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BN DIVULGA Novo Dossiê Digital: O Brasil encontra o extremo oriente: A missão Chinesa (1980)
Houve um tempo, lá pelos idos de 1800 e pouco, em que se disseminou no mundo a ideia de usar trabalhadores chineses e indianos em substituição à mão de obra escravizada africana. Estados Unidos, México, Peru e Cuba adotaram os orientais. No Brasil, houve um debate sobre o assunto que durou décadas. Desde a época de D. João VI, os chineses vinham ao Brasil plantar chá, e se espalharam em nossa sociedade. Do mesmo modo, diversos brasileiros atuaram de forma relevante no Oriente, ajudando a promover importantes trânsitos culturais. Em 1878, o Império enviou uma missão à China para entabular relações diplomáticas e comerciais oficiais com a Dinastia Qing. O relato da viagem de Henrique Lisboa, membro da comitiva brasileira, publicado no livro “A China e os chins”, a história da China, sua realidade e seus pensamentos foram o tema da pesquisa de André da Silva Bueno, professor da UERJ, formado em História pela UFRJ com mestrado na UFF e doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho. André mergulhou durante um ano — 2018 e 2019 — no acervo da Biblioteca Nacional, com uma bolsa do PNAP (Programa de Apoio de Apoio à Pesquisa da Biblioteca Nacional) e elaborou o dossiê O Brasil encontra o extremo oriente: a Missão Chinesa (1880), publicado na BN Digital.
André conta que acompanha a China há muito tempo, através de Confúcio e seus pensamentos profundos. Estudar o país oriental sempre foi um de seus fascínios, afirma. Ao se deparar, nos documentos da Biblioteca Nacional, com a história da primeira missão brasileira à China, e o desejo do império brasileiro de criar um orientalismo, ficou encantado. Ele diz que, apesar de ter encerrado o período da bolsa, continua estudando e escrevendo sobre o assunto, pois ainda tem muito assunto a ser explorado.
Ele afirma ainda que Brasil e China são mais parecidos do que se imagina. “São países que tentaram se construir frente a uma Europa que queria dominar o mundo; o Brasil foi o primeiro país do Ocidente a ter uma colônia chinesa; laranja, soja, arroz e pastel são produtos chineses amplamente comercializados no Brasil”.
O professor relata, em seu dossiê, que, nas discussões sobre a presença dos chineses no Brasil, alguns apoiavam a ideia por entender que eles poderiam representar a transição do trabalho escravizado para o assalariado, sem constituir uma imigração definitiva. Além do baixo custo de contratação, eram tidos como laboriosos e incansáveis. Do outro lado, críticos diziam que a vinda deles seria uma nova forma de escravidão, mascarada por contratos aviltantes e tratamento desumano. Outros se preocupavam com o contágio racial e argumentavam que a constituição do povo brasileiro poderia ser contagiada por hábitos e costumes estranhos, trazidos pelos orientais, e até mesmo com o vício do ópio. A “Questão chinesa” acompanharia nossa história até o final do império. Afinal, a questão foi encerrada com a vinda dos japoneses, que construíram a maior colônia nipônica do mundo no interior de São Paulo. Ao invés de trabalhadores temporários, como era o projeto chinês, os japoneses vieram com famílias inteiras, como colonos.
Em 2013, André foi finalmente conhecer os orientais em sua terra natal e pode constatar a grande mudança pela qual o país passou. “Mas Confúcio ainda está escondido atrás das pessoas nas ruas, no dia a dia do país”.
Confira o dossiê: http://bndigital.bn.gov.br/dossies/o-brasil-encontra-o-extremo-oriente-a-primeira-missao-brasileira-a-china-1880/introducao/