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Um dos mais importantes pesquisadores da medicina brasileira recebe homenagem
O presidente da Capes, Jorge Guimarães, participou do 8º Congresso Brasileiro de Clínica Médica, no dia 4 de setembro, em Gramado (RS). No encontro foi realizada uma homenagem póstuma a um dos mais importantes pesquisadores do país, Carl Peter Von Dietrich. Confira o texto na íntegra:
Na oportunidade em que a Sociedade Brasileira de Clínica Médica em seu 80 congresso, decide, mais uma vez, prestar homenagem ao Prof. Dietrich por sua significativa contribuição à medicina e à ciência brasileira, agradeço, em nome da Capes, a oportunidade de participar deste evento e de proferir esta palestra como homenagem saudosa ao médico, pesquisador e professor Carl Peter Dietrich. A contribuição de Dietrich e seu grupo e bem assim de outros cientistas de seu calibre da ciência brasileira, constitui significativo componente que subsidiam os significativos avanços que vêm sendo ultimamente alcançados pela medicina brasileira no cenário científico nacional e mundial. Por sua destacada contribuição neste cenário e por sua dedicada atuação nas demandas emanadas da Capes, somos profundamente agradecidos ao nosso homenageado, nesta solenidade representados pela Profa. Helena Nader e pela Júlia, filha do casal.
Carl Peter von Dietrich faleceu na tarde do dia primeiro de fevereiro de 2005. Estava em sua casa em São Paulo, fazendo o que mais gostava: revisando dados experimentais e escrevendo com Helena Nader, sua companheira inseparável de 22 anos e seus alunos, mais um dos seus muitos trabalhos de primeira linha. Dietrich, para alunos, discípulos e amigos da comunidade científica, Peter ou Pedro para os mais íntimos, fez muito pela ciência brasileira e não sem razão era membro Titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1975. Seu corpo foi velado no saguão da Escola Paulista de Medicina, EPM, hoje UNIFESP, a Escola a quem se filiou em 1970 a convite de José Leal Prado e que adotou como sua trincheira científica para, durante mais de três décadas fazer avançar extraordinariamente os conhecimentos sobre os glicosaminoglicanos (GAGs), os proteoglicanos (PGs) e outros componentes dessa família de compostos cuja função biológica e participação nos intrincados processos bioquímicos eram, então mal conhecidas. Não foram poucas as contribuições que fez neste campo, desvendando novas vias metabólicas, caracterizando enzimas, nos estudos da estrutura e atividade biológica de novos componentes e sobre a participação de tais compostos no reconhecimento celular, na transformação neoplásica e nos mecanismos de defesa dos organismos vivos. Mais recentemente vinha, com seu grupo, estudando o papel central dos PGs na composição da matriz extracelular. Profundo estudioso da heparina e outros heparinóides, Dietrich foi pioneiro ao propor, ainda nos anos 1970, a estrutura básica da heparina, como sendo um GAG sulfatado composto de resíduos de ácido idurônico-2-sulfato, glucosamina-2,6-dissulfato e ácido glucurônico não sulfatado, distribuídos ao longo do polímero, tendo como base estrutural um hexassacarídeo.
Nos diversos trabalhos publicados sobre a heparina e sobre sua importância biológica, Dietrich fez, ao longo de sua profícua carreira, contribuições de enorme significado científico, clínico e também tecnológico sobre a heparina, uma substância usada desde o início do século passado como potente anticoagulante. Na seqüência de artigos buscando caracterizar o intrigante processo da inibição preferencial (mediada por antitrombina III) da trombina ou do Fator Xa, e que levaram à caracterização do mecanismo de ação hemorrágica da heparina e sua prevenção em cirurgias e, sobretudo, à descoberta das heparinas de baixo peso molecular (HBPM), abriu espaço para a exploração industrial de um mercado que atinge hoje a casa de mais de 3 bilhões de dólares ao ano, disputado acirradamente pelas principais empresas da indústria farmacêutica mundial! Nesse trabalho pioneiro, conduzido com maestria pela Profa. Helena Nader, tive a honra de participar como modesto colaborador. Por conta de sua reconhecida "expertise" sobre as heparinas, Dietrich tornou-se, sem alarde, como era de sua feição, consultor preferencial dessas empresas tanto no Brasil como no exterior.
Nascido em São Paulo em 23 de novembro de 1936 e tendo migrado para o Rio de Janeiro, C.P. Dietrich formou-se em medicina em 1963 na UERJ. Desde o primeiro ano do curso de medicina em 1958, inicia também sua formação científica em Manguinhos, hoje Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), trabalhando com Walter Oswaldo Cruz, onde conviveu até 1962, com diversos outros renomados cientistas da instituição: Haiti Moussatché, Hermann Lent, Fernando Braga Ubatuba, Tito Cavalcanti, Hugo Souza Lopes, além de outros, todos cassados em 1970. Um ato brutal que teve como base a inveja que causavam esses cientistas e seus discípulos como Dietrich ao medíocre ex-diretor do Instituto, Rocha Lagoa, tornado Ministro da Saúde pelo obscurantista general de plantão, Emílio Garrasztazu Médici. Em Manguinhos, Dietrich conviveu ainda com outros colegas, então também iniciantes na pesquisa científica: Leopoldo de Meis, Mécia M. de Oliveira e José Reinaldo Magalhães com os quais manteve, ao longo da vida, fraterna amizade. Da convivência com W. O. Cruz são seus primeiros trabalhos já na linha da hemostasia, tendo em alguns desses artigos a participação dos futuros amigos de carreira científica acima citados.
No último ano do curso médico, em 1963, Dietrich teve a oportunidade de fazer uma especialização em bioquímica e de trabalhar com H. G. Pontis no Instituto de Investigaciones Bioquímicas-Fundación Campomar e a extraordinária experiência de atuar sob a orientação direta do então futuro Prêmio Nobel L. F. Leloir, em Buenos Aires. Terminado este período no Brasil e na Argentina, vinculou-se ao grupo de J.L.Strominger na University of Wisconsin, USA%