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Dia Mundial sem tabaco - De onde vem a palavra “nicotina”?
Dia Mundial sem tabaco
O termo tabaco designa tanto a planta quanto o preparado derivado da mesma, obtido através de processos realizados em suas folhas após dessecadas e manufaturadas. A nicotina, droga que constitui o princípio ativo do tabaco, está presente nas duas fases de componentes da fumaça do cigarro: a forma gasosa onde está acompanhada de várias outras substâncias e as particulada onde se encontra aliada ao alcatrão, que é um composto da queima de substâncias derivadas do tabaco.
O termo nicotina homenageia o diplomata francês Jean Nicot de Villemain(1530-1600,1604), responsável pela difusão do hábito de fumar na França, pois consta que, ainda no século XVI, com propósitos curativos para as dores de cabeça de Catarina de Médicis, sugeriu o uso de folhas de tabaco . É encontrada no cigarro, charuto, cigarro de palha, enfim, em todos os derivados do tabaco e é esta substância que, por ser uma droga psicoativa, pode provocar dependência tanto quanto a cocaína, heroína ou o álcool. Essa dependência vai levar a doenças crônicas e até a morte.
Fumar deriva do latim fumare, queimar, fazer fumaça.
Cigarro, do espanhol cigarro. Quando ainda não era industrializada, a porção de fumo envolta em palha de milho ou mesmo num pedaço de papel lembrava o formato de uma cigarra.
Fumar era um hábito predominantemente masculino. O homem fumante parecia ser envolvido por uma aura de charme e sedução e poder. A mulher fumando era ainda associada a uma imagem de vulgaridade. Entretanto, os valores que embasavam esse rótulo de imoralidade transformam-se e passam a compor o conjunto de elementos na luta feminina pela igualdade entre homens e mulheres. O vício passou a ser uma virtude a ser alcançada. A partir da década de 1920 e da conquista do sufrágio feminino nos Estados Unidos o cigarro ganhava o poder de gerar uma aura de liberdade e autonomia, simbolizando a independência feminina.
A indústria investe nesse nicho e passa a voltar seu foco também para a liberação do ato de fumar em público para as mulheres, o que ainda representava um tabu. A propaganda age, então, com toda a sua força. O cigarro Lucky Strike, valendo-se do padrão de silhueta fina adotado pelas mulheres, lança o slogan “Reach for Lucky instead of a sweet” (“Pegue um Lucky em vez de um doce”), o que proporcionou um aumento de 200% em suas vendas. A fábrica Philip Morris, que tem origem na Inglaterra, estabelece um braço em Nova York em 1902 com a finalidade de vender algumas de suas marcas. Entre estas, figura o cigarro Malboro, lançado com vistas ao público feminino associado, através de frase de efeito e da imagem da atriz Mae West, à leveza e elegância.
Na década de 1950, a indústria implanta a novidade do filtro no cigarro como uma barreira física contra os malefícios do fumo. No Brasil o público fumante aprovou e aderiu a essa novidade.
Os anúncios prosseguiam conectando o cigarro a uma atmosfera de sucesso, sedução e força. A marca Malboro, que havia passado por uma suspensão de sua fabricação por ocasião da Segunda Guerra, volta à carga nos anos 1960, trazendo o famoso “Mundo de Malboro” ostentando a imagem do caubói másculo, poderoso e livre, nesse mundo que poderia facilmente ser alcançado através da chave mágica circunscrita por aquela simples caixinha branca e vermelha com design de linhas limpas.
No Brasil não foi diferente. Os anúncios de cigarros tinham sempre imagens vinculadas a esportes como automobilismo, atividades desportivas aéreas e aquáticas, escalada, motociclismo, entre outros. Havia sempre uma associação com ideias de liberdade, autonomia, sedução, sucesso e conquistas.
O cigarro parece ainda compor no imaginário de alguns jovens uma espécie de mecanismo de passagem para a idade adulta; o consumo por adolescentes é bem significativo, mesmo em países onde decresce o consumo por adultos, denotando essa espécie de ritual de saída da infância para um status de maior autonomia.
Assim, o fumo parece ter conquistado mais adeptos por razões psicológicas do que propriamente por seus efeitos físicos.
Paralelamente, a luta da Ciência contra o fumo vem sendo travada também há tempo.
O Brasil apresenta dois aspectos antagônicos no que diz respeito, de forma geral, ao tabagismo: ao mesmo tempo em que ocupa posição de destaque na luta contra o fumo, é o segundo maior produtor mundial , sendo o estado do Rio Grande do Sul o maior produtor dessa planta, e figura ainda como seu principal exportador.
Do lado da Ciência, ressaltamos aqui o empenho da Organização Mundial de Saúde (OMS) assim como o destaque do Brasil na luta pela conscientização quanto aos prejuízos causados pelo fumo. Em relação ao viés da economia, sofremos os fatores econômicos estampados no papel relevante do Brasil na produção e exportação de tabaco. Temos aí claramente a posição ambígua do país. Pesando ainda contra o lado da Saúde, um fator a ser considerado é o crescimento do mercado ilegal de cigarros que aqui chegam vindos dos países vizinhos.
O tabagismo é a doença causada pelo fumo e se constitui numa causa importante de mortes evitáveis pois pode desencadear doenças cardiovasculares, câncer e doenças pulmonares.
Em 1970 a questão surge como tema de reuniões em nível mundial. A OMS teria preparado o relatório O hábito de fumar e a saúde conseguindo aprovação para instituir mecanismos de controle sobre o tabagismo. Mas em tempos de liberalismo econômico não era possível que o discurso científico se tornasse hegemônico.
A fabricação de cigarros em nosso país continua bastante desenvolvida. Exemplo disso é a instalação em 2018 de nova fábrica em Santa Cruz do Sul (RS) pela Japan Tobacco International, responsável pelas marcas Camel e Winston. Essa unidade é capaz de produzir 4 bilhões de cigarros por ano, construída com investimento próprio de R$ 80 milhões.
No terreno jurídico, no Brasil, de 1964 a 1970, várias iniciativas que objetivavam inibir a propaganda relacionada ao fumo, criar impostos, imprimir nas embalagens advertências quanto aos perigos dos cigarros, proibir a venda a menores de 18 anos compuseram pauta no Congresso Nacional, mas foram arquivados. Em 1980, o Rio Grande do Sul, maior produtor do país definiu o Programa Estadual de Combate ao Fumo. Como consequência, surgem mobilizações que acabam levando à aprovação da lei 7.488/86 instituindo o dia 29 de agosto como o Dia Nacional de Combate ao Fumo, que teve como tema em 29 de agosto do ano de 2019, Tabaco ou saúde pulmonar – o uso do narguilé.
Em 1996, foi publicada legislação restritiva ao uso e propaganda de cigarros, charutos e cachimbos – os chamados produtos fumígeros - assim como de bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas. Em 2011, fica proibido o fumo em ambientes fechados e toda a propaganda nos pontos de venda foi também vedada, à exceção da exibição das embalagens para venda. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)estabeleceu em 2015, através de resolução, a obrigatoriedade de apresentação de advertências nas embalagens desses produtos de forma que ocupassem 30% da sua parte frontal. Essa medida objetivou que as medidas sanitárias ficassem aparentes quando os maços estivessem em posição de esconder as impactantes mensagens colocadas pelo Ministério da Saúde no verso das mesmas.
O Dia Mundial Sem Tabaco – 31 de maio – foi criado em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. A ideia é expor à sociedade este mal como real problema de saúde pública. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) é o responsável pela divulgação e elaboração do material técnico para subsidiar as comemorações em níveis federal, estadual e municipal. O Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (CEPAD), tendo como um dos objetivos se ocupar dos diversos aspectos relacionados ao abuso e dependência de drogas e à prevenção e tratamentos destas condições, apoia a campanha do Dia Mundial sem Tabaco.
Na imagem apresentada, que compõe o acervo de efêmeros do Setor de Iconografia da Fundação Biblioteca Nacional, vemos um belo exemplo de cromolitografia utilizada em um cartão confeccionado na Companhia Lythographica Ypiranga, em São Paulo, empresa inaugurada em 1901 e que somente encerrou suas atividades no ano de 2014. Nesse cartão estão apresentadas as várias marcas da Fábrica de cigarros de luxo Trapani & Cia, que teve sua sede também em São Paulo. Uma das marcas aí citadas, Pierrot, cedeu seu nome a um prêmio de campeonato esportivo. A taça Pierrot, ofertada por José Venturini, representante da fábrica, foi conquistada em 1917 pelo time São Bento de Sorocaba, abrindo sua galeria de troféus.
A companhia Lythographica Ypiranga enviava para a Biblioteca Nacional, a título de Depósito Legal, exemplares de sua produção. Na referência com link a seguir, pode-se observar uma embalagem dos cigarros Pierrot aqui citados.
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon1...
Como referido em texto anterior, para maiores esclarecimentos a respeito da técnica de cromolitografia convém tomar ciência do estudo minucioso e esclarecedor da Prof. Doutora Helena de Barros. Há um texto de sua autoria no site da Biblioteca Nacional.