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Papel do livro na avaliação da pós-graduação é debatido na SBPC
As áreas de ciências humanas da pós-graduação brasileira estão realmente escrevendo livros? A questão foi debatida na 57ª Reunião Anual da SBPC, em Fortaleza (CE), pelo diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), Renato Janine Ribeiro e o professor da Universidade Estadual de São Paulo José Castilho Marques Neto.
Para Castilho, a relação do livro e da pós-graduação é "umbilical". "O conhecimento acadêmico nasce da universidade, dos livros e também das revistas científicas". Ele explica que as revistas têm sido item da avaliação da Capes nos cursos de pós-graduação das áreas de humanidades, o livro é mais recente. Castilho acredita que a partir do momento, que o livro tiver o seu status reconhecido, as condições serão mais adequadas e equilibradas.
Em relação ao livro digital, Castilho defende que há uma mudança no conceito do que é o livro. "O livro digital hoje, tem que ser considerado um livro impresso. Na era digital, há uma convergência entre as duas mídias. A combinação dos dois pode trazer o bom ou o mau texto e temos que saber diferenciar o mau do bom conteúdo. Isto que é importante", analisa.
Na opinião de Janine é a avaliação que deve se moldar ao que de melhor se faz nas diferentes áreas, e não o contrário. Ele percebe que após o término do doutorado fica cada vez mais difícil o pesquisador se dedicar exclusivamente à produção de um livro. Segundo ele, muitas vezes o doutor publica um livro, mas o mais freqüente é uma coletânea de artigos. "Um agregado de textos, podem ser muito bons, mas não se distingue, essencialmente, dos artigos que outras áreas publicam em periódicos - a não ser pelo fato de que, geralmente, tiveram uma primeira edição em coletâneas de vários autores e, a segunda, no que é uma coletânea de um só autor. Se assim for a tendência das áreas, será apenas o suporte o que distinguirá esses artigos (que a Avaliação da Capes chama de "capítulos de livros") do que as áreas de ciências exatas, biológicas e outras denominam "artigos em periódicos". Estará, então, terminando o livro de pesquisa em humanidades", considera.
De acordo com Janine, a diretoria de Avaliação da Capes vem discutindo o assunto com os coordenadores de área, para encontrar os melhores caminhos. Entre as propostas estão o Qualis de editoras. Ele explica cada área, a exemplo do que faz com o Qualis de periódicos, avaliaria a qualidade da produção científica (em sua área) das editoras. Outra ação seria a leitura dos livros por pares, dirigida pela respectiva comissão de área. Há um projeto piloto em andamento, nesta direção. E a terceira, inclusão, no Coleta Capes, a partir de sua próxima edição, de informações pormenorizadas escritas pelo próprio autor sobre seu livro (um resumo do mesmo), além de informações objetivas (é reunião de artigos já publicados? há elementos novos? a editora tem política de publicação). Neste caso, a comissão de área faria uma primeira avaliação, solicitando cópias nos casos de dúvidas.
Para finalizar, Renato Janine acredita que vale a pena repensar o papel dos periódicos nas áreas de Humanidades. De acordo com ele, pelos dados mais recentes disponíveis no sitio do SciELo, de 134 títulos de periódicos que constam de sua listagem apenas 25 são das ciências humanas e seis das ciências sociais aplicadas - sendo que não há nenhum periódico de áreas como artes, administração, arquitetura, ciência política, demografia, direito, filosofia, geografia, lingüística, planejamento urbano, serviço social, urbanismo, e somente um de economia, um de história e um de letras. "Com exceção de educação e psicologia, o desempenho de todas as demais áreas de humanidades no SciELo é tímido". (Adriane Cunha)