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Perfil | Fernando Seliprandy pesquisa os usos das imagens fundacionais da nação em 1972, nos 150 anos da independência
Fernando Seliprandy, pesquisador e bolsista do Programa de Apoio à Pesquisa da Biblioteca Nacional.
Às vésperas do bicentenário da independência brasileira, em 2022, vale examinar qual era a imagem de nação celebrada em 1972, quando o marco eram os 150 anos do evento. É com esse olhar lançado desde o presente que o historiador Fernando Seliprandy desenvolve a pesquisa “Iconografia do sesquicentenário da independência na exposição ‘Independência do Brasil (1822-1972)’ – Biblioteca Nacional (1972)”, com bolsa do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa. O objeto específico do trabalho é o conjunto de imagens incluídas na exposição organizada pela Biblioteca Nacional em comemoração ao 150º aniversário da emancipação política do país (o sesquicentenário de 1972).
Metodologicamente, o projeto se filia à abordagem historiográfica que confere primazia às fontes visuais, afastando-se do emprego meramente ilustrativo para propor uma reflexão fundamentada nas próprias imagens. O catálogo da exposição “Independência do Brasil (1822-1972)” lista 40 itens do acervo iconográfico da Biblioteca Nacional. O recorte inclui reproduções de Debret, Thomas Ender, Pedro Américo, entre muitas outras gravuras produzidas no século XIX e cuja circulação contribuiu para a formação de uma visualidade patriótica revisitada até nossos dias – com destaque para os momentos de efeméride.
O objetivo da pesquisa é compreender, com foco nessa exposição e no papel institucional da Biblioteca Nacional no panorama de celebrações do sesquicentenário, os modos de apropriação do imaginário fundacional construído pela iconografia oitocentista na conjuntura ditatorial de 1972, indo além da dicotomia entre resistência ou colaboração.
Duas perguntas guiam as análises do corpus de imagens da exposição da Biblioteca Nacional de 1972. Na vertente estética, investiga-se quais seriam os possíveis significados da prevalência de uma visualidade fundacional canônica, estilisticamente ligada à tradição da arte acadêmica (retrato, pintura histórica, paisagem, símbolos pátrios) transplantada para o Brasil no século XIX, na esteira do processo de formação da nação. No campo historiográfico, indaga-se se essa retomada da visualidade patriótica ainda estaria pautada por uma concepção de história historizante oitocentista, de viés nacionalista e laudatório, animada pela crença no progresso como destino incontornável.
A hipótese inicial é que a exposição realizava uma recuperação visual não só de fatos, vultos, paisagens e insígnias da independência, mas também de valores estéticos e históricos do século XIX voltados a superar o arcaísmo colonial e inserir a nação na chamada “civilização”. A retomada do espelho oitocentista, traçando uma secular linhagem monumentalizante, tentava legitimar a modernização autoritária do “milagre” econômico de inícios dos anos 1970 como corolário do projeto nacional.
Fernando Seliprandy é doutor e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo, com pesquisa acerca das relações entre imagens, memória e história nas representações das ditaduras do Cone Sul. Autor do livro A luta armada no cinema: ficção, documentário, memória (São Paulo: Intermeios, 2015), entre outros artigos acadêmicos em revistas nacionais e internacionais. Foi professor substituto no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (2019-2020); visiting student no Centro di studi interdisciplinare su memorie e traumi culturali (TraMe), Universidade de Bolonha, Itália (out. 2016 a mar. 2017); e passou temporada de pesquisa no Centro de Investigación y Nuevos Estudios sobre Cine (CIyNE), Universidade de Buenos Aires, Argentina (set. a nov. 2014). É membro do grupo de pesquisa CNPq “História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação”.
Currículo Latter de Fernando Seliprandy: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4771337P3
Perfil em Academia.edu: https://unicamp.academia.edu/FernandoSeliprandy