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PRÊMIO CAPES DE TESE
Ana Paula desenvolveu método para quantificar contaminantes em pescados
Com o trabalho intitulado ‘Derramamento de petróleo no litoral brasileiro: desenvolvimento de métodos analíticos para controle de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e monitoramento de pescado baseado em risco’, Ana Paula Zapelini de Melo venceu o Prêmio CAPES de Tese 2024 na área de Ciência de Alimentos. Com ele, a pesquisadora buscou desenvolver e validar métodos oficiais para a quantificação de contaminantes petrogênicos em pescado, em resposta ao desastre com derramamento de petróleo ocorrido no Brasil em 2019. Esse modelo foi validado conforme as diretrizes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e da União Europeia (UE), e tornou-se o primeiro protocolo oficial do Brasil para controle de contaminantes petrogênicos em pescado.
Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
Teve início na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde me formei em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Durante a graduação, me envolvi em diversos projetos de pesquisa, o que despertou meu interesse pela investigação científica e pelo desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas aos alimentos. Esse envolvimento inicial foi decisivo para minha escolha de seguir na área acadêmica e me aprofundar no campo da Ciência dos Alimentos.
Após concluir a graduação, fui aprovada no processo seletivo para o mestrado na mesma instituição, onde tive a oportunidade de explorar a aplicação da nanotecnologia em alimentos. Com o término do mestrado, ingressei no doutorado em Ciência de Alimentos, também na UFSC, direcionando minha pesquisa para o desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação de contaminantes em alimentos, especialmente em resposta a desafios ambientais e de saúde pública.
Durante o doutorado, atuei no enfrentamento do desastre com derramamento de petróleo ocorrido no Brasil, em colaboração com os laboratórios do MAPA, especificamente o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul (LFDA-RS) e o Setor Laboratorial Avançado de Santa Catarina (SLAV-SC). Nesse contexto, contribui para a implementação de estratégias de monitoramento e controle da qualidade do pescado no país, aplicando de forma prática os conhecimentos adquiridos ao longo da minha trajetória acadêmica.
Atualmente, como pós-doutoranda em Ciência de Alimentos na UFSC, estou estudando a contaminação de pescado com nano e microplásticos, um tema emergente e de grande relevância para a segurança dos alimentos.
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique de forma mais detalhada o conteúdo da sua tese.
Meu estudo, realizado sob orientação do professor Pedro Luiz Manique Barreto e coorientação de Rodrigo Barcellos Hoff, teve como objetivo desenvolver e validar métodos analíticos oficiais para a quantificação de contaminantes petrogênicos em pescado, em resposta ao desastre com derramamento de petróleo ocorrido no Brasil em 2019.
Diante da necessidade de um método analítico rápido, confiável e de baixo custo para avaliar a contaminação do pescado, adaptamos máquinas de café espresso, transformando-as em equipamentos laboratoriais, simulando a técnica de extração por líquido pressurizado. Nesse processo, as amostras de pescado são colocadas em cápsulas, onde são extraídas de maneira similar à preparação de um café. Após a extração, a quantificação dos contaminantes petrogênicos (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos) era realizada por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas. Esse método foi validado conforme as diretrizes do MAPA e da UE, e tornou-se o primeiro protocolo oficial do Brasil para controle de contaminantes petrogênicos em pescado.
Embora o método utilizando a cafeteira tenha se mostrado eficiente em um momento de emergência de saúde pública, o aumento do número de amostras durante as investigações do desastre exigiu o desenvolvimento de um método ainda mais eficiente. Para atender a esta demanda, validamos um método avançado utilizando extração dispersiva guiada energizada. Esse método combina duas técnicas de extração simultâneas: a extração por líquido pressurizado e a extração em fase sólida dispersiva, permitindo uma análise ainda mais rápida e automatizada das amostras de pescado.
Reconhecido por sua eficácia, o método atualmente é utilizado como procedimento oficial em Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária do MAPA, representando um importante avanço na capacidade analítica e regulatória do país.
Durante os quatro anos de estudo, mais de mil análises foram realizadas, abrangendo uma ampla gama de espécies, incluindo peixe, camarão, lagosta, mexilhão, ostra e polvo. Essa extensa cobertura foi fundamental para garantir a segurança e a qualidade do pescado consumido no Brasil.
Em paralelo, os métodos desenvolvidos também forneceram suporte à investigação forense do desastre, conduzida pela Polícia Federal, a Operação Mácula, contribuindo para a elucidação dos impactos decorrentes do derramamento de petróleo.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa?
Foi seu impacto prático e imediato na segurança dos alimentos e na resposta a um desastre ambiental de grandes proporções. Desenvolvemos métodos analíticos que foram rapidamente adotados em nível nacional, oferecendo uma solução eficaz para o monitoramento de contaminantes em alimentos e garantindo, assim, a proteção da saúde pública. Essa abordagem reforça a importância da colaboração entre pesquisadores e agências reguladoras para enfrentar desafios complexos, como um dos maiores desastres com petróleo já registrados no mundo. Além disso, demonstra como a ciência pode ser aplicada para resolver problemas reais e urgentes, com resultados tangíveis e duradouros para a sociedade.
A relevância do meu estudo foi destacada por meio de diversas premiações. Além do Prêmio CAPES de Tese de 2024, fui agraciada com o título de Pesquisadora Destaque pela Brazil Conference at Harvard and MIT, em reconhecimento à excelência da minha pesquisa científica realizada no Brasil. Também recebi uma Menção Honrosa do Conselho Federal de Química no Prêmio Talentos CFQ de 2024, reforçando a importância do meu trabalho no cenário científico nacional e internacional.
De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Os métodos analíticos desenvolvidos e oficializados em âmbito nacional forneceram uma base científica sólida para orientar políticas públicas e ações regulatórias voltadas à segurança dos consumidores de pescado. Com esses métodos, as autoridades reguladoras puderam tomar decisões baseadas em evidências, garantindo a proteção da saúde pública, especialmente em momentos críticos como desastres ambientais, onde a contaminação do pescado representa um risco à segurança alimentar e dos alimentos. Além disso, a pesquisa foi fundamental preservar a subsistência das comunidades pesqueiras, que dependem da pesca como principal fonte de renda e alimentação. Ao fornecer informações confiáveis, o estudo garantiu a segurança dos produtos, restaurou a confiança dos consumidores e contribuiu para a continuidade da indústria pesqueira, um setor essencial para a economia nacional.
Qual a importância de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
Vai além da validação do esforço pessoal; é o reconhecimento da relevância do trabalho para a sociedade e para o avanço científico no país. Ser reconhecida por um prêmio tão prestigiado demonstra que meu projeto trouxe contribuições concretas e soluções inovadoras para problemas reais. Receber esse reconhecimento é, sem dúvida, um grande incentivo para seguir fazendo ciência, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população.
Foi bolsista da CAPES? Se sim, de que forma a bolsa contribui para sua formação?
Ser bolsista da CAPES durante o doutorado permitiu que eu me dedicasse integralmente à pesquisa, sem a necessidade de equilibrar o trabalho com os estudos. Essa dedicação exclusiva foi fundamental para conduzir experimentos detalhados, coletar dados e desenvolver as metodologias analíticas avançadas que marcaram minha tese.
O suporte da CAPES foi decisivo para que eu alcançasse os resultados que hoje têm aplicações práticas na segurança dos alimentos, beneficiando tanto a comunidade acadêmica quanto a sociedade em geral. Sou profundamente grata à CAPES por ter possibilitado essa jornada, que moldou minha carreira e contribuiu para a excelência da minha pesquisa.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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