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Há 183 anos, o reinado da Rainha Vitória começava
Carta da rainha Vitória do presidente da República do Paraguai.
Em 20 de junho de 1837, aos 18 anos, Alexandrina Victoria foi coroada rainha do Reino Unido, tornando-se a rainha Vitória. Sobrinha de seu antecessor, o rei Guilherme IV, a improvável sucessora ao trono acabou se tornando detentora do segundo reinado mais longo da história daquela nação, presenciando o desenvolvimento econômico e militar do seu reino em um período de intensas transformações sociais. Seu reinado se encerraria apenas em 1901, e o período ficaria conhecido como “era vitoriana” em sua homenagem.
Mas nem tudo foram flores na era de Vitória: na colônia inglesa mais antiga, a Irlanda, a exploração desmedida dos grandes proprietários de terra causou a Grande Fome (1845-49), quando mais de 1 milhão de irlandeses morreram e outro milhão emigrou para a Inglaterra buscando melhores condições de vida; com a morte de seu marido, o príncipe Alberto, em dezembro de 1861, a rainha passaria a usar roupas preto em forma de luto pelo resto da sua vida e, ao optar por evitar aparições públicas pelo trauma causado pela morte do marido, viu crescer um movimento republicano em seu reino. Internamente, a rainha ainda assistiu à ascensão e queda do movimento cartista – que demandava participação política para os trabalhadores –, a criação da principal central sindical britânica em 1868, a ampliação a conta-gotas do direito ao voto (masculino) naquela nação e, já ao fim de sua vida, a fundação do Partido Trabalhista em 1900, que serviria para contrapor o predomínio das elites representadas nos partidos Liberal e Conservador.
Externamente, a era vitoriana foi aquela onde a Grã-Bretanha ampliou enormemente o seu império, invadindo e ocupando terras nos quatro cantos do globo terrestre, fundando o que Ernest Jones, integrante do movimento cartista, chamou à época de império “onde o sol nunca se punha e onde o sangue nunca secava”. O auge dessa expansão e da consagração da relação orgânica entre a monarquia britânica e o seu império seria a coroação da rainha Vitória como imperatriz da Índia em 1876.
Foi também durante o seu longo reinado em que foi inventada a tradição das procissões públicas, principalmente a partir da comemoração dos seus jubileus de ouro (50 anos de reinado) e de diamante (60 anos de reinado), ambas servindo para estimular o sentimento patriótico dos britânicos. O jubileu de diamante, realizado em 1897, coincidiu com a criação do Festival do Império Britânico, onde ministros e governantes de todas as colônias com governo próprio foram convidados a participarem das comemorações.
A rainha Vitória morreria em 1901, pondo fim à dinastia de Hanover no Reino Unido. Seu filho e herdeiro, Eduardo VII, herdou do pai a descendência da nova dinastia, a Saxe-Coburgo-Gota, de origem alemã. Em 1917, no auge da I Guerra Mundial e devido ao sentimento antialemão gerado pelo conflito bélico, Jorge V, filho de Eduardo VII, opta por alterar o nome da dinastia para Windsor, nome pelo qual é conhecida até hoje a dinastia britânica, cuja representante atual é Elizabeth II.
A rainha Vitória teve certa participação na história do Brasil: a Biblioteca Nacional possui dois documentos da rainha. O documento aqui referido ( http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1311702/mss1311702.pdf) se trata de numa carta da rainha escrita em 1858 ao presidente da República do Paraguai, Carlos Antonio López, atestando a confiabilidade de William Dougall Christie, representante do governo inglês no Paraguai. Christie fora despachado em uma missão especial para o Paraguai, e em 1859 se tornou enviado extraordinário e embaixador britânico no Brasil. Alguns anos mais tarde foi o protagonista da chamada “Questão Christie”, um impasse diplomático entre o Brasil e o Reino Unido, fruto de diversos incidentes ocorridos entre 1862 e 1865: primeiro o naufrágio de um navio inglês que teve sua carga saqueada e sua tripulação não encontrada; depois, a ocorrência de altercações entre autoridades locais brasileiras e três marinheiros ingleses, com a posterior prisão dos últimos; e por fim, o confisco de cinco navios mercantes brasileiros determinados por Christie como reparação à carga saqueada do navio inglês naufragado. Após a mediação do impasse ter ficaoa a cargo da arbitragem do rei Leopoldo I, o Brasil foi declarado vencedor do impasse e a rainha Vitória realizou um pedido de desculpas oficiais ao governo brasileiro, em nome de sua nação, ao que Christie se retirou do serviço diplomático e foi criticado pelo parlamento britânico pela sua má condução dos assuntos com o Brasil.
(Thiago Romão de Alencar)