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Gilbert Keith Chesterton, escritor e crítico de arte inglês
Por que ler Cherteston hoje
Hoje, há 84 anos, morria Chesterton, tradicional pensador católico, frasista incorrigível, um dos maiores escritores do século XX, e um humorista fora de série. Foi uma celebridade, dentro e fora da Inglaterra. Em toda uma longa e rica vida intelectual, produziu dezenas de livros, artigos, críticas, comentários nas mais diversas áreas. Enfrentou quase todos os gêneros literários, pois foi poeta, ensaísta, crítico, jornalista, historiador, romancista e conferencista. Pensador forte e audaz, era capaz de atrair às suas crenças incrédulos rebeldes e cultos.
Converteu-se ao catolicismo em 1922, tornando-se um incansável defensor da Igreja, através de livros e das tribunas. Em seus estudos literários, examinou com seriedade, as figuras de Chaucer, Browning, Dickens, Tolstói e Shaw, com quem terçou lanças em memoráveis polêmicas. A vida era, para ele, motivo de discussão. Não era uma experiência para ser reproduzida ou representada. Foi, sobretudo, um argumentador, que procurava nos paradoxos, desafiar a inteligência do leitor. Poder-se-ia aplicar a Chesterton o mais ordinário paradoxo: que ele está muito mais vivo, porque já morreu. Há muita verdade nisso. Retorna à memória o formoso trecho que, em Marcel Proust, termina o relato da morte de Bergotte: “Enterraram-no, mas, durante toda a noite da vigília fúnebre, seus livros, dispostos de três em três, nas vitrines iluminadas, velavam como anjos de asas abertas e pareciam, para aquele que não mais vivia, o símbolo de sua ressurreição”. Sabia convencer-nos que o mundo e a vida são paradoxais, porque, no fundo, sempre há o mistério.
Chesterton gozou de grande popularidade junto aos leitores e escritores brasileiros entre 1930 e 1960, quando aqui foram traduzidas as aventuras detetivescas do padre Brown, detetive anticonvencional, cuja única arma eficiente de trabalho é a razão. Foram Genolino e Gilberto Amado quem aqui o "descobriram". Genolino citava-o quase diariamente em crônicas na imprensa paulistana entre 1928 e 30, quando o autor do "Homem Eterno", ainda não possuía um público brasileiro.
Chesterton também fazia parte daquela coleção de autores que Gilberto Freyre divulgava, com orgulho de pioneiro, para seus amigos brasileiros. Leitor atento de seus ensaios e do seu mais conhecido "Ortodoxia", Freyre recebeu de Chesterton preciosas sugestões de estudo ou, ao menos, fortes estímulos para seguir suas próprias tendências. O escritor Gustavo Corção encontrou em Chesterton o escritor conatural à sua alma. Seu livro "Três Alqueires e uma Vaca", pretendia ser “uma biografia de Chesterton à maneira de Chesterton.” Falando do ensaísta inglês, escreveu: "Não dei pelo seu desaparecimento, mas senti com a impetuosa evidência de uma janela aberta o seu aparecimento."
(Daniel Fernandes, Gabinete)