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Bolsista da Capes publica artigo sobre datação de radiocarbono
A ex-bolsista do Programa de Estágio Sênior no Exterior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) Kita Macario publicou um artigo na Revista Nature Scientific Reports referente ao trabalho desenvolvido na Universidade de Oxford, no Reino Unido, em 2015, como bolsista de pós-doutorado.
Trata-se de um trabalho multidisciplinar que envolve a datação de radiocarbono usando acelerador de partículas e a análise de caramujos terrestres coletados durante a época dos testes nucleares em alguns estados brasileiros. “A aplicação da pesquisa tem potencial para estudos de sítios arqueológicos do Brasil e América do Sul, onde essas espécies de caramujos eram usadas para alimentação dos nativos há milhares de anos”, explica a pesquisadora, que também é professora do Departamento de Física da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O radiocarbono, carbono-14 ou C14 é um isótopo radioativo natural do elemento carbono. A técnica de datação por carbono-14 foi descoberta nos anos quarenta por Willard Libby. Como a quantidade de carbono-14 dos tecidos orgânicos mortos diminui a um ritmo constante, com o passar do tempo a medição dos valores de carbono-14 em um objeto antigo pode dar pistas exatas dos anos decorridos desde sua morte.
No estudo de sítios arqueológicos, como representantes da concentração atmosférica de carbono 14, são comumente utilizados os carvões. “No entanto, seu uso exige cautela e, se possível, uma minuciosa investigação sobre a origem da madeira a partir da qual foram formados. Muitas vezes as amostras de carvão disponíveis nos sítios arqueológicos são escassas, assim, como alternativa a este tipo de material, buscamos avaliar a possibilidade de se utilizar os moluscos terrestres”, afirma Kita.
Em trabalho realizado em colaboração com a pesquisadora Carla Carvalho, do Departamento de Geoquímica da UFF, no sambaqui de Manitiba, em Saquarema, no Rio de Janeiro, resultados preliminares mostraram potencial para o uso da espécie Thaumastus Achilles . “No entanto, para buscar a validação deste método, precisávamos demonstrar que os animais estariam em equilíbrio isotópico com a atmosfera terrestre. Para tanto, nos utilizamos do fato de que a partir da década de 50 os testes nucleares realizados no Hemisfério Norte promoveram um grande aumento na concentração atmosférica de carbono 14. Esse aumento ficou conhecido como pico da bomba, chegando a um máximo na década de 60 e então voltando a diminuir. Este período, em que a concentração de carbono 14 esteve muito discrepante permite perceber aumentos correspondentes nas concentrações isotópicas dos organismos vivos que estiveram em equilíbrio com a atmosfera”, ressalta.
Com base nos resultados obtidos, a pesquisa demonstrou que os espécimes datados estavam em equilíbrio isotópico com a atmosfera e que esses gêneros podem, portanto, ser usados para estabelecer a cronologia de sítios arqueológicos. O artigo da Scientific Reports foi publicado em colaboração com os pesquisadores Luiz Simone e Daniel Cavallari do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP).
Trabalho em conjunto
A pesquisadora ressalta o trabalho em conjunto necessário para a consolidação do trabalho. A investigação é realizada em colaboração com pesquisadores do Programa de Biologia Marinha e Ambientes Costeiros da UFF, entre eles, Orangel Aguilera, especialista em ictiologia e Rosa Souza, especialista em malacologia e pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como Tania Lima, Maria Cristina Tenório, Maria Dulce Gaspar e Rita Scheel-Ybert. O projeto, com fomento da FAPERJ (Edital Grupos Emergentes), possibilitou a realização de diversos trabalhos incluindo a publicação na Scientific Reports.
Outros bolsistas no exterior, alunos de doutorado da professora Kita Macario também fazem parte da pesquisa: o aluno Eduardo Alves, que faz doutorado pleno no exterior em Archaeological Sciences na Universidade de Oxford, como bolsista do CNPq, e a aluna Fabiana Oliveira, que está concluindo o doutorado em Física na Universidade Federal Fluminense e teve bolsas de doutorado sanduíche para a Universidade de Oxford, pelo CNPq, e Universidade da Califórnia, pela Capes. Da sequência do trabalho, sobre a aplicação da pesquisa em sítios arqueológicos, também faz parte a aluna Ingrid Chanca, que está concluindo a graduação em Física e que acaba de passar um ano e meio na Alemanha através do programa Ciência sem Fronteiras.
Laboratório no Brasil
As análises para a pesquisa foram feitas parte no Laboratório de Radiocarbono da UFF e parte no Oxford Radiocarbon Accelerator Unit (ORAU) da Universidade de Oxford, no Reino Unido. O estudo contou com a colaboração de Christopher Bronk Ramsey, um dos mais importantes nomes na área de Radiocarbono e de David Chivall, também da Universidade de Oxford. Já em operação desde 2009, o Laboratório de Radiocarbono da UFF e o acelerador de partículas do Instituto de Física, instalado em 2012, foram inaugurados oficialmente em 2016. “Trata-se do primeiro laboratório na América Latina, e único no Brasil, a realizar a técnica de datação de Radiocarbono por Espectrometria de Massa com Aceleradores (AMS)”, enfatiza a pesquisadora.
Saiba mais
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Assista um vídeo sobre o laboratório:
https://www.youtube.com/watch?v=1Jy9XJ_HsLs
Experiência no exterior
A experiência como bolsista da Capes no exterior foi uma oportunidade de estreitar a colaboração com o grupo de Oxford, acredita Kita. “Cooperações internacionais como esta aumentam a visibilidade da pesquisa desenvolvida no Brasil. A participação de pesquisadores brasileiros neste importante centro de pesquisa traz grandes benefícios, marcando a nossa presença e aumentando as chances de influenciarmos decisões.”
A oferta de uma vasta gama de seminários e cursos, a disponibilidade de bibliografia, o acervo cultural abrangente são alguns dos fatores que tornam o estágio fora do país adequado para o desenvolvimento científico. “A vivência em uma universidade com o porte da Universidade de Oxford proporciona excelentes condições de trabalho e traz uma grande motivação para implementar novas metodologias tanto no laboratório como nas estratégias de ação do grupo de pesquisa. Desta forma, é plenamente atingido o objetivo do projeto em seu potencial multiplicador no que diz respeito à capacitação de novos pesquisadores”, afirma.
Acesse o artigo publicado.
As conquistas, segundo a pesquisadora, não são apenas individuais. “Para o Laboratório de Radiocarbono da Universidade Federal Fluminense, o respaldo de se obter resultados convergentes com um dos mais tradicionais laboratórios da área representa um grande passo. Apesar do sucesso das pesquisas desenvolvidas já há alguns anos, a validação de nossos resultados fortalece a credibilidade do laboratório e, por conseguinte, o grupo de pesquisa e a universidade”, conclui.
Estágio Sênior
A bolsa de Estágio Sênior promove o aprimoramento profissional e acadêmico por meio do desenvolvimento de atividades de pesquisa no exterior, por pesquisadores doutores que tenham vínculo empregatício com instituições de ensino superior brasileira com titulação obtida há mais de oito anos e que demonstre produção científica relevante. Os benefícios previstos para o programa são mensalidade, seguro-saúde, auxílio deslocamento, auxílio instalação e adicional localidade, quando for o caso.
O resultado da edição 2016 do Programa de Estágio Sênior no Exterior está previsto para dezembro desse ano. Conheça o programa .
Consulte aqui outras matérias sobre a atuação de outros bolsistas da Capes.
(Pedro Arcanjo)