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A festa do Divino
Imagem do fotógrafo Luiz Bartolomeu Calcagno registra os músicos devidamente paramentados para “tirar esmolas” para a Festa do Divino, na paróquia da Abadia de Bom Sucesso em MG em 1875.
A Festa do Divino é uma importante expressão da religiosidade brasileira e está incluída no calendário religioso em todo o mundo. Tem a sua culminância no domingo de Pentecostes, cinquenta dias depois do domingo de Páscoa, que marca a ressurreição de Jesus Cristo. A festa celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e Nossa Senhora. Simboliza a descida do Espírito santo sobre a humanidade. O culto ao Divino Espírito Santo está associado à narrativa bíblica presente no livro de Atos dos Apóstolos, do Novo Testamento. Nessa passagem, os apóstolos, reunidos no dia de Pentecostes, receberam dos céus o Espírito Santo, sob a forma de línguas de fogo, e adquiriram a capacidade de falar em diversas línguas.
Desse modo, as pessoas presentes, provenientes das mais diversas localidades, passaram a entendê-los em sua língua materna e puderam receber as mensagens divinas. Todos aqueles arrependidos dos seus pecados e desejosos da salvação foram, então, batizados e receberam o dom do Espírito Santo, passando a seguir a mensagem dos apóstolos e viver na comunidade de fé. A Festa de Pentecostes fecha o ciclo pascal, quando os discípulos se enchem dos dons do Espírito Santo e saem pelo mundo testemunhando sua fé em Jesus Cristo, criando a comunidade cristã, base do espírito católico.
A criação e difusão do culto ao Divino Espírito Santo são atribuídas ao monge Joaquim de Fiore, no século XII. Segundo sua teoria, baseada nos escritos do Apocalipse, o monge dividiu a história em três Eras, segundo as pessoas da Santíssima Trindade. A Idade do Pai, da criação ao nascimento de Jesus Cristo, a idade do medo e da servidão; a Idade do Filho, correspondendo ao tempo do Novo Testamento, um tempo de obediência e fé; a Idade do Espírito Santo, onde após o confronto apocalíptico entre o bem e o mal, seria instaurado um tempo de fraternidade universal, caridade e liberdade, um tempo de integração entre o homem e o divino. O culto ao Divino teve grande difusão em Portugal, especialmente na corte de D. Diniz e a rainha D. Izabel, no século XII.
Os portugueses trouxeram a festa para o Brasil e aqui se transformou em várias versões regionais, sendo uma das devoções mais antigas do catolicismo popular. As mais famosas são a de Pirinópolis e Paraty. A festa mistura rituais religiosos e profanos porque é uma festa de tradição popular. Os ritos do Divino se iniciam a partir do Domingo de Páscoa. As festas tem duração variada em diferentes regiões, terminando no domingo de pentecostes. Em Paraty dura dez dias e em Pirenópolis quatro semanas. A festa do Divino é concebida através de um trabalho coletivo, mas organizada a partir de um casal de festeiros escolhido anualmente. As procissões saem da casa do festeiro, juntando-se à folia fazendo uma peregrinação com músicos e cantores pelas ruas da cidade, passando pelas casas, levando a bandeira da Promessa, pedindo esmolas para a realização da festa e propagando a fé no Espírito Santo.
No ritual da festa estão as novenas, as folias, a cavalhada (onde ritualmente, os mouros enfrentam os cristãos e depois se confraternizam) a celebração da coroação do Imperador e a solenidade de soltura do preso pelo Imperador, a realização do almoço comunitário, a distribuição de doações aos necessitados e os festejos na praça. A festa é um ritual de renovação da fé. Não à toa, a bandeira do Divino é chamada de bandeira da promessa. O Divino é identificado como o santo da cura, da consolação e da misericórdia. Sua festa instala simbolicamente o império comunitário, que centraliza ritualmente a redistribuição de bens pela comunidade. A Festa do Divino é a celebração da comunidade solidária, do pertencimento pela tradição e a fé.