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Avaliação do CsF é tema de pesquisa de mestrado de ex-bolsista
Após inúmeras experiências no programa Ciência sem Fronteiras (CsF), Guilherme Rosso, um dos criadores e colaboradores da Rede CsF , agora também se dedica ao mestrado em Modelagem de Sistemas Complexos na Universidade de São Paulo, cuja pesquisa pretende justamente colaborar com a avaliação do programa Ciência sem Fronteiras como política pública de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O ex-bolsista pretende aplicar todo o conhecimento obtido em sua experiência no exterior de volta ao país. "O ano no exterior foi o mais marcante da minha graduação e me deu grandes insumos e sustentação para o que quero para o futuro. E, para o futuro, quero poder ajudar o Brasil com conhecimentos e atuação em políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação, quero ser um especialista nisso."
Guilherme passou um ano nos Estados Unidos, de 11 de janeiro de 2012 a 11 de janeiro de 2013. "Tive aprendizados diversos que me influenciam até hoje. Certamente o Ciência sem Fronteiras mudou a minha vida", conclui.
Experiência no exterior
Pelo Ciência sem Fronteiras, Rosso foi para o Departamento de Física da Clark University, na costa leste dos Estados Unidos, com orientador acadêmico definido, o professor Chris Landee. "Ele me auxiliou com a escolha das disciplinas do primeiro semestre, indicou possíveis professores que eu poderia fazer pesquisa e deu outros detalhes sobre o departamento. Ao longo do semestre, as disciplinas foram enriquecedoras tanto pelo conteúdo, quanto pela sistemática de ensino-aprendizagem e de avaliação. Tive que me adaptar a outro sistema", conta.
No exterior, o estudante também teve a possibilidade de se relacionar com estudantes não apenas norte-americanos, mas de todo o globo. "Após a semana de orientação aos alunos internacionais, também me integrei muito rápido com a International Students Association (ISA), que me deu a oportunidade de interagir com estudantes de mais de 70 países diferentes. Essa integração foi muito importante, pois janeiro é o meio do ano acadêmico no hemisfério norte e, por isso, a maioria dos estudantes já está bem adaptada e tem seus círculos de amizade."
Estágio e experiências práticas
Durante as férias de verão, por recomendação do CsF, os bolsistas fazem estágio em empresa ou pesquisa em universidades. Guilherme conseguiu uma posição no Complex Matter and Non-linear Physics Laboratory da Clark University, sob orientação do professor Arshad Kudrolli. "Durante três meses, conduzi em tempo integral pesquisa experimental e computacional sobre particle packing, um tópico de intensa pesquisa devido as numerosas aplicações na indústria, cristalografia e até mesmo em pesquisa ambiental", explica. O laboratório que Guilherme trabalhou contava com oito pesquisadores de seis nacionalidades diferentes, entre indianos, franceses, romenos e iraquianos.
Ainda durante o verão, o estudante brasileiro foi voluntário de um projeto da ONG Latino STEM Alliance em uma escola. "A Latino STEM Alliance visa promover oportunidades de carreira em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) para crianças e adolescentes latinos nos EUA. O projeto chamava-se Summer Youth Robotics Project e tinha como público alvo crianças de 5ª série na Nativity School of Worcester, em Massachusetts. Um colega e eu atuamos como facilitadores para orientar os estudantes sobre como construir e programar ludicamente robôs utilizando blocos de montar. Nós também ajudamos a organizar o Torneio de Robôs que aconteceu ao final das duas semanas de projeto", relembra.
No segundo semestre de aulas, o estudante destaca os trabalhos desenvolvidos na disciplina de Tecnologia de Energias Sustentáveis. "Fizemos estudos de viabilidade para a implantação de painéis solares em residências e para a implantação de uma turbina eólica na universidade, tudo isso utilizando dados e valores reais. Fizemos também aplicações práticas como a instalação de um painel gerador de energia solar na cobertura do prédio, acompanhamento dos dados do anemômetro da universidade, que mede a velocidade do vento, e o início de um projeto de instalação de um grande transformador de eletricidade em corrente alternada para eletricidade em corrente contínua", conta.
Encontro de físicos
Um dos momentos mais marcantes nos Estados Unidos para o brasileiro foi o congresso da Society of Physics Students (SPS), organizado de quatro em quatro anos, e que em 2012 aconteceu em Orlando, Flórida. "Durante o primeiro dia fizemos um tour na área do Kennedy Space Center, centro dos grandes lançamentos de foguetes espaciais pela NASA. O nosso guia era George Hoggard, que vinha trabalhando lá há 42 anos (desde o acidente da Apollo I). Ele se tornou o chefe de Treinamento de Incêndios desde que chegou na NASA e nos mostrou bastante coisa. Também nos contou algumas histórias engraçadas, interessantes e impressionantes que eu nunca vou esquecer, como a história de novembro/1968. Naquele mês, ele foi designado para treinar três astronautas que ele não sabia quem eram e, seis meses depois, aqueles eram os astronautas que pisaram na Lua", conta
Para Guilherme foram dias de muito aprendizado e de conhecer grandes cientistas. "Durante a primeira plenária de abertura, sentei na mesma mesa do professor Coe College, ex-Presidente da SPS, e da Professora Jocelyn Bell Burnell, a mesma que descobriu os Pulsares de Rádio. A fala de abertura foi conduzida pelo Dr. John Grunsfeld, chefe de Ciências da NASA, que também é conhecido como 'o Reparador do Telescópio Hubble' por ter ido três vezes ao espaço com esta missão. Na manhã do segundo dia, o evento foi aberto com a palestra do Dr. John Mather, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 2006.".
O momento mais especial, entretanto, para o estudante brasileiro se deu durante uma refeição de café da manhã. "Tivemos um 'Breakfast with Scientists', um momento em que todos os estudantes puderam sentar com cientistas para comer e conversar. Tive o prazer de pegar a última cadeira de uma específica mesa, em que vi de longe um senhor de cabelos brancos. Sentei ao lado do Dr. Freeman Dyson, à época com 88 anos, e pude conhecer mais de perto a sua história junto com outros sete ou oito estudantes à mesa. Eu estava com uma camisa do Ciência sem Fronteiras que tinha a bandeira do Brasil na manga e acabamos por falar sobre o Brasil e sobre sua amizade com o cientista brasileiro Cesar Lattes. Em algum momento o assunto da mesa era sobre 'Forças' e um estudante veio com a questão de uma possível teoria global de unificação; as palavras do Dr. Freeman foram: 'Eu espero que não exista uma teoria final. Seria mais divertido se nós mantivéssemos o mistério', acompanhadas de uma risada espontânea. Foi uma experiência inesquecível."
Ciência sem Fronteiras
Lançado em dezembro de 2011, o
Ciência sem Fronteiras
busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) por meio de suas respectivas instituições de fomento – Capes e CNPq.
Além disso, busca atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores brasileiros nas áreas prioritárias definidas no programa, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam treinamento especializado no exterior. Dados do programa podem ser consultados no Painel de Controle do CsF .
(Pedro Arcanjo)