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Professores brasileiros ajudam a transformar a educação no Timor Leste
Os professores brasileiros que participam da Missão Brasileira de Cooperação Técnico-Educacional na República Democrática do Timor-Leste começam a deixar as primeiras marcas positivas na sociedade timorense. Bem recebidos, graças principalmente ao bom conceito que a música e o futebol brasileiros têm por lá, os 47 docentes que participam, desde o início de abril, do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), procuram se integrar aos hábitos e costumes locais, ao mesmo tempo em que promovem cursos, oficinas, seminários, e outras atividades.
O Brasil é um dos países que participa do projeto de reconstrução da identidade do Timor-Leste, liderado pela Organização das Nações Unidas (ONU), após 24 anos sob domínio da Indonésia. Os brasileiros vão reforçar o aprendizado da língua portuguesa, falada por cerca de 5% da população. O português é uma das línguas oficiais do país, bem como o tetum, utilizado por aproximadamente 23% dos habitantes, os outros 72% dos timorenses falam diversas idiomas locais. Até março de 2005, eles ministrarão aulas, em português, de disciplinas como matemática, química, e biologia, com o objetivo de qualificar docentes dos diversos níveis de ensino. Também vão participar de projetos e atividades de planejamento, em conjunto com representantes da Universidade Nacional do Timor-Leste, e do Ministério da Educação, Juventude e Desporto daquele país.
Um dos resultados já concretizados pela missão é a elaboração de livros didáticos de física, biologia, história, geografia e educação física, utilizando a realidade local. Os livros de história e geografia foram ilustrados com fotos do país e seu povo. Outros produtos são os programas de Qualificação de Professores e Ensino da Língua Portuguesa em Timor-Leste, e Formação Continuada de Professores em Exercício (o Pró-formação do Brasil). Na primeira quinzena de agosto, os professores brasileiros darão treinamento a mil professores de nível médio, no interior do país, utilizando material adaptado à realidade do povo e em língua portuguesa.
Trabalho voluntário - De acordo com Cleonice Terezinha Fernandes, da Secretaria de Educação do Estado do Paraná à disposição do Governo do Mato Grosso, que integra a missão, o perfil do grupo é de pessoas que já desenvolviam atividades voluntárias no Brasil, além de terem conhecimento em duas ou mais áreas de atuação profissional. Ela conta que algumas pessoas estão trabalhando junto com a Pastoral da AIDS, coordenada por uma freira brasileira e ela própria está engajada em inúmeras atividades. Uma delas é a Pastoral da Criança, também administrada por religiosas brasileiras.
Cleonice ainda dá aulas de dança e participa de um projeto que ensina a língua portuguesa, através da música, a adolescentes pobres da periferia. "Adolescência será o grupo de referência, porque é aquele que, durante o domínio indonésio, não teve contato efetivo com a língua portuguesa", explica. Ela acrescenta que a maior recompensa de sua estada no Timor é o seu crescimento pessoal e profissional, pelo fato de ter uma experiência internacional em uma cultura absolutamente diferente.
Para Lúcia Lopes Pinheiro Rocha, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o povo timorense precisa muito do conhecimento e experiência dos brasileiros. "Na minha opinião, o Brasil pode e deve oferecer, a esse e a outros povos, a vivência amadurecida das suas instituições. Tenho orgulho de falar da nossa cultura, das nossas leis e do quão amadurecido se encontra o nosso sistema educacional. Foi bom ter saído do Brasil e poder observar à distância", diz. Entre os trabalhos de que participa está a criação de um sistema de acreditação de cursos semelhante ao processo de reconhecimento utilizado no Brasil, mas adaptado à realidade timorense.
Jovem nação - A República Democrática do Timor-Leste foi constituída em 1975 e restaurada em 2002. Localizada no lado oriental da ilha de Timor, no sudeste asiático, é a mais jovem nação do mundo. Ex-colônia portuguesa, foi invadida e teve seu território anexado pela Indonésia no período de 1975 a 1999. Segundo dados do Ministério da Educação timorense, o país possui 749 escolas primárias, 126 pré-secundárias, 57 secundárias, 13 profissionalizantes e 58 pré-escolas. O número total de professores é de 6.460, sendo 4.408 do primário; 1.155 do pré-secundário, 613 do secundário, 214 do profissionalizante e 70 da pré-escola. (Fátima Schenini)