Notícias
BOLSISTA EM DESTAQUE
Bolsista analisa inclusão escolar de autistas
Nathália Machado é uma psicóloga de Minas Gerais, bolsista da CAPES no doutorado. Ainda estava no mestrado, em 2021, quando decidiu, incentivada por uma experiência na época da graduação, analisar o trabalho de mediadores junto a crianças e adolescentes com espectro autista. Intitulada “Mediação escolar com alunos autistas: contribuições a partir da psicanálise”, a pesquisa, que também contou com o financiamento da Fundação, foi realizada no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da UFMG.
Fale sobre a sua trajetória acadêmica.
Eu sou formada em Psicologia. Os estágios e projetos de extensão nos quais eu me envolvi, ao longo da graduação, foram, no âmbito clínico da Psicologia (na Clínica Escola), e, também, no campo da Educação, em escolas de Educação Básica. Dessa forma, minha formação inicial foi trilhada nessas duas vertentes, tendo como foco, principalmente, as pessoas com deficiência. A Psicanálise se tornou a base teórica da minha prática, pois ela oferecia subsídios não somente para trabalhar nos atendimentos individuais no consultório, mas também para refletir sobre questões educacionais. Mergulhada nos dilemas da Educação inclusiva, busquei realizar minha pesquisa de Mestrado na área da Educação, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Universidade Federal de Minas Gerais, por ser um programa de excelência e, além disso, por ter a Linha de Pesquisa, nomeada de “Psicologia, Psicanálise e Educação”, na qual meu projeto se inseria, devido ao objeto de estudo, à fundamentação teórica e ao procedimento metodológico utilizados.
O que a levou a escolher esse tema?
Em um projeto de extensão, durante a graduação, tive a oportunidade de ser mediadora escolar e, dessa vivência, surgiram questões sobre a educação inclusiva, o processo de escolarização de determinados alunos e, sobretudo, a atuação do mediador na cena escolar. Foram três anos de trabalho, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I (anos iniciais), que me fizeram questionar qual seria a função desse profissional e se a prática da mediação teria alguma especificidade na inclusão escolar de alunos autistas. Imersa nessas reflexões, no mestrado meu objetivo foi entrevistar mediadores escolares de alunos autistas para identificar as vicissitudes do trabalho. Importante destacar que a mediação não se limita a um determinado perfil de aluno, no entanto meu recorte foram as crianças autistas, uma vez que a Psicanálise nos fornece uma lógica singular presente neste funcionamento psíquico.
No que consiste o trabalho do mediador?
O mediador escolar é um profissional que oferece suporte às práticas pedagógicas com vistas ao processo de inclusão escolar. A função do mediador, dessa forma, seria auxiliar os educadores no processo de escolarização dos alunos com deficiência, sendo um intermediário entre o aluno e a aprendizagem, e entre o aluno e os demais atores escolares, atuando não somente na sala de aula, mas nos espaços da escola e nos momentos em que houvesse outras demandas. Assim, em um trabalho conjunto com a escola, o mediador pode atuar nas atividades pedagógicas, nas relações sociais e no âmbito do cuidado, como na locomoção, na higiene e na alimentação do estudante.
Cabe destacar que a inserção desse profissional no cenário escolar não foi realizada sem alguns equívocos, tendo em vista que, no início do século XXI, quando as escolas procuraram, especialmente, estagiários para ocuparem a posição de mediador escolar, havia certa resistência das instituições de ensino em mudarem suas concepções e suas práticas, a fim de receberem os alunos que permaneciam à margem do ensino regular. Logo, a literatura demonstrou que o acesso desses alunos à sala de aula comum, no início, foi vinculado à presença do mediador, não por se ter uma ideia de que ele poderia auxiliar esse processo, mas por uma busca para eximir a escola das questões que envolviam a permanência do estudante e colocar sob a responsabilidade do mediador todo o processo de escolarização. Tal questão nos leva a refletir sobre a herança que a prática da mediação carrega até os dias de hoje. Por isso, torna-se fundamental a escola permanecer sempre em estado de vigilância para que não coloque o mediador em uma posição que não é de sua competência ou atribuição. Em suma, trata-se de uma figura de suporte e auxílio aos processos inclusivos que, acima de tudo, deve ser um parceiro do professor regente e sua presença não pode ser vista como um imperativo para que a inclusão ocorra, mas sim um facilitador dos processos educativos.
Como foi a produção do trabalho e a que conclusão chegou?
Logo no começo do percurso do Mestrado surgiu a pandemia, assim os procedimentos metodológicos elaborados, até então, precisaram ser revistos a fim de adaptar àquela realidade. Após o convite feito aos mediadores indicados por outros profissionais, marcávamos um encontro individual, por meio de chamadas de vídeo. Foram entrevistados sete mediadores, entre junho e setembro de 2021.
Com a realização das entrevistas, pudemos concluir que havia uma particularidade da mediação escolar realizada com os alunos autistas, uma vez que os aspectos subjetivos do aluno eram essenciais e deveriam ser considerados para a prática do mediador. Também se identificou que o trabalho realizado pelo mediador diz respeito não apenas a um suporte pedagógico, mas à dimensão social e, por fim, que há a necessidade de se discutir sobre os documentos legais que regem esta prática, pois não existe um caráter comum no que se refere à função e à formação do profissional.
Qual a importância da CAPES na sua trajetória?
A CAPES tem tido papel central na minha formação como pesquisadora, desde o mestrado e, agora, no doutorado. A bolsa concedida pela CAPES proporciona dedicação exclusiva à pesquisa, fazendo com que eu possa mergulhar nas minhas investigações e traçar meu percurso acadêmico de maneira integral.
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1:
Imagem ilustrativa (Foto: iStock)
Imagem
2:
Nathália Machado, psicóloga e bolsista da CAPES
(Foto: Arquivo pessoal)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura CGCOM/CAPES