória Motta Garcia, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo.”
Ivaneide aposta no recurso tecnológico com como potencial de democratização científica. “Num país com uma beleza cênica inconfundível como o Brasil, estas tecnologias agregam valor e diminuem fronteiras. A divulgação e a representação virtual de locais de interesse científico e da Geodiversidade ultrapassa as fronteiras espaciais, econômicas e democratização do conhecimento. A quebra do paradigma da dificuldade de acesso de conteúdos didáticos e científicos está associada à forma de divulgação destes elementos. Sendo assim, as novas tecnologias de representação e divulgação não só do patrimônio geológico e da geodiversidade, como também do conteúdo científico como um todo, representa a oportunidade para a comunidade científica de democratizar o acesso ao conhecimento em um Brasil que são vários Brasis com fronteiras econômicas, espaciais e culturais significativas”.
A pesquisadora acredita que o trabalho pode contribuir na construção de uma cultura de preservação e conhecimento geológico. “Ainda há um longo caminho a percorrer até conseguirmos incorporar à matéria legislativa e às práticas sociais a geodiversidade e a Geoconservação diante de medidas protetivas e de adequado manejo dos nossos recursos paisagísticos e geoturísticos. Mas, sem dúvida é preciso começar pelo conhecimento e representação nosso patrimônio natural. É preciso que estes conceitos sejam incorporados e compreendidos pela Sociedade. Nesta construção quero romper fronteiras e quebrar novos paradigmas e agora, com todo este aprendizado poderei repassar a outras pessoas e aplicar no meu país estas novas técnicas e ajudar a valorizar e representar o que Brasil tem de melhor além do seu povo, a grande diversidade natural e paisagística”, conclui a bolsista.
A tese “Recursos interativos online no cânion do rio São Francisco no Brasil e de lugares de interesse geológico em Portugal utilizando Realidade Aumentada” foi realizado sob a supervisão do Dr. Renato Filipe Faria Henriques (Uminho) e pelo Dr, Gorki Mariano (UFPE). A tese deverá ser defendida na UFPE em meados de Junho de 2017.
Consulte nesta página outras matérias sobre a atuação de bolsistas da CAPES.
(Pedro Arcanjo)