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Perfil | Tereza Renata Silva Rocha e a pesquisa intitulada “O Flos Sanctorum de 1590: um legendário pós-tridentino na Colleção Thereza Maria Christina”
Tereza Renata Silva Rocha, pesquisadora e bolsista do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa 2021.
A pesquisa intitulada “O Flos Sanctorum de 1590: um legendário pós-tridentino na Colleção Thereza Maria Christina” tem como fonte principal o Flos Sanctorum, uma coletânea de Vidas de santos escrita pelo frei dominicano Diogo do Rosário, Prior do convento de Guimarães, e impressa em 1590, encomendada pelo arcebispo de Braga, D. Bartolomeu dos Mártires. Presente no terceiro período do Concílio de Trento (1562-1563), o último foi um dos embaixadores portugueses naquele encontro, tendo participado da aprovação dos decretos sobre a veneração de imagens e dos santos.
Fr. Diogo explicita no Proêmio de sua obra estar preocupado em fornecer ao público católico um texto o mais próximo possível da realidade, sem fantasias ou narrativas duvidosas, que seriam os problemas dos legendários anteriores. Essa preocupação está de acordo com os preceitos definidos em Trento, de que os bispos e demais clérigos são fiadores das informações sobre os santos transmitidas aos fiéis para a sua instrução.
Apesar do cuidado com a correção do texto e da intenção expressa de alinhar a obra às diretrizes do Concílio de Trento, o Flos Sanctorum deve sua estrutura à tradição dos legendários medievais, mais especificamente à Legenda Áurea (séc. XIII). Esta obra é uma coletânea em latim de Vidas de santos e festas dispostas seguindo o calendário litúrgico, produzida pelo frade dominicano e arcebispo de Gênova, Jacopo de Varazze, entre 1260 e 1298. Seu texto pertence ao gênero das legendae novae, compilações preparadas entre os séculos XIII e XIV majoritariamente pelos representantes da Ordem Dominicana, com a intenção de pôr à disposição dos clérigos um material para pregação que fosse, ao mesmo tempo, edificante. Tal legendário teve grande circulação durante o período medieval, ganhando diversas versões em línguas vernáculas. Suas narrativas, repletas de elementos maravilhosos, são ordenadas em forma de exempla, pequenas histórias com sentido pedagógico que servem para ilustrar os sermões.
O Flos Sanctorum de Diogo do Rosário segue a organização das legendae novae: as Vidas de santos estão dispostas de acordo com o calendário litúrgico, começando pelo Advento. São estruturadas também na forma de pequenas histórias, que podem ser destacadas do texto e utilizadas para ilustrar os sermões. Muitas das narrativas sobre os servos de Deus também se encontram no legendário medieval.
A obra de Diogo do Rosário teve sua primeira edição em 1565, mas foi em 1590 que recebeu o nome completo de Flos Sanctorum das vidas e obras insignes dos santos. O gênero do flos sanctorum agrupa diversas obras, produzidas principalmente na Espanha e em Portugal, que se caracterizam por reunir Vidas de santos e festas do calendário cristão. Essa edição, que integra o ramo português do gênero, se destaca por ser a última a utilizar caracteres góticos em sua impressão, fazendo ainda parte da Colleção Thereza Maria Christina, na Biblioteca Nacional do Brasil.
Objetiva-se, na presente pesquisa, avaliar as relações que o texto estabelece com a tradição hagiográfica medieval, representada pela Legenda Áurea, procurando-se apontar em que medida foram acolhidas as recomendações de Trento no documento de Frei Diogo, assim como investigar a circulação da obra que compôs a biblioteca da Família Imperial Brasileira.
Tereza Renata Silva Rocha é doutora em História (2015) pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF), com Estágio de Doutoramento na École des hautes études en sciences sociales (2012). É professora da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) desde 2015. Atualmente, é Coordenadora Pedagógica no Colégio Estadual Embaixador Raul Fernandes. É pesquisadora na área de História Medieval, com experiência nos seguintes temas: narrativa hagiográfica, imagem, santidade e demonologia. É membro do Scriptorium, Laboratório de Estudos Medievais e Ibéricos da Universidade Federal Fluminense.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5059029240806853