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Bolsista da CAPES identifica espécie de anfíbio ameaçada de extinção
Luis Fernando Marin da Fonte, bolsista de doutorado pleno do Ciência sem Fronteiras (CsF), desenvolve um trabalho em Biogeografia na Universität Trier, na Alemanha, sobre a influência das macrófitas aquáticas na dispersão de anfíbios na Amazônia. Após terminar o mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o bolsista começou a se envolver com um projeto de conservação do sapinho-admirável-de-barriga-vermelha , uma espécie até então pouco conhecida, mas de distribuição extremamente restrita e ameaçada pela possível implementação de uma hidrelétrica.
Os estudos científicos começaram no final de 2010 e permitiram que a espécie fosse considerada criticamente em perigo de extinção a níveis global, regional e nacional. Graças à dedicação de sua equipe, conseguiram barrar a construção da hidrelétrica. Foi a primeira vez na história do Brasil que uma espécie de anfíbio impediu a construção de um empreendimento deste porte, fato que foi (e continua sendo) reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais exitosos projetos de conservação de anfíbios do mundo. Pela atuação no projeto, Luis foi convidado a fazer parte do Grupo de Especialistas em Anfíbios (ASG Brasil) da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), quando já estava no exterior.
Ciência sem Fronteiras
O pesquisador conta que sua participação no CsF foi muito crucial para o convite. “O fato de estar envolvido em um ambiente internacional foi fundamental para eu ter sido chamado a integrar o ASG Brasil. Além disso, apesar de o meu dia-a-dia na universidade ser no idioma alemão, estou em constante contato com a língua inglesa, o que me abriu muitas portas, principalmente no mundo da conservação. A participação em eventos no continente europeu também ajudou a aumentar a visibilidade do meu trabalho, a ponto de eu ter quase certeza de que, se estivesse no Brasil, não teria recebido nenhum dos prêmios concedidos por meu trabalho.”
Luis ressalta que o aprendizado é importante, mas, mais que isso são as oportunidades geradas pela experiência. “Infelizmente, parece que ainda é preciso sair do Brasil para ter credibilidade e estar na vitrine. Apesar de nosso pessoal ser excelente, ainda existe um certo preconceito com pesquisa produzida na América Latina. Infelizmente, o mesmo trabalho publicado por pesquisadores brasileiros ou por pesquisadores europeus é visto e avaliado de formas distintas.”
Pesquisa
Além da participação na ASG Brasil, Luis continua desenvolvendo sua tese. Para colocá-la em prática, o pesquisador conta com uma parceria entre a universidade na Alemanha e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). No trabalho ainda estão envolvidos pesquisadores das universidades Federal do Amazonas (UFAM), Federal do Pará (UFPA) e de Stellenbosch, na África do Sul.
Segundo Luis, os anfíbios são animais pequenos e com capacidade de dispersão limitada, não se deslocando a distâncias superiores a 10 quilômetros. No entanto, em alguns casos, o pesquisador conta que eles podem ser passivamente transportados ao longo de rios, onde existe vegetação flutuante em abundância, como no caso da Amazônia. “Em períodos de cheias, quando os níveis dos rios sobem, bancos de macrófitas aquáticas podem ser transportados pela correnteza a velocidades de até 9 km/h, o que seria suficiente para viajar quase 200 km em apenas um dia”, conta.
Resultados
Os resultados da pesquisa forneceram pistas que poderão ajudar a elucidar um dos maiores debates da biogeografia (dispersão x vicariância), além de ajudar a elucidar a importância dos rios na dispersão de espécies ao longo da Amazônia. Luis esclarece que a maior importância da presença no exterior diz respeito à projeção e participação do Brasil em questões mais amplas, como a conservação de anfíbios. “Apesar de o Brasil ser o país com a maior diversidade de espécies de anfíbios do mundo, raramente há projeção internacional quando o assunto é conservação”, explica.
Além dos resultados da pesquisa, Luis quer ajudar as pessoas a perceber a importância delas para a conservação de espécies no Brasil. “Pretendo usar tudo o que tenho aprendido nesses últimos quatro anos e também espero conseguir ajudar a projetar nosso país e nossa ciência no exterior, tanto as atividades de conservação, quanto as de pesquisa científica, e continuar contribuindo para a realização de parcerias internacionais entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros.”
Depois de realizar as atividades de campo na Amazônia percorrendo mais de 2.000 quilômetros ao longo da bacia do rio Amazonas, parando em diferentes locais para procurar e registrar os anfíbios que ocupam as macrófitas aquáticas para coletar dados, Luis encontra-se atualmente na fase de análises dos resultados.
Luis começou os estudos em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2001 e formou em 2006 (ênfases ambiental, molecular e licenciatura). A partir de 2006 começou a trabalhar como consultor ambiental e, em 2008, voltou à UFRGS para fazer mestrado em Biologia Animal.
(Allan César - Brasília – CCS/CAPES)
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