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O Cruzeiro do Sul – Publicação do Serviço Especial da F.E.B.
1ª edição do periódico O cruzeiro do Sul
Lançado em 3 de janeiro de 1945, na frente de combate brasileira na Itália, o tabloide O Cruzeiro do Sul foi uma das publicações periódicas produzidas pela Força Expedicionária Brasileira, no contexto da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial – outras, menos sistematizadas e com rigores menos oficiais, foram Zé Carioca, A Voz do Petrecho, O Camelo, Só Penas, e E a Cobra Fumou!, editadas por divisões distintas.
Produzido nas dependências do Quartel-General da Divisão Expedicionária e dirigido pelo cabo José Cesar Borba, O Cruzeiro do Sul era feito “por soldados e para os soldados que lutam na linha de frente”, contando com a colaboração de expedicionários de diversos postos e patentes. Impresso em Florença com tiragem estimada em 5 mil exemplares por edição, circulava duas vezes por semana, às quartas ou quintas-feiras e aos domingos. Ao todo, chegou a ter 34 edições, sendo a derradeira, a especial da vitória aliada, datada de 31 de maio de 1945.
O Cruzeiro do Sul vinha com notícias gerais sobre o Brasil e o mundo, com foco principal nos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial – nesse aspecto, também artigos procuravam dar alento e orientação política aos comandados da FEB. Suas principais seções eram “O que vai pelo Brasil”, “A guerra em 4 frentes”, “Noticiário internacional”, “Cartas do Brasil” e “Honrando as tradições” (de citações de combate, com o registro de condecorações e de ações e acontecimentos relevantes), além de proclamações de chefes militares nacionais e estrangeiros, de notícias específicas de unidades de armas e serviços e de narrações de combates, que não necessariamente apareciam em seções. Nem por isso o jornal deixava de ter um lado mais ameno: publicava também pequenos poemas (que podiam tanto ser de expedicionários quanto de Konstantin Simonov ou Rudyard Kipling) e anedotas de pracinhas. Grandes feitos esportivos em terras brasileiras também não ficavam de fora.
Os principais colaboradores d’O Cruzeiro do Sul foram os majores Reynaldo Santana, Souza Júnior e Nelson R. de Carvalho; os capitães Tácito Reis de Freitas, Edynardo Rodrigues Weyne, Antorildo Silveira, Everaldo José da Silva e Garance; o tenente- coronel Almeida Freitas; entre outros, incluindo o futuro historiador, então soldado, Jacob Gorender. Mas nem todos os que assinavam o conteúdo do jornal eram militares: em diversas ocasiões foram veiculados textos de importantes correspondentes de guerra nacionais, como Joel Silveira (d’O Jornal), Rubem Braga (do Diário Carioca), Egydio Squeff (d’O Globo), Raul Brandão (do Correio da Manhã), Francis Hallawell (da BBC de Londres). Ademais, José Maria Homem de Montes, pracinha que era estudante da Faculdade de Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, líder estudantil e jornalista, também colaborou com O Cruzeiro do Sul, mesmo sendo um dos editores de outro órgão expedicionário, o Zé Carioca.
Como o jornal, assim como outras publicações mantidas por pracinhas, circulou apenas na Itália, gerando dificuldade de se encontrar exemplares d’O Cruzeiro do Sul em arquivos brasileiros, em 2011, a Biblioteca do Exército e a Léo Christiano Editorial, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, lançaram a coleção completa do tabloide da FEB, em edição única e fac-similar, com índices e bibliografia – uma cópia da coleção particular originalmente pertencente ao general João Batista Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária, e passada a seu neto, o coronel Roberto Mascarenhas. Noticiando o lançamento de tal publicação, o jornal Folha de S. Paulo comentou o seguinte sobre O Cruzeiro do Sul e a imprensa de guerra brasileira naquele contexto: A FEB era basicamente nucleada em uma divisão de infantaria de cerca de 15 mil homens, criada no formato de uma unidade deste tipo do Exército americano, no qual ela foi integrada e atuou na Itália em 1944/45. Quase 26 mil brasileiros foram à Itália, incluindo um esquadrão de aviões de caça, outro de aviões de ligação/observação e um destacamento de 67 enfermeiras. (...) O fato de (O Cruzeiro do Sul) ser ligado ao comando da divisão significa que, compreensivelmente, certos temas delicados não eram tratados. Em compensação, várias subunidades produziram seus próprios jornais (…). Mais raros de achar, são até mais interessantes, pois neles os soldados tinham um pouco mais de licença para desabafar. “E a Cobra Fumou!” era editado no paulista 6º Regimento e chegou a criticar “O Cruzeiro do Sul” por não dar o devido destaque aos feitos da unidade. O distintivo da FEB era uma cobra fumando, pois, segundo a interpretação mais comum dos céticos, era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil mandar tropas para a Europa.
(Bruno Brasil – CPS)