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Rio de Janeiro | Floresta da Tijuca
DEROY, Laurent. Defrichement d’une forêt. Paris [França]: Lith. de G. Engelmann, [1835]. 1 grav, pb.
A Floresta da Tijuca é um cartão postal do Rio de Janeiro, sua beleza e exuberância encantam a todos que a conhecem. Mas não foi sempre assim. O Parque Nacional da Floresta da Tijuca, composto pelas Serras da Tijuca e da Carioca divididas pelo Alto da Boa Vista, sofreu grande desmatamento, provocado principalmente pelo plantio do café.
A devastação da floresta começou para a obtenção de madeira, carvão e logo foi ocupada por pequenos engenhos de cana de açúcar. O café chegou por volta de 1760 e se espalhou pelo maciço da Tijuca. O sucesso econômico da exportação do café atraiu mais plantadores e a floresta foi sendo posta abaixo. Este processo de desmatamento foi documentado por artistas que visitaram o Brasil na época. A ilustração deste post é um exemplo. Intitulada “Defrichement d’une forêt”, retrata o desmatamento da Floresta da Tijuca para dar espaço ao plantio de café. Trata-se de uma gravura de Laurent Deroy (1797-1886), feita a partir de um desenho de Johan Moritz Rugendas (1802-1858) no período que esteve no Rio de Janeiro, entre 1822 e 1824. Esta e outras gravuras do período estão na obra “Viagem pitoresca através do Brasil”, disponível em http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon94994/icon949...
Na iconografia da época é comum a cena de morros pelados. Como consequência do desmatamento veio a mudança do clima e a crise de abastecimento de água na cidade. Houve vários períodos de estiagem, sendo as mais longas as dos anos de 1824, 1829, 1833 e 1843. A água nascida na floresta abastecia os bairros em volta e o centro. A necessidade do reflorestamento era premente. As primeiras iniciativas foram na época de D. João VI, proibindo a derrubada de árvores nas imediações dos dois principais mananciais, os rios Paineiras e Carioca. Não foi o suficiente. A partir de 1840, sucessivas crises de abastecimento obrigaram o governo a procurar uma solução para o problema. Uma comissão de estudos recomendou a desapropriação de todas as áreas que abrigassem nascentes de água, o que só começou a acontecer por volta de 1850.
Em 1861, D. Pedro II (1825-1891), movido por pedidos populares e pelo empenho do Barão do Bom Retiro, o maior idealizador do reflorestamento, baixou uma portaria regulamentando o reflorestamento da Tijuca e nomeando para esta tarefa o Major da Guarda Nacional Manoel Gomes Archer (1821-1907). A tarefa não era nada fácil. O Major Archer começou a obra de reflorestamento com a ajuda de sete escravizados e alguns trabalhadores assalariados, conduzindo pessoalmente o reflorestamento por doze anos. Apesar de ter introduzido algumas espécies exóticas, o Major Archer dava preferência a vegetação originária da Mata Atlântica, cujas mudas ele buscava em seu sítio em Guaratiba , trazidas no lombo de burro até a floresta. Plantou cerca de 100.000 mudas.
Depois da saída de Archer, o Tenente Coronel do Exército Gastão Luís Henrique de Robert d’Escragnolle (1821-1888) foi chamado para dar continuidade ao trabalho de reflorestamento.
Do ponto de vista da área plantada não acompanhou o ritmo de seu antecessor, mas com ele a floresta ganhou uma nova feição. Escragnolle buscou transformar a área em um belo parque. Trouxe o paisagista francês Auguste Glaziou (1833-1906) e juntos construíram, influenciados pela Art Nouveau, pontes, lagos e chafarizes.
A floresta passou por várias administrações e não recebeu o cuidado que merece, com
algumas exceções, como na gestão de Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968). No entanto, neste dia do meio ambiente, é bom lembrar que a Floresta da Tijuca, uma das maiores florestas urbanas, é o resultado de uma experiência de reflorestamento inédita à época. É um exemplo de que os seres humanos são capazes de reconstruir o que destruíram.
(Seção de Iconografia)