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Perfil | Vanilda Salignac Mazzoni, pesquisa “O que fizeram elas? As práticas femininas no interior dos Conventos baianos no século XVIII”
Vanilda Salignac Mazzoni, pesquisadora e bolsista do Programa de Apoio à Pesquisa da Biblioteca Nacional.
Os estudos sobre a vida das religiosas baianas vêm sendo realizados pela pesquisadora desde 2007. Eles iniciaram pelas Monjas Beneditinas, passaram às Freiras do Recolhimento de Nossa Senhora dos Humildes, no Recôncavo baiano, e agora chegam às Irmãs Clarissas e às Irmãs Ursulinas, do Convento do Desterro e do Convento de Nossa Senhora das Mercês, respectivamente, em Salvador.
Nesta nova proposta, pretende-se discutir, por meio da documentação manuscrita encontrada no acervo digital da Biblioteca Nacional, como viviam essas mulheres, o significava a vida em clausura, quais eram suas obrigações, se era necessário ter vocação, se elas eram educadas nesses conventos, a idade mínima de entrada, os motivos que levavam-nas a optar por uma vida distante do mundo laico. Essas indagações serão respondidas por meio do levantamento de publicações sobre o tema e pela utilização de manuscritos encontrados não apenas na Biblioteca Nacional, mas também nas próprias instituições.
No caso especial do Convento do Desterro, a sua fundação teve alguns objetivos específicos, pois foi um pedido da população, uma vez que ricos comerciantes e fazendeiros tinham dificuldades para enviar suas filhas a Portugal para que elas ingressassem nos conventos, pois o custo e o perigo da viagem eram evidentes; a decadência dos engenhos de açúcar fazia com que fosse difícil para os proprietários obter bons casamentos para suas filhas, e a solução mais apropriada era as enclausurarem; além disso, era um índice de status para qualquer família entre os séculos XVII e XVIII ter uma filha freira, de véu preto.
No caso do Convento das Ursulinas, o documento manuscrito da Biblioteca Nacional conta a história de sua fundadora, Úrsula Luiza de Monteserrate, órfã de pai e mãe, herdeira de grande fortuna, que decidiu construir um convento para abrigar mulheres nobres que não desejassem se casar, além de também abrigar mulheres desejosas de uma vida religiosa. É uma outra perspectiva de estudo.
A importância desta pesquisa explica-se de várias maneiras: primeiro, a história das mulheres é sempre mal contada. Sempre é necessário revisar essa história e acrescentar algo, pois muitas vezes as mulheres não foram ouvidas, sendo quase sempre silenciadas. Segundo, são poucas as oportunidades de escrever sobre um espaço de tão pouco acesso como são os conventos. Terceiro, o Santa Clara do Desterro é o primeiro convento feminino fundado no Brasil na América portuguesa; quarto, são documentos inéditos, e manuscritos originais são fontes primárias importantíssimas, devido aos inúmeros estudos que podem ser feitos; quinto, por serem manuscritos, será possível fazer um estudo paleográfico e diplomático para identificá-los e situá-los no acervo da instituição custodiadora, a fim de bem compreender as suas condições de produção e localizá-los na história da escrita feminina e na história das instituições às quais dizem respeito, pois todos os documentos encontrados serão transcritos.
Vanilda Salignac de Sousa Mazzoni é graduada em Letras Vernáculas e Inglês pela Universidade Católica do Salvador, com Mestrado e Doutorado em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia; pós-doutoramento em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, e pós-doutoramento na Universidade Federal da Bahia, na área de História da Escrita. Especializou-se em Estudos de Gênero, com ênfase em biografias femininas; posteriormente, tornou-se restauradora de documentos manuscritos. É membro do Grupo de Pesquisa Memória em Papel, da Universidade Federal da Bahia. Já publicou vários livros autorais nos temas Gênero e Patrimônio, além de inúmeros artigos e capítulos de livros, e deu palestras sobre os referidos temas. É pesquisadora e proprietária do Memória e Arte – Centro de Pesquisas e Projetos em Preservação de Documentos Antigos e Livros Raros.