Notícias
Escritora moçambicana vence o Prêmio Camões
Escritora Paulina Chiziane, vencedora do Prêmio Camões. Foto: https://bantumen.com
A escritora moçambicana Paulina Chiziane é a vencedora do Prêmio Camões 2021, eleita esta tarde por um júri composto por seis intelectuais conhecedores da língua de Camões - Jorge Alves de Lima e Raul Cesar Gouveia Fernandes, pela parte brasileira; Carlos Mendes de Souza, Ana Maria Martinho, pela parte portuguesa; o escritor Tony Tcheka (Guiné-Bissau) e Teresa Manjate (Moçambique) pelos países africanos de língua portuguesa.
O júri destacou a vasta produção e recepção critica de Paulina, bem como o reconhecimento acadêmico e institucional da sua obra. Referiu também a importância que dedica nos seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana e sublinhou seu trabalho recente de aproximação aos jovens, nomeadamente na construção de pontes entre a literatura e outras artes. Traduzida em muitos países, ela é hoje uma das vozes da ficção africana mais conhecida internacionalmente, tendo recebido vários prêmios e condecorações.
Paulina receberá um prêmio de 100 mil euros, divididos entre os governos do Brasil e de Portugal. A primeira vez que um escritor africano venceu o Prêmio foi em 1991, com o poeta moçambicano José Craveirinha. Seis anos mais tarde, foi a vez de Pepetela, e Luandino Vieira, em 2006, ambos de Angola – Luandino Vieira recusou recebê-lo. Em 2009, venceu o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira e, em 2013, o romancista moçambicano Mia Couto. Em 2020, o escritor Germano Almeida, de Cabo Verde, venceu a 30ª edição.
HISTÓRIA
Paulina cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem ter concluído o curso.
Participou ativamente da cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou durante a juventude. A escritora declarou, numa entrevista, ter apreendido a arte da militância na Frelimo. Deixou, todavia, de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as diretrizes políticas do partido Frelimo pós-independência, sobretudo em termos de políticas filo-ocidentais e ambivalências ideológicas internas do partido, quer pelo que diz respeito às políticas de mono e poligamia, quer pelas posições de economia política marxista-leninista, ou ainda pelo que via como suas hipocrisias em relação à liberdade econômica da mulher. Foi a primeira mulher que publicou um romance em Moçambique. Iniciou a sua atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. As suas escritas vêm gerando discussões polêmicas sobre assuntos sociais, tal como a prática de poligamia no país. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento (1990), a autora discute a poligamia no sul de Moçambique durante o período colonial. Devido à sua participação ativa nas políticas da Frelimo, a sua narrativa reflete o mal-estar social de um país devastado pela guerra de libertação e os conflitos civis que aconteceram após a independência.
Paulina vive e trabalha na Zambézia. O seu romance Niketche: Uma História de Poligamia ganhou o Prémio José Craveirinha em 2003.[4]
Em 2016, anunciou que decidiu abandonar a escrita porque está cansada das lutas travadas ao longo da sua carreira.
OBRAS:
- Balada de Amor ao Vento:
- 1.ª edição, 1990.
- Lisboa: Caminho, 2003.
- Ventos do Apocalipse:
- Maputo: edição do autor, 1993.
- Lisboa: Caminho, 1999.
- O Sétimo Juramento. Lisboa: Caminho, 2000.
- Niketche: Uma História de Poligamia:
- Lisboa: Caminho, 2002.
- São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
- Maputo: Ndjira, 2009, 6ª edição.
- As Andorinhas, 2009 1ª Edição, Indico Editores
- O Alegre Canto da Perdiz. Lisboa: Caminho, 2008
- Na mão de Deus, 2013
- Por Quem Vibram os Tambores do Além, 2013, com Rasta Pita
- Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento, 2015.
- O Canto dos Escravizados, 2017.