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Ortografia da língua portuguesa será unificada
A língua portuguesa é falada por cerca de 220 milhões de pessoas no Brasil e no mundo -
aproximadamente 190 milhões de brasileiros, outros 10,5 milhões de portugueses e demais falantes em
países africanos e em comunidades na Ásia e América. O que coloca o idioma na quinta posição entre
os mais falados do planeta. Entretanto, o português é o único idioma ocidental a adotar duas
grafias oficiais.
Para resolver o impasse e alargar a compreensão entre falantes do português, foi criado o
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que busca unificar o registro escrito nos oito países que
falam o idioma - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor
Leste, Brasil e Portugal.
Facilitar o processo de intercâmbio cultural e científico entre os países e a divulgação mais
ampla do idioma e da literatura em língua portuguesa são os principais objetivos da unificação
ortográfica. "Nossos autores serão muito mais conhecidos porque os livros circularão com mais
facilidade pelo mundo, já que não haverá necessidade de se publicar em duas versões do mesmo
idioma", acredita o assessor especial do Ministério da Educação, Carlos Alberto Xavier.
Para ele, com a entrada em vigor do acordo, será mais fácil, por exemplo, ensinar português
utilizando as metodologias portuguesa ou brasileira nos centros de ensino dos dois países
espalhados pelo mundo; afinal os alunos estarão aprendendo uma única forma de se registrar a língua
portuguesa. A circulação dos documentos dos organismos internacionais também será privilegiada.
"Hoje, essas decisões, em muitos casos, nem são impressas e nunca chegam ao público, por
dificuldades impostas pelas diferenças ortográficas", acrescenta Xavier.
Segundo a regra da Comissão dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), basta que três países
ratifiquem o acordo para que entre em vigor. Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já aprovaram
as mudanças. "Mas como o espírito do acordo é o consenso, a CPLP discute uma data conveniente a
todos os países para que a reforma ortográfica entre em vigor", esclarece Xavier.
O congresso brasileiro aprovou a unificação ortográfica em 2001, depois de cerca de dez anos
de discussão, quando foi também sancionada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O último
dos três países a aprová-la foi São Tomé e Príncipe, em dezembro de 2006. A previsão é de que o
acordo comece a valer em 2009 e que até 2011 todos os livros didáticos brasileiros estejam
adaptados às novas regras. "No caso do Brasil, é conveniente adotarmos um prazo que inclua dois
anos para adaptação das mudanças", explica Xavier.
Histórico - Já em 1990, os presidentes dos sete países onde a língua
portuguesa é idioma oficial haviam assinado um tratado ortográfico que deveria vigorar em 1994.
Nesse ínterim, os países africanos passaram por dificuldades políticas ou guerras civis. Também
após esse prazo, o Timor Leste tornou-se independente, em 1999, e a CPLP foi criada em 1996. Com o
Decreto Legislativo nº 54, de 18 de abril de 1995, o Decreto Legislativo nº 120, de 12 junho de
2002, e o
protocolo
modificativo de julho de 2004, a unificação ortográfica ganhou os contornos do atual acordo.
Consulte os decretos na
página eletrônica do Senado.
Mudanças - Segundo o filólogo Antônio Houaiss (1915-1999), principal
negociador brasileiro do acordo ortográfico e quem elaborou a Nova Ortografia da Língua Portuguesa,
publicada em 1991, será possível resolver até 98% das diferenças ortográficas do idioma. Mesmo
assim, não deve haver uniformização, já que, na avaliação do filólogo, a língua é dinâmica e
atrelada às tradições culturais, por isso mesmo a reforma prevê casos de dupla grafia. Um exemplo é
o nome Antônio, que os portugueses escrevem com acento agudo, no lugar do circunflexo, em razão da
pronúncia mais aberta que a brasileira. Assim, a nova regra prevê a convivência das duas grafias.
Outras alterações - serão 20 bases de mudanças no total - são o fim do trema, presente
hoje em palavras como lingüiça; a supressão de consoantes mudas, como em actor (escrita
portuguesa); novas regras para o emprego do hífen; a inclusão das letras w, k e y ao idioma, além
de novas regras de acentuação, em que palavras como idéia e assembléia perdem o acento agudo, entre
outras modificações. (Maria Clara Machado)