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Mortimer Jerome Adler, filósofo norte-americano e educador
Artigo publicado no Jornal dos Sports (22-05-1983)
Mortimer J. Adler morreu tranqüilamente em sua casa na Califórnia em 28 de junho de 2001, deixando uma marca indelével na filosofia da educação do século XX. Sua influência é notável em vários aspectos da vida intelectual americana. Apesar de sua reputação como elitista, argumentou veementemente pela democratização das escolas públicas. Preconizando um rigoroso movimento humanista, antipositivista e antipragmatista, enquanto defensor da metafísica e da democracia, no contexto da tradição da filosofia perene, foi pioneiro em compreender que algumas grandes ideias formam o núcleo do pensamento da civilização ocidental e que estas são as chaves para a compreensão dos “grandes livros”, obras fundamentais que há muitos séculos vêm nutrindo o espírito humano.
Para Adler a leitura de Tucídides, Sófocles, Platão, Aristóteles, Cícero, Sêneca, Euclides, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Copérnico, Leibniz, a Bíblia, Homero, Dante, Shakespeare, Cervantes, John Milton, Jane Austen, Dickens, Tolstói, Dostoiévski, T.S. Eliot, Hesse, Joyce, Proust e tantos outros autores canônicos, é um ato de cidadania. O polímata norte-americano propunha que o conjunto dos clássicos fizesse parte da consciência comum das pessoas, para uma pedagogia democrática, pela própria condição que esse tipo de leitura oferecia em termos de fortalecimento, refundação e reformulação do pensamento humano. Um “clássico”, no sentido usado por ele, não é sempre uma obra de literatura. É um livro que deu origem aos termos, conceitos e valores mobilizados na vida diária e nos debates públicos. É uma obra indispensável para compreendermos a nós mesmos, nossa sociedade e o mundo em que vivemos.
Utilizando o conceito de “grande conversação” para explicar o que viria a ser a aventura intelectual, por meio da leitura dos clássicos universais da literatura, filosofia, história, teatro e outras áreas do conhecimento, Adler entendia a melhor educação como o estudo cuidadoso dos “grandes livros” – um estudo no qual os alunos mais experientes ajudam os menos experientes, incluindo os iniciantes. Para ele, somente através do contato com a obra dos autores que construíram o patrimônio cultural do Ocidente é possível alcançar o que denominou "compreensão ampla de ideias e valores".
Nos EUA o movimento dos “grandes livros” se tornou uma causa popular. O alcance do projeto foi amplificado a partir da publicação da coleção "Great Books", da Encyclopaedia Britannica. Conjunto de textos editados por Adler que compunham um corpus literário que considerou centrais à formação humanística do pensamento ocidental moderno.
Em 1982, em reação à crise observada no ensino público americano, Adler e um grupo de outros educadores lançaram o manifesto educacional Paideia. A proposta do movimento era que desde o ensino fundamental os alunos fossem habituados à leitura de grandes obras. Vislumbravam a mesma qualidade de ensino para todos, ideia que ficou expressa no lema: “A melhor educação para os melhores é a melhor educação para todos”.
O manifesto Paideia teve repercussões no Brasil. O professor e acadêmico, Arnaldo Niskier, em artigo publicado no Jornal dos Sports (22-05-1983, http://memoria.bn.br/DocReader/112518_05/17714, chegou a afirmar que a proposta do grupo poderia servir de pretexto para os educadores do país repensarem a realidade educacional brasileira.
A "Proposta Paideia" apareceu em português numa tradução de Marília Lohmann Couri, publicada pela editora da Unb, em 1984. Antônio Paim teceu alguns comentários sobre o livro:
http://memoria.bn.br/DocReader/098116x/12192
Sobre Mortimer Adler (em inglês), no Latin American Daily Post (RJ):
http://memoria.bn.br/DocReader/040380/2934
(Daniel Fernandes, Gabinete)