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Perfil | Thiago Campos Pessoa Lourenço e o projeto Aristocracia negreira na construção do Brasil: o comércio proibido de africanos e a nobreza imperial pelas páginas da imprensa abolicionista
Thiago Campos Pessoa Lourenço, pesquisador e bolsista do Programa de Apoio à Pesquisa da Biblioteca Nacional.
O projeto Aristocracia negreira na construção do Brasil: o comércio proibido de africanos e a nobreza imperial pelas páginas da imprensa abolicionista parte da perspectiva de que a independência do Brasil inaugurou um Estado negreiro. Assim, afirmamos que o país recém-formado defendeu o comércio de africanos sob o signo do contrabando por meio das agências de suas elites dirigentes e da multifacetada classe senhorial brasileira. Um dos principais resultados desse processo foi a construção de uma aristocracia traficante, elemento silenciado pela coesão de classe habilmente conduzida pela elite política brasileira.
O silêncio produzido pelo Estado imperial foi, entretanto, captado pelos jornais O Philantropo e O Grito Nacional, publicados de 1848 a 1858. Seus números denunciaram o protagonismo daqueles que personificaram a íntima relação entre o Estado brasileiro e o contrabando de pessoas juridicamente livres. No contexto das celebrações do bicentenário da independência do Brasil, enfatizaremos dimensões ainda ocultas de nossa formação nacional.
Nessa perspectiva, analisaremos como o Estado imperial se instituiu como nação soberana em íntima relação ao contrabando negreiro. Para isso, adensaremos o estudo da complexa rede do tráfico de africanos desde sua reabertura até sua completa extinção, ou seja, entre os anos de 1830 e meados da década de 1850. A partir da imprensa abolicionista da Corte, procuraremos demonstrar como frações da nobreza imperial, indivíduos nobilitados como comendadores, barões e viscondes, construíram suas fortunas vinculados à pirataria, por meio do apoio político, logístico e financeiro à atividade negreira clandestina. Nesse processo, analisaremos também as conexões e inserções atlânticas desses indivíduos e suas famílias, evidenciando como boa parte do patrimônio da elite imperial, sobretudo, em sua fração hegemônica, era ilegal, produto do contrabando e da redução de pessoas juridicamente livres à condição de cativas.
Thiago Campos Pessoa é doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense e pesquisador associado ao grupo de pesquisa O Império do Brasil e a Segunda Escravidão - http://segundaescravidao.com.br/ - e à linha de pesquisa Memória, Áfricas, Escravidão do Laboratório de História Oral e Imagem – Rede de Pesquisa - https://www.ufjf.br/labhoi/. É autor de O Império da escravidão: o complexo Breves no Vale do Café (c. 1850-1888), livro vencedor dos prêmios Arquivo Nacional de Pesquisa e Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Seu texto base foi também laureado no prêmio UFF de Teses e Dissertações no ano de 2016. O pesquisador atua no ensino e pesquisa em história do Brasil, com ênfase no período imperial e na história da escravidão africana. Nos últimos anos, tem se dedicado à compreensão das últimas duas décadas de funcionamento do comércio negreiro para o Brasil.
Link para o lattes:
http://lattes.cnpq.br/3845380921843358
Artigos do pesquisador sobre a temática do projeto:
a. Sobre o que se quis calar: o tráfico de africanos no litoral norte de São Paulo em tempos de pirataria. Revista de História (UNESP), v. 39, p.1-30, 2020.
https://www.scielo.br/j/his/a/BwcskjbHgVc8gvwv4xgYQKP/abstract/?lang=pt
b. Sob o signo da ilegalidade: o tráfico de africanos na montagem do complexo cafeeiro (c.1831-c.1850). Tempo (Niterói. Online), v. 24, p. 422-449, 2018.
https://www.scielo.br/j/tem/a/3JqqRk9FKLbLVVgGfDZtbKg/?lang=pt
Livros publicados e organizados sobre a temática do projeto:
a. O Império da Escravidão: o complexo Breves no Vale do café (c.1850-1888). 1a. ed. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018. 256p.
https://www.amazon.com.br/Imp%C3%A9rio-Escravid%C3%A3o-complexo-Breves-c-1850-c-1888/dp/8560207899
b. Tráfico & Traficantes na ilegalidade: o comércio proibido de escravos para o Brasil (c. 1831-1850). 1a. ed. São Paulo: Hucitec, 2021. 244p.
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a. Scielo em Perspectivas: Humanas
b. Revista FAPESP:
c. Revista FAPERJ: