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Bolsista descreve dia-a-dia no Timor
O professor brasileiro Marcio Gutenberg de Araújo ensina química a professores em exercício na rede
pública do Timor Leste. Desde julho de 2007, ele ajuda na formação de professores timorenses e na
disseminação da língua portuguesa. Araújo conta como está o trabalho dos bolsistas brasileiros no
país após o atentado que feriu com três tiros o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, na
manhã de segunda feira, 11 (noite de domingo no Brasil).
?O nosso grupo está tranqüilo, mas alerta aos acontecimentos?, diz Araújo. O professor
explica que ele e seus colegas ? há 34 bolsistas brasileiros no país ? estão atentos às notícias
sobre o atual estado do Timor, trabalhando normalmente, ?mas com uma certa dose de cautela?. Araújo
informou que os bolsistas brasileiros estão preocupados com a repercussão do atentado no Brasil. ?
As notícias têm um peso diferente quando chegam ao Brasil e isso pode tornar o problema maior do
que parece e causar preocupação a mais aos nossos parentes?, afirmou.
Apesar das condições de trabalho relativamente normais, o professor disse que a situação do
Timor é sensível. Na visão dele, a pobreza e o desemprego presentes especialmente na capital, onde
os bolsistas trabalham, levam os jovens ao envolvimento em gangues violentas. Mesmo assim, para
Araújo, o trabalho dos bolsistas é importante na reestruturação do país. ?Estamos formando
professores voltados para uma educação mais humana e problematizadora, e alguns desses
profissionais estão agora ocupando cargos importantes em alguns setores, inclusive no Ministério da
Educação do Timor Leste?, orgulha-se.
O professor Araújo faz parte do Projeto de Capacitação de Professores de Educação
Pré-Secundária e Secundária (ProCapes), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes/MEC). O projeto é voltado para a formação de professores em nível de licenciatura.
Os professores brasileiros dão aula a professores timorenses em exercício para aprofundar os
conteúdos curriculares, a fim de melhorar o desempenho docente.
?Esse programa tem sido a principal estratégia do Timor Leste para garantir a reintrodução da
língua portuguesa nas escolas timorenses, por meio da formação dos docentes?, explica o coordenador
do programa de cooperação com o Timor Leste no MEC, Alexandre Silveira.
Timor Leste ? Colônia de Portugal até 1975, o país foi ocupado logo em seguida
pela Indonésia até 1999. Durante a ocupação, era proibido ensinar ou falar português. Assim que foi
declarada a independência do Timor Leste, em maio de 2002, o Brasil assinou dois acordos com o
país: de cooperação educacional e técnica. Os bolsistas brasileiros participam de programas de
formação de professores em exercício, de capacitação de professores de educação pré-secundária e
secundária, de ensino da língua portuguesa instrumental, de promoção da qualidade no ensino de
ciências e de implantação da pós-graduação na Universidade Nacional Timor Lorosae.
Durante o atentado desta segunda-feira, 11, o presidente José Ramos-Horta ? prêmio Nobel da
Paz pelo seu papel contra a ocupação indonésia ? levou dois tiros no abdômen e um no estômago. Ele
foi levado à cidade de Darwin, na Austrália, onde foi operado e encontra-se em coma induzido. O
primeiro-ministro do país, Xanana Gusmão, escapou do ataque e decretou 48 horas de estado de sítio
e toque de recolher.
Veja aqui a
entrevista com o
professor Marcio Araújo na íntegra.
Maria Clara Machado