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Assimetrias regionais e soluções para o problema são tratados por coordenadores de área
Mesmo com um crescimento da ordem de 25% ao triênio, o Sistema Nacional de Pós-Graduação ainda apresenta assimetrias com relação ao desenvolvimento da pós-graduação entre as regiões geográficas. Para o coordenador da área de Planejamento Urbano e Regional/Demografia, Rainer Randolph, esta situação existe em todas as áreas. "Na verdade, não estamos falando de assimetrias, mas de desigualdades. Entre as macrorregiões do Brasil, temos uma concentração de programas no Sudeste, acho que isso é comum nas demais áreas. Mas também temos essas desigualdades entre as áreas metropolitanas e as áreas interioranas dos estados. Na nossa área, em particular, temos programas criados recentemente fora das áreas metropolitanas, que acredito que tenha contribuído para uma maior igualdade entre oferta de cursos nas metrópoles e no interior do país."
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rainer diz que, atualmente, essa interiorização na área que coordena é mais forte no Sul, mas também ocorre no interior da Paraíba, por exemplo. No Norte, o problema decorre do fato de os programas estarem mais concentrados nas capitais. "Nossa área é representada do Norte ao Sul, mas ainda apresenta problemas com relação à interiorização. Temos trabalhado com a formação de mestres e doutores em áreas fora das grandes metrópoles", afirma.
A coordenadora da área de Serviço Social, Berenice Rojas Couto, que é vinculada à PUC do Rio Grande do Sul, reconhece que a assimetria é um problema do Brasil em geral. "Obviamente que ainda existe assimetrias, mas ela tem sido, ao longo dos últimos triênios, enfrentada com a criação de novos programas de mestrado e doutorado. Nossa área ainda é pequena com relação à necessidade e à demanda, mas temos preferido, enquanto área, fazer um enfrentamento dessa questão de forma qualificada. O problema é a formação de doutores, que ainda é um número pequeno."
Couto ressalta que no julgamento de novos programas a questão da expansão tem sido levada como critério, sempre com foco na qualidade. Para ela, a assimetria acontece por uma questão cultural e que a partir da demanda do próprio governo as áreas estão vendo a necessidade de formação de recursos humanos de alto nível para dar conta de um problema tão importante, que é o desenvolvimento do país. "Essas assimetrias começaram a ser perseguidas no sentido que a gente possa reduzi-las com qualidade", conclui.
Já Martonio Mont'Alverne Barreto Lima, coordenador da área de Direito da Capes e vinculado à Universidade de Fortaleza (Unifor), há certa dificuldade de compreensão de que a instalação de um programa de pós-graduação não é só meramente uma questão de dados, uma questão objetiva, é uma questão de política de desenvolvimento também. "Acho que a comunidade acadêmica tem que incorporar essa visão para dar os passos significativos que o país precisa", afirma.
Para Lima, a assimetria regional de programas de pós-graduação existe quando se observa em números absolutos, mas quando se observa em números proporcionais, há outra conclusão. "Nós observamos que, na verdade, a região Sul e a região Sudeste, que contam com maior número de programas, proporcionalmente também são carentes, são deficitárias. Porque quando comparamos o número de habitantes com o número de programas que elas têm, nós vemos que há uma falta. Portanto há um espaço muito grande para o crescimento da área, com necessidade de estratégica nacional."
O coordenador disse que na área de Direito, no ano de 2012, todos os pedidos de mestrados e doutorados interinstitucionais foram aprovados. Ele reforça que esses programas vão atender regiões completamente desassistidas, como o Vale do Jequitinhonha (MG) e as regiões Norte de Nordeste do país. "Fizemos isso, mas reconhecemos que precisamos mais", afirma.
A coordenadora da área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo, Eliane Pereira Zamith Brito, da Fundação Getúlio Vargas, (FGV-SP), reconhece que há concentração forte nas regiões Sul e Sudeste, em especial se for considerada apenas a modalidade de doutorado. Pelo fato de haverem poucos cursos na região Nordeste, a área está discutindo a possibilidade de alçar as notas dos mestrados na região. "Isso acontecerá se, claro, merecerem. Assim será possível abrir também um curso de doutorado no programa. Na região Norte não temos nenhum curso de doutorado e apenas dois cursos de mestrado, um acadêmico e um profissional, ambos com conceito 3. A questão central é que não temos doutores na região Norte para comporem o corpo docente desses programas. Não temos matéria prima básica para comporem cursos novos. Na região Centro-Oeste estamos superando este desequilíbrio."
A professora também reforça a necessidade de atrair professores para essas regiões e afirma que falta articulação entre as instituições para discussão da importância da área para a região. "A área tem procurado trabalhar junto com as instituições que demonstram interesse para mostrar caminhos, como associações, e fazer com que professores de fora sejam cedidos durante um período para ajudar outras instituições. Falta disponibilizar recursos para o trânsito de professores."
Estevam Barbosa de Las Casas, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador da área de engenharias I, diz que existem sim assimetrias e que elas acontecem em função do desenvolvimento regional. "Muitas vezes é difícil fixar professores. Dentro do sistema federal de educação é bastante comum alguém fazer um concurso em Rondônia, por exemplo, e aproveitar para se transferir para mais perto de casa." Para ele, é preciso uma forte política de indução para que esta situação seja sanada.
Para Carlos Frederico de Oliveria Graeff, coordenador da área de Materiais e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Bauru), a área não tem muito problema com relação à região Nordeste, pois nos últimos anos houve forte expansão de novos programas e quase todos os estados da região estão contemplados com algum programa. "Para uma área pequena como é a área de Materiais, acho bastante notável. Existe dificuldade no Centro-Oeste e no Norte, principalmente. No Norte não temos nenhum programa e nenhuma proposta", conta.
Graeff falou sobre a dificuldade de fixação de docentes na região Norte. "Falta políticas mais claras no sentido de formar um grupo mínimo em uma determinada instituição que sirva de semente para que outras instituições tenham esse mesmo tipo de desenvolvimento. Temos pesquisadores espalhados na região Norte, mas precisamos de um grupo unido. Seria interessante a existência de programas para apoiar grupos", sugere.
Ações
Como ações que visam a redução das assimetrias regionais, os coordenadores apresentam algumas sugestões. A coordenadora da área de serviço social, Berenice Rojas, diz que a Capes tem tido um importante papel indutor nessa questão. "Antes esperávamos que as universidades fizessem propostas e, hoje, não só a Capes espera que as universidades façam propostas com qualidade, como também ela localiza áreas assimétricas e vai atrás de qualificar essas áreas. Os coordenadores de áreas têm ido a essas regiões, têm feito contato com grupos de professores, têm visto a necessidade", afirma. Rojas também ressalta que a Capes tem feito programas de bolsas importantes para as regiões com menor desenvolvimento da pós-graduação. "Existe um investimento do ponto de vista da Capes no sentido de que a gente resolva as assimetrias. O Brasil só será desenvolvido se for plenamente atendido nessas necessidades", conclui.
Para Martonio Lima, as grandes instituições, nas quais estão os programas que são melhores avaliados, têm um papel fundamental nisso. "Elas deveriam ter mais solidariedade em termos de país. A gente pensa em resolver os aspectos nacionais, mas já recebemos provocações internacionais de países africanos de língua portuguesa que tem procurado a academia brasileira para qualificar seus professores e seus alunos nesses países. Então a tarefa é dupla, pois o Brasil tem que fazer isso. Temos que resolver o problema interno e também não podemos deixar de atender o problema externo", afirma.
Eliane Brito diz sugere que a Capes poderia fomentar diretamente doutorados interinstitucionais em regiões que estão precisando. "É preciso definir mesorregiões prioritárias e, em vez de os programas prospectarem, a Capes poderia fazer essa prospecção para prioridades identificadas."
Já para Rainer Randolph, em geral, o que poderia ser feito é melhorar as condições de trabalho em locais onde é preciso para que as pessoas tenham vontade de ficar nesses lugares. "É preciso investimentos em infraestrutura, melhores condições em geral, pois, assim, também cria-se melhores condições para criação de novos cursos. A criação de novos cursos é iniciativa de grupos de pesquisa, portanto, essas pessoas precisam se sentir motivadas", conclui.
Natália Morato e Fabiana Santos