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História do Livro: o Códice e o Pergaminho
A imagem que ilustra o texto é da Bíblia latina em velino, com folhas extremamente finas, o que torna difícil escrever sobre elas
Ao longo da Antiguidade ocidental, assim como no início da Era Cristã, o papiro continuou a ser o material mais utilizado para a escrita, com várias folhas coladas e enroladas para formar um volume.
Os primeiros séculos de nossa era viram acontecer duas importantes mudanças: a adoção do pergaminho, feito de peles de animais, como suporte (superfície) para a escrita, e a substituição do rolo pelo códice (do latim “codex”, bloco de madeira), que deu ao livro o formato mais conhecido em nossos dias: folhas coladas ou costuradas em cadernos, guarnecidas de capas mais resistentes.
A mudança de formato aconteceu gradualmente entre os séculos I e V de nossa era, acompanhando a crise nas estruturas do Império Romano, que vinha causando uma diminuição no número de pessoas letradas. Ao mesmo tempo, o Cristianismo se fortalecia. O estabelecimento de uma cultura escrita em muito se deveu à Igreja Cristã, à qual eram ligados praticamente todos os homens de estudo.
Um dos marcos da cultura cristã e também da história do livro é a publicação da Vulgata, a Bíblia latina produzida por Jerônimo (347 – 420) entre o final do século IV e o início do século V de nossa era. O autor deixou escritos que fornecem preciosas informações sobre a produção dos livros na época, além de questões como a da autoria, autenticidade, edição e difusão das obras. Foi canonizado em 1767 e, não à toa, tornou-se o padroeiro dos bibliotecários, arquivistas e tradutores.
Para Jerônimo e outros estudiosos da época, o formato códice apresentava muitas vantagens em relação ao rolo: ocupava menos lugar nas bibliotecas, tinha maior capacidade de armazenamento de texto e era mais legível. Além disso, o novo formato facilitava o trabalho dos tradutores e copistas, pois tornava possível a paginação, os índices, o estabelecimento de concordâncias e a comparação entre trechos de diferentes exemplares. A aceitação foi tão grande que, a partir do século II, todos os manuscritos da Bíblia encontrados são códices, bem como a quase totalidade de textos bíblicos e de matéria religiosa dos séculos II-IV.
Nessa época, a maior parte dos livros era de papiro -- um material frágil, que se rasgava ou se soltava facilmente das amarras e cuja produção se restringia a lugares distantes, como o Egito e a Ásia Menor. Era necessário encontrar um substituto, e este viria a ser o pergaminho, assim chamado como referência a Pérgamo, uma cidade grega localizada na antiga Turquia. Ali, por volta do século II a. C., existiu uma grande biblioteca, bem como um centro de produção do suporte de escrita obtido a partir das peles de certos animais.
O pergaminho era geralmente feito da pele de vacas, ovelhas e cabras – estas foram empregadas principalmente na Itália –, mas outros animais foram ocasionalmente usados. O preparo era feito em etapas nas quais a pele era sucessivamente mergulhada em água corrente, raspada, mergulhada numa solução de óxido de cálcio, lavada, esticada numa armação, raspada com uma ferramenta em forma de foice e, por fim, esfregada com pedra-pomes, pastas à base de cálcio e outras substâncias. Esse processo resultava num produto resistente e durável, fosse qual fosse a sua espessura: desde o velino, obtido a partir de animais recém-nascidos e extremamente delicado, até os pergaminhos mais grossos usados como encadernação ou para a confecção de mapas e diplomas.
Apesar de todas as vantagens sobre o papiro – que continuou a ser usado até os séculos VII e início do VIII --, o pergaminho era um material caro, o que obrigava os escribas e estudiosos a se valerem de artifícios como a reutilização. Daí resultaram os chamados palimpsestos, pergaminhos em que a escrita original foi apagada para receber um novo registro.