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Perfil | Denilson Botelho investiga a história e os significados da biblioteca do escritor Lima Barreto
Denilson Botelho, pesquisador do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional.
O projeto de pesquisa intitulado “Era uma vez uma biblioteca: o que os livros de Lima Barreto revelam?” é desenvolvido por Denilson Botelho no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional. O ponto de partida desta investigação é o inventário manuscrito da biblioteca do escritor, que integra o Arquivo Lima Barreto, localizado na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.
Uma coleção de livros possui diversos significados. É um inventário dos interesses do colecionador e corresponde também, em alguma medida, à sua formação intelectual. Afinal, remete a leituras que contribuíram para formar sua visão de mundo, influenciando escolhas, decisões, atitudes e caminhos percorridos. Esta pesquisa tem por objetivo investigar as relações entre uma biblioteca e a atuação do seu proprietário, cujo falecimento completou cem anos em 2022.
Trata-se de uma biblioteca formada por um escritor negro, que viveu no subúrbio do Rio de Janeiro das primeiras décadas republicanas. Num tempo em que ser alfabetizado era muito mais um privilégio do que um direito, perscrutar os significados dos livros acumulados por um descendente de escravos no Brasil do pós-abolição pode ser bastante esclarecedor sobre o seu universo de leituras. Coloca-se então o desafio de compreender a natureza da influência que essa biblioteca exerceu sobre Lima Barreto e sua trajetória pessoal, política e intelectual. Em que medida essas leituras estão relacionadas com a sua concepção de literatura, arte e cultura? De que modo os seus livros influenciaram a sua atuação e o seu perfil de literato militante e engajado no debate político das grandes questões da nossa república recém-inaugurada? Eis algumas das indagações que norteiam o trabalho.
A razão pela qual se partiu do inventário da biblioteca e não dos livros que a compunham deve-se ao seu desaparecimento. Contudo, o inventário oferece uma oportunidade singular de conhecer melhor o perfil do leitor Lima Barreto e, através deste documento, examinar os exemplares acomodados no seu quarto na “Vila Quilombo” – modo pelo qual denominava jocosamente a sua casa no subúrbio carioca -, para investigar os livros que possivelmente leu e colecionou, dimensionando seus significados para a história do Brasil das primeiras décadas do século XX.
Denilson Botelho é carioca e cresceu no bairro da Saúde, local marcado pela presença de escravos e pela Revolta da Vacina ocorrida em 1904. Encontrou na obra de Lima Barreto um guia para compreender a Primeira República. Fez do escritor carioca o eixo das pesquisas que desenvolveu no mestrado e no doutorado em História Social na Unicamp. Seu livro “A pátria que quisera ter era um mito: o Rio de Janeiro e a militância literária de Lima Barreto” conquistou o 1º lugar no Prêmio Carioca de Pesquisa e integra a Coleção Biblioteca Carioca, da Secretaria Municipal das Culturas. Atualmente é professor do Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo, onde leciona História do Brasil República na Graduação e orienta pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em História.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5146687526834461
Artigo: Lima Barreto entre “a parceria do elogio mútuo” e a crítica literária: história e literatura no Brasil da Primeira República (https://doi.org/10.14393/artc-v23-n42-2021-61854)